Flávio Gakko iniciou sua jornada no karatê em 1985, aos 15 anos, levado por um amigo de sua mãe. "Desde criança, sempre gostei de lutas. Brincava com os amigos de sair na mão, às vezes brigava nos campos de futebol, escola etc." Treinou por alguns meses antes de se mudar para São Paulo e, ao retornar em 1987, retomou o karatê de forma definitiva.
Em 1992, já como faixa marrom e instrutor, ele lembra que o cenário era diferente. "A maioria queria se formar faixa preta pra ser professor de karatê. Era um sonho de muitos. Época de batalhas! Não tinha tantas regras como tem hoje. Poucas academias tinham tatame, capacetes, protetores de tórax, coquilha etc." Apesar das dificuldades, continuou no caminho da arte marcial.
A falta de dinheiro foi um dos principais desafios tanto como atleta quanto como professor. "Não tinha dinheiro pra comprar um kimono de qualidade, não tinha dinheiro suficiente para pagar as mensalidades e consequentemente os exames de faixa." Como professor, a realidade não era diferente. "Ganhava muito pouco, eu namorava uma menina e não tinha dinheiro pra levar ela pra sair, dar um presente etc. Minha mãe não via futuro bom pra mim nessa profissão." Mesmo assim, manteve o foco: "Todo mês eu guardava 20 reais, 50 reais na caderneta de poupança, com um só objetivo: construir minha escola de karatê."
Sobre a formação dos alunos, Gakko tem uma postura firme. "Eu não tenho clientes, tenho discípulos. Não estou como professor pra ser cortês e sim pra ensinar karatê." Ele destaca que o ambiente de sua escola é preservado de influências negativas. "Não ensino karatê pra viciado, não ensino karatê pra mau elemento. O meu ambiente é limpo dessas coisas. Não estou professor pela mensalidade e sim por um propósito."
Os resultados de seus alunos refletem essa filosofia. "Já treinei dezenas de atletas que tiveram êxito em campeonatos importantes! Em novembro de 2024 fomos disputar o campeonato Sul-Americano em São Paulo e trouxemos 13 títulos." Ele também menciona sua participação em um evento de MMA em 2023. "Participamos com cinco atletas sem nenhuma experiência de chão e vencemos quatro lutas. Inclusive eu participei desse evento e venci o adversário 17 anos mais novo por nocaute. Em 2023 eu tinha 53 anos!"
A filosofia transmitida para os alunos é clara. "Foco, disciplina, formação do caráter, perseverança, resiliência." Ele reforça que sua própria experiência contribui para ensinar o verdadeiro karatê. "No passado, não fui um bom exemplo pros meus alunos. Sou um cara de pavio curto. Me envolvi em confusão e ensino que esse não é o caminho correto. O karatê não tem atalhos."
Sobre a evolução do esporte nas Olimpíadas, ele se mostra cético. "Eu não acompanho, eu faço o contrário. Nas últimas Olimpíadas o que eu vi foi uma luta onde quem bateu perdeu e quem apanhou venceu."
Para quem deseja iniciar no karatê, ele incentiva, mas com um conselho: "Seja fiel ao seu estilo de karatê. Não traia sua federação!" Quanto ao futuro, ele deixa a resposta em aberto. "Meus planos eu deixo nas mãos de Deus. Ele sabe de todas as coisas."