Ela sonhava em ser advogada, mas a vida a levou para um caminho completamente diferente — e transformador. Foi durante a faculdade de Educação Física que a professora Adenizia Julião conheceu a Ginástica Rítmica, modalidade que viria a se tornar sua vocação e missão de vida. Hoje, coordenadora do projeto de GR da Fundação Municipal de Esportes (Funesp), ela coleciona histórias, títulos e conquistas que mudaram o cenário da modalidade em Mato Grosso do Sul.
A paixão começou ainda sem muita intimidade com o esporte, mas com sede de conhecimento. “No contraturno escolar, iniciei as aulas de Ginástica Rítmica por meio do projeto da Semed, o DEAC, em 2007. Na época, eu ainda não dominava a modalidade, mas isso me motivou a buscar conhecimento”, relembra. Com especialização em Londrina (PR), cursos internacionais e intercâmbios nos maiores clubes do país, ela se tornou a primeira árbitra de GR do estado e segue em constante formação. Ao lado da professora Ana Paula Quissi, participa do curso nacional de formação de técnicos da Confederação Brasileira de Ginástica, com conclusão prevista para janeiro de 2025.
Do zero ao topo
O maior desafio veio em 2010, quando apresentou um projeto de GR à Funesp e iniciou as atividades no Parque Jacques da Luz, nas Moreninhas. “Começamos do zero. No início, eu estava sozinha, mas ao longo de 15 anos fui construindo uma equipe sólida”, conta. A dedicação foi tanta que deixou a escola onde lecionava para se dedicar integralmente ao novo projeto.
A semente plantada logo deu frutos: já no primeiro ano, a equipe participou de competições como os Jogos Escolares e o Torneio Nacional. Desde então, a professora não parou de expandir a modalidade. Levou cursos e oficinas para cidades como Fátima do Sul, Naviraí, Cassilândia e Chapadão do Sul, fomentando a criação de núcleos locais. “Hoje, professores do interior vêm até nossa base para aprender e levar esse conhecimento às suas cidades. Isso é resultado de um trabalho contínuo de massificação da GR no estado”, afirma.
Rotina intensa e conquistas
Coordenar a Ginástica Rítmica da Funesp é uma tarefa que exige organização, paixão e dedicação. Atualmente, dois polos atendem mais de 300 meninas — um no Parque Jacques da Luz e outro no Ginásio Guanandizão — com uma vasta lista de espera. O sonho, porém, é ter um local próprio para a modalidade. Além das aulas, a equipe participa de torneios locais e nacionais, colabora com a Federação de Ginástica e ministra cursos por todo o estado.
Para fortalecer a estrutura, foi criada a *ssociação Desportiva de Ginástica Rítmica de Mato Grosso do Sul (ADGIMS), responsável por captar recursos e garantir equipamentos de alto nível. “Temos materiais importados e tapetes oficiais, que colocam nossas atletas em condições iguais às das melhores equipes do Brasil”, destaca.
Avanço no estado e formação de cidadãs
O número de cidades oferecendo a modalidade só cresce: são mais de 15 municípios com projetos ativos, reflexo direto do apoio técnico e pedagógico da equipe da capital. A GR também está presente nas escolas da rede pública, tanto por meio do Prodesc (Fundesporte) quanto do Deac (Semed), ampliando o acesso e revelando talentos.
Para a coordenadora, o impacto vai muito além das quadras. “A ginástica ensina valores que as crianças levam para a vida. Disciplina, concentração, respeito e autoestima são só alguns dos benefícios. O acesso gratuito é uma forma de democratizar o esporte e transformar realidades”, reforça.
Talentos em ascensão
O projeto já revelou diversas promessas. Entre elas, Valentina da Mata, vice-campeã do Torneio Regional em Cuiabá, e Maria Eduarda Fernandes, ambas com apenas 10 anos. Também se destacam as atletas Emanuelle da Mata, Vitória Lucia Souza e Sara Gonçalves, classificadas para a etapa nacional dos Jogos da Juventude, em Minas Gerais.
Um dos maiores orgulhos da técnica, porém, vai além das medalhas: sua ex-atleta Ana Paula Quissi, hoje colega de trabalho, árbitra nacional e treinadora. “Ela começou comigo aos 8 anos. Hoje, somos parceiras de projeto. E já temos outra ex-atleta, Eduarda Nantes, cursando Educação Física e atuando como monitora. São histórias que mostram que não formamos só atletas, mas pessoas”, emociona-se.
Parcerias e futuro promissor
O apoio da Funesp tem sido decisivo para o crescimento da modalidade, oferecendo recursos humanos, transporte e suporte logístico. A visibilidade do projeto da capital tem inspirado outros municípios a replicarem o modelo. A coordenadora acredita que a tendência é de crescimento contínuo. “A GR é encantadora e de fácil aplicação. A cada ano, mais prefeituras se interessam. O desafio é levar a modalidade ao maior número de crianças e professores”.
Com uma equipe técnica cada vez mais capacitada e uma estrutura consolidada, o projeto segue como referência nacional. E tudo começou com uma paixão descoberta por acaso, transformada em missão. “A ginástica mudou minha vida, e hoje vejo ela mudando a vida de tantas meninas. É isso que me move todos os dias”.