Campo Grande (MS) - O futebol feminino de Mato Grosso do Sul vem ganhando espaço nos últimos anos. Pelo menos, é isso que afirmam as jogadoras e técnicos, e o que empresários e dirigentes não querem perceber.
Em setembro, as meninas do Comercial enfrentaram o Santos, equipe comandada pela jogadora Marta e patrocinada por uma empresa sul-mato-grossense. O resultado do amistoso não poderia ser outro. Com uma equipe bem estruturada e disposta em campo, melhor preparada fisicamente e técnicamente, o Peixe arrasou o Colorado com uma goleada de 10 a 0.
O placar, porém, não fez justiça à vontade demonstrada em campo pelas jogadoras do Comercial. Para a jovem atacante Patrícia Sochor, de 15 anos, a equipe pecou na marcação. "Demos muitos espaços para elas, teve muitos erros de marcação. Tinha que ter mais paciência também", apontou a jogadora.
Fernanda Bessa, de 18 anos, que também enfrentou o Peixe, acredita que após a vinda da equipe para Mato Grosso do Sul, o cenário local pode mudar. "Depois do amistoso, conseguimos conquistar a vaga para a Copa do Brasil, que é nossa por direito", afirma, alfinetando o MS Saad, equipe que disputaria a competição no lugar do Comercial. "Essa chance de representar nosso Estado fora, sendo que já estava certo que a vaga seria de outro time, foi uma demonstração que nosso futebol está com maior apoio e incentivo", constata a jogadora, nascida em São Bernardo do Campo.
Apesar da euforia por enfrentar a melhor jogadora do mundo, Fernanda prefere manter os pés no chão. "Eu sempre coloquei estudo e faculdade em primeiro lugar. Seguir como jogadora profissional será consequência de um trabalho bem realizado", acrescenta a atacante, que faz faculdade de Educação Física.
Outra que procura não sei iludir é Isabela Vieira, de 18 anos. Estudante de fisioterapia, a atleta joga no futebol de campo há dois anos. Para ela, é complicado seguir carreira no futebol feminino. "São poucas as estrelas que brilham, como Marta e Cristiane. Quem sabe não podemos ter essa sorte? Muitas estão tentando, mas eu acho difícil. Você tem que conciliar isso com estudo, pois se não der certo...", observa a jogadora, que vê na questão financeira a principal dificuldade para seguir carreira. "No caso do futebol, eu pago para jogar. Ninguém me paga pra isso. Eu jogo porque gosto", finaliza.
A experiente zagueira Marisa, que defendeu por 17 anos a Seleção Brasileira Principal, defende as cores do Comercial há pouco mais de duas semanas. Para ela, a principal dificuldade para as meninas é poder conciliar estudo, trabalho e treinamentos. "As meninas trabalham e fazem faculdade, não vivem só do futebol. Isso dificulta um pouco pra disputar este campeonato", conta, referindo-se à Copa do Brasil Feminina.
Com bagagem, a jogadora dá a receita para mudar esse quadro. "A primeira coisa a se fazer é conseguir um patrocínio. Um patrocinador que dê pelo menos um salário para as meninas se dedicarem só ao futebol, já melhora 100%", projeta.
Elaine Assis, de 21 anos, joga pela equipe das Moreninhas. Ela se mostra pessimista quanto alguma reestruturação no futebol local após a passagem do Santos pelo Morenão. "Só vendo pra crer. O futebol feminino deve ser mais valorizado", cobra. Para ela, é impossível seguir carreira como jogadora em Mato Grosso do Sul. "Aqui não tem estrutura. Não adianta. Se você quer ganhar alguma coisa, tem que ir pra fora", lamenta.