A história de Valdeir Celioi no boxe começou cedo. Nascido em Mato Grosso do Sul, ele iniciou os treinos ainda na infância e viu na modalidade não apenas uma válvula de escape, mas uma possibilidade de transformação. “Comecei a treinar boxe com 12 anos com o professor Nilson Ferreira, da Vila Popular. Minha trajetória com ele é longa. Foi por ele que me tornei o cara que sou hoje. Me tirou das ruas das comunidades e me ensinou a ser uma pessoa responsável”, afirma.
Em meio a treinos e orientações, o jovem viu o esporte abrir portas. Aos 16 anos, participou do seu primeiro campeonato e, logo de cara, ficou com o vice-campeonato brasileiro. “Foi só a porta de entrada para outras competições”, lembra. O momento mais marcante da carreira veio pouco tempo depois, com a convocação para a Seleção Brasileira. “Guardo até hoje minha carta-convite. Isso nunca vou esquecer. Quem diria, um menino franzino de apenas 55 kg em 2016 iria fazer parte da seleção brasileira.”
Representando o Brasil, Valdeir competiu em cinco países diferentes, incluindo Bolívia, Chile e Paraguai. Em seu currículo, carrega títulos estaduais, regionais, nacionais e internacionais. “Minhas principais conquistas são: seis vezes medalhista no Campeonato Brasileiro, nove vezes campeão estadual, nove vezes campeão do Circuito Sul-Mato-Grossense, vice-campeão da seletiva do Mundial Militar, duas vezes campeão carioca, três vezes vice-campeão do Centro-Oeste, além de um título internacional na Bolívia, dois no Chile e um no Paraguai.”
Uma das lutas que mais o marcaram foi contra um atleta argentino. “Estava perdendo no primeiro e segundo round. Quando chegou no terceiro, meu professor Motta, da seleção, me falou: ‘você é guerreiro, um leão, vai pra cima, é tudo ou nada’. Então o milagre aconteceu. Nocauteei o argentino. Foi uma emoção tão grande que chorei de alegria.”
Hoje, Valdeir divide sua rotina entre os treinos e o trabalho como profissional de educação física, atuando na área de funcional fight. “É uma área que eu conheço muito bem. Ajudo pessoas a ter uma saúde física e mental saudável. Querendo ou não, o boxe é uma terapia, né?”, diz. Mesmo com a rotina intensa, ele mantém uma programação rigorosa. “Treino duas vezes por dia quando estou de folga do meu trabalho. Faço corrida e exercícios complementares pela manhã, e à tarde treino técnico de boxe com o professor Nilson Ferreira.”
A rotina como treinador também exige dedicação. Ele ministra até cinco aulas por dia, equilibrando a carga para não comprometer os próprios treinos. “Tudo isso para não atrapalhar meu serviço no outro dia e meus treinos de boxe para competições.”
Valdeir observa que, apesar de Mato Grosso do Sul ter muitos atletas talentosos, ainda há barreiras estruturais e de apoio que impedem o crescimento mais acelerado da modalidade. “Aqui tem muitos atletas bons. Eu sou uma prova viva. Só gostaria muito que o boxe aqui do MS fosse igual ao de SP, RJ, BA, onde todos os atletas de alto rendimento treinam juntos para evoluir ainda mais.”
Para quem está começando no boxe agora, o conselho é direto: “Apenas comece. Nunca deixe pra depois. O começo é muito ruim, mas depois você vai ficando muito bom no que faz.”
Mesmo com a carreira esportiva em andamento, Valdeir já pensa nos próximos passos. Ele pretende se tornar fisioterapeuta e atuar com atletas. “No boxe há uma certa idade limite para atuar. Hoje, quero ser um profissional na fisioterapia e ajudar pessoas e atletas a ter um bom resultado no esporte. Ainda não me formei nessa área, mas daqui uns anos sim.”