Quinta-feira, 18 de setembro de 2025, 18:03

Mayara: do sedentarismo ao alto nível no crossfit em Três Lagoas

da redaçaõ - 18 de set de 2025 às 15:17 37 Views 0 Comentários
Mayara: do sedentarismo ao alto nível no crossfit em Três Lagoas Da Redação

“Eu comecei no crossfit em 2016, inicialmente foi única e exclusivamente para emagrecer, afinal nessa época eu estava com um certo grau de obesidade.” Foi assim que a três-lagoense Mayara Francisca da Silva, nascida em 30 de novembro de 1989, deu início a uma trajetória que hoje a coloca como referência local e regional no esporte.

 

A decisão surgiu em um momento de mudança de vida. Após passar oito anos em Campo Grande, período em que concluiu a faculdade e o mestrado, Mayara retornou a Três Lagoas e percebeu que precisava alterar a rotina sedentária e os hábitos alimentares. “No meu primeiro dia de volta a Três Lagoas eu já me inscrevi nas aulas por incentivo do meu irmão, que já treinava crossfit. Junto com os treinos eu procurei uma nutricionista, e de início tive ótimos resultados em relação ao emagrecimento”, recorda.

 

A evolução rápida trouxe novos desafios. Três meses após começar, ela participou de sua primeira competição local. “Meu coach me incentivou a participar, era em dupla, ele me apresentou a uma outra menina e participei sem conhecer quase nada desse universo. Eu me apaixonei pela arena e depois disso nunca mais parei com as competições.”

 

Se no começo o objetivo era apenas perder peso, a rotina de treinos e a vivência competitiva ampliaram a visão de Mayara sobre o esporte. Ela destaca que a paciência foi um dos maiores aprendizados. “É preciso entender que quem inicia na modalidade não pode pular etapas. Ninguém começa levantando 100kg, nem se pendurando em uma argola, isso leva muitos anos e depende muito da vivência e do compromisso de cada um”, afirma.

 

Outro ponto que marcou a trajetória foi lidar com comparações. “Às vezes aquele movimento que eu levei anos para aprender, outra aluna aprende com alguns meses de aula, e isso já me frustrou diversas vezes. Entretanto, é preciso entender que cada um é cada um, a minha vivência não é a mesma do outro colega. Os meus medos são diferentes, o meu background é diferente, então cada um tem seu tempo, e não podemos nos comparar.”

 

O preparo mental, segundo ela, é um fator decisivo para o desempenho. “O preparo físico é a parte mais fácil. Se você seguir uma programação correta, não pular etapas, você vai evoluir. Agora o preparo mental é algo que às vezes alguns atletas não dão a devida importância. Por isso que vemos tantos atletas que treinam bem, mas não se destacam nas competições. O nervosismo e a ansiedade nos derrubam e é preciso trabalhar muito isso.”

 

Conciliar a vida profissional com a rotina de treinos também faz parte de sua experiência. Formada e atuando como engenheira, Mayara organiza o dia em duas sessões: “Normalmente sigo uma planilha de treinamento própria. Trabalho todas as valências do crossfit: força, endurance, ginásticos. Geralmente divido em dois treinos, um na parte da manhã, às 5h, antes do trabalho, e a outra sessão após as 17h, quando encerra o expediente.”

 

As conquistas acumuladas vão além de pódios. “Eu posso citar algumas vitórias que considero as mais importantes: começar do zero e conseguir estar ao lado de grandes nomes nacionais, conciliar minha carreira como engenheira com o crossfit, voltar ao esporte mesmo depois de uma lesão, e inspirar diversas meninas aqui na minha cidade a acreditarem em si.”

 

A superação citada passa diretamente pela lesão que sofreu em 2023. “Em uma competição eu dei um mau jeito durante a última prova e acabei fraturando o menisco, fiquei praticamente um ano fora das competições. Durante muito tempo eu tinha dores no joelho, tinha medo de fazer alguns movimentos, mas eu nunca parei.” O apoio de coach e fisioterapeuta foi essencial. “Eu batalhei sempre pensando em retornar às competições.”

 

O mesmo ano trouxe um golpe pessoal ainda mais duro: a perda da mãe. “Nesse momento eu tinha duas opções: ou me render à dor ou usar o esporte como minha força para reerguer. Eu escolhi superar. A disciplina do esporte fez eu manter a minha cabeça no lugar, alcançar novos objetivos e me superar.”

 

Em 2025, a atleta conseguiu participar da seletiva do TCB (Torneio Crossfit Brasil), objetivo que mantinha como meta. “Apesar das minhas limitações, retornar àquela arena e ver que eu ainda sou capaz foi uma das melhores sensações que já tive.”

 

Mais do que resultado, Mayara aponta o impacto do esporte em sua vida cotidiana. “O crossfit me ensinou muito sobre disciplina. Me ensinou que eu precisava acordar todos os dias às 4h da manhã se eu realmente quisesse o meu objetivo. Mesmo cansada, mesmo com frio, mesmo indisposta. Me ensinou a me alimentar bem. Me ensinou que é preciso abdicar de algo naquele momento para um objetivo futuro.”

 

Sobre referências, ela destaca a importância de exemplos próximos. “Para mim, referências são os meus amigos ou então coaches próximos que conheço, que se desdobram em busca de um objetivo. Pessoas que vão tão longe às vezes sem um talento aparente, sem tempo, sem incentivo, mas que estão ali batalhando todos os dias.”

 

Atualmente, Mayara não definiu se seguirá competindo em alto nível, mas pretende continuar ativa. “Estar competindo dentro do crossfit em alto nível requer muita dedicação, muito tempo, e é algo que tenho feito há muitos anos. Meu objetivo claro é continuar motivando e incentivando as meninas, mulheres que se adentrem nesse esporte lindo.”

 

Ela observa a evolução local desde que começou. “Quando iniciei aqui na cidade não havia meninas avançadas. Hoje é totalmente diferente, temos várias coaches, mulheres que treinam, que fazem movimentos complexos, e isso é lindo de ver.”

 

A mensagem final é de incentivo a quem ainda enxerga o crossfit como inacessível. “Primeiro, eu comecei como uma sedentária e com obesidade. As aulas são adaptáveis para cada tipo de nível. Então se você não consegue correr, não consegue se pendurar numa barra, não tenha medo, você irá progredir com o tempo. É importante procurar um local de treinamento sério, com coaches habilitados e nunca pular etapas.”

 

Para ela, o esporte segue como parte essencial da vida. “Crossfit é um esporte muito dinâmico, mesmo com anos de treino eu ainda tenho muito a melhorar, muito a treinar, então é algo que me faz querer estar sempre em evolução. Foi o que mudou a minha vida e que me salva todos os dias.”

Comentários

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos com * são obrigatórios.

Parceiros

Enquete

O Governo de MS investe o suficiente no esporte sul-mato-grossense?