A ciclista Maria Correia Neres da Silva, de 44 anos, encontrou no esporte uma maneira de transformar a própria vida. Natural de Adustina, na Bahia, e residente em Mato Grosso do Sul, ela começou a pedalar em 2017, inicialmente como uma alternativa para melhorar seu desempenho no jiu-jitsu. “A bike surgiu no intuito de ajudar a perder peso, eu sofria muito nas lutas com o peso”, conta.
Naquela época, os treinos de ciclismo se somavam aos de corrida, formando sessões de duatlo com os colegas e o professor. “Juntávamos a turma com o professor e começamos a fazer duatlo: corria e, em seguida, andava de bike. E daí em diante não larguei mais a bike”, relembra.
O esporte passou a ser parte permanente da sua rotina. No início, Maria pedalava exclusivamente com a mountain bike (MTB), mas em 2019 precisou interromper os treinos após uma lesão na cervical. A pausa foi longa, agravada pela chegada da pandemia. “Fiquei oito meses parada. Quando voltei a pedalar, passei para a speed”, explica, referindo-se à bicicleta de estrada.
O ciclismo, segundo Maria, enfrenta desafios importantes na região onde mora e treina. “O principal desafio de um ciclista em nossa região é a falta de ciclovias e acostamento para manter a segurança, não só dos ciclistas, mas também dos próprios motoristas”, afirma. Apesar disso, reconhece que houve avanços nos últimos anos: “Quando comecei a pedalar já melhorou um pouco, mas vejo muitas diferenças e desigualdades por falta de apoio”.
Sobre os treinos, Maria destaca que eles são organizados conforme as competições. A rotina é adaptada, principalmente, ao seu trabalho. “Hoje tenho minha própria empresa, procuro treinar após meu expediente, mas o melhor treino que faço é quando estou com a turma”, comenta. Ela também valoriza o apoio familiar: “Consigo conciliar sim, a família me ajuda muito”.
Para Maria, cada competição tem um significado especial. “Minhas maiores conquistas no ciclismo foram todas, todas sem exceção, cada uma com uma história diferente, marcadas com lugares incríveis e grandes amigos”, conta. Entre as provas mais marcantes, destaca o Campeonato Brasileiro, quando competiu na categoria Elite. “Me marcou muito e a vitória nessa prova foi de ter conseguido correr com grandes nomes”.
O sentimento ao competir também é transformador. “Quando estou competindo me sinto outra pessoa, me transformo”, resume.
A alimentação e a preparação física são aspectos fundamentais para Maria, mas ela relativiza a necessidade de um treino físico intensivo: “A alimentação é uma parte fundamental nos treinos, tanto para ganho de força como para ganho de energia. A preparação física também é muito importante, mas não quer dizer que seja necessário”.
A segurança nos treinos é uma preocupação constante. Ela lista os equipamentos indispensáveis: “Desde uma luzinha sinalizadora, capacete, óculos, luva, lanterna, uma câmera reserva… tudo isso é muito importante para a segurança de um treino”.
Atualmente, Maria integra a equipe Pro Pedal, que oferece apoio com inscrições em competições. No entanto, ela revela que não conta com patrocínios individuais ou projetos locais de incentivo. “Agora, na equipe em que eu estou, conto com a ajuda dessa equipe Pro Pedal que ajuda nas inscrições, mas eu não tenho nenhum apoio ou projetos locais”.
A próxima prova de Maria está marcada para agosto e, mais uma vez, o foco é o Campeonato Brasileiro. “Meu objetivo maior é o Brasileiro, mas vamos ver o que rola até lá”, projeta.
Maria também reflete sobre o avanço do ciclismo feminino nos últimos anos. Para ela, houve progresso, mas ainda há espaço para mais participação. “Sim, o ciclismo feminino ganhou bastante espaço, mas acho que a participação poderia ser melhor se o incentivo fosse um pouco maior”, avalia.
A trajetória de Maria é marcada por determinação e paixão pelo ciclismo. Para as mulheres que desejam começar no esporte, ela deixa um conselho direto: “Apenas vá. Faça seu pedal sem compromisso com ninguém, a não ser consigo mesma. Foi assim que eu comecei. E quando você menos esperar, vai estar se destacando nas competições”.