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Luta, promessa e estrada: Camila aposta no futsal para mudar sua história

da redação - 5 de mai de 2025 às 15:14 88 Views 0 Comentários
Luta, promessa e estrada: Camila aposta no futsal para mudar sua história Da Redação

Camila Dias Rodrigues tem 19 anos e carrega no corpo cansado e na agenda apertada a determinação de quem transformou uma brincadeira de infância em projeto de vida. Natural de Ribas do Rio Pardo, no interior de Mato Grosso do Sul, ela acorda antes das 5h da manhã, viaja mais de 90 km até Campo Grande para estudar, estagiar e treinar, e só volta para casa depois da meia-noite. A rotina exaustiva revela uma certeza: ela sabe o que quer e até onde pretende chegar com o futsal.

“Eu jogo bola desde os 10 anos, mas sempre foi uma brincadeira pra mim, algo que eu fazia porque eu gostava”, conta. O que era passatempo virou plano quando, no 7º ano da escola, foi chamada para representar a escola estadual João Ponce de Arruda no JEMS — os Jogos Escolares de Mato Grosso do Sul. “Foi literalmente paixão à primeira vista”, resume. O sonho tomou forma quando ela, capitã da equipe no segundo ano de participação, enxergou no futsal uma possibilidade concreta de futuro.

Camila estudou a vida inteira em escolas públicas de Ribas. Do 1º ao 5º ano, frequentou a Escola Municipal São Sebastião; depois, passou para a estadual “Jopa”, como chama a instituição onde descobriu a vocação. Entre aulas e treinos, começou a disputar campeonatos e, mesmo enfrentando barreiras como a resistência inicial dos pais, seguiu adiante. “No começo, meus pais tinham um pouco de medo de me deixarem viajar, então algumas vezes não pude ir em alguns campeonatos. Mas depois desse começo, eles sempre me apoiaram — principalmente meu vô.”

O avô, como ela conta, foi peça fundamental nesse processo. “Um pouco antes dele falecer, ele me fez prometer que eu faria de tudo por esse sonho. E desde então tenho dado meu máximo.” Hoje, Camila é atleta da equipe da UCDB, em Campo Grande, e estuda na universidade que sempre desejou. “Sonho em estar aqui desde os meus 14 anos.”

Para conciliar tudo, o esforço é constante. “Eu saio de Ribas às 4h50 e chego na faculdade às 7h. Estudo na parte da manhã e passo o dia aqui. No fim da tarde tenho estágio, e de noite treino. Aí volto pra minha cidade às 22h40 e chego em casa 1h da manhã.” Quando não há aula, ela trabalha em Ribas. “Às vezes o treino não sai 100%, por não ter dormido bem, mas é um sonho estar nesse time. Os treinos são bem intensos, mas é muito bom, o elenco é excepcional.”

A rotina se torna ainda mais difícil quando a estrutura do esporte não acompanha a dedicação dos atletas. “A desvalorização da mulher no futsal, principalmente no MS, é muito grande. A falta de apoio é gritante, mas a vontade de jogar é bem maior que tudo isso.” Camila destaca que, em muitas competições, são as próprias atletas que precisam levantar recursos para conseguir participar. “Quase todos os campeonatos nacionais que a UCDB participa, precisamos correr atrás, fazer rifa, vender comida… é complicado, mas fazemos porque amamos.”

Apesar das dificuldades, o futsal tem rendido conquistas importantes. “Minhas maiores conquistas foram o vice do estadual sub-20, o primeiro lugar do estadual adulto com a UCDB, dois primeiros lugares nos Jogos Abertos de Campo Grande e dois quartos lugares no JUBs.” Essas vitórias servem como combustível para seguir adiante, mesmo com a rotina apertada e as incertezas que cercam o esporte feminino.

A identificação com o futsal é completa, mas Camila reconhece que há muito a evoluir. “Acho que no mundo todo o futsal precisa de olhares. Precisamos de apoio, isso é nítido, mas muitas vezes isso não é atendido.” Mesmo assim, ela acredita no crescimento da modalidade. “O futsal tem crescido muito, mas ainda precisamos de muito mais. A evolução tem que ser constante.”

Referência para outras jovens, Camila também tem quem a inspira. “A Júlia Namie, com certeza. Já joguei junto com ela. Pela pessoa incrível que é e tudo que já conquistou. É lindo de ver, é inspirador.”

Com os pés firmes no chão e o olhar voltado para o futuro, ela compartilha o que aprendeu com sua trajetória. “A vida de atleta não é fácil, mas se você quer seguir essa vida, tem que abdicar de muitas coisas e, principalmente, amar muito esse esporte.” A motivação vem do que sente quando entra em quadra. “Faça pelo amor que você sente pelo esporte, e tudo se tornará um pouquinho mais fácil.”

As próximas metas de Camila são as seletivas e, depois, os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs). Enquanto isso, ela segue entre viagens, treinos, trabalho e estudos, apostando todas as fichas no sonho de viver do futsal.

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