A relação de Luana Lima com o futebol começou ainda na infância, em Bodoquena (MS), não como atleta, mas como espectadora — e observadora atenta. “Eu nunca joguei futebol, aliás, na época de escola era um fracasso”, lembra. O contato, no entanto, foi precoce. O pai, árbitro na cidade, a levava aos jogos de fim de semana. “Eu sempre estava nos campos aos domingos com ele. Eu via os uniformes da arbitragem e queria estar ali, ter um uniforme pra mim, viver aquela emoção, a adrenalina de estar dentro de campo.”
Foi desse convívio que nasceu o desejo de também fazer parte do mundo da arbitragem. Ainda criança, já dizia ao pai que, quando tivesse a chance, faria o curso. E ela teve. O primeiro passo foi dado em Sidrolândia, onde morava na época. “Fui abraçada pela delegacia de arbitragem de Sidrolândia, me convidaram para fazer o curso. Treinava com eles, estudava, confiaram em mim, me escalaram quando eu pensei que não estava pronta, mas eles acreditaram.”
O início da trajetória foi acolhedor. As dificuldades maiores vieram depois, quando a maternidade passou a fazer parte da equação. Luana concluiu o curso de arbitragem em 2019 e, pouco depois, engravidou. “Me afastei e, quando voltei a atuar, já morava em Campo Grande. Aí tudo mudou. Eu tinha que me programar por causa da minha filha: onde ela ficaria, quantas horas eu ficaria fora de casa, se teria que deixar mamá, já que ela na época só mamava leite materno.”
Com apoio do marido e organização, conseguiu retornar aos campos, conciliando escalas e rotina familiar. A experiência da maternidade também trouxe novos desafios psicológicos. “Me prejudicava os pensamentos em casa: se estava tudo bem, se deixei tudo certo para minhas filhas, se elas vão jantar, se vão dormir no horário, se o pai vai cuidar direitinho.” A alternativa foi buscar suporte terapêutico. “Somos orientadas a fazer terapia. Isso é muito importante. Aprendi que chegou no estádio, esquece o mundo lá fora. É 100% no jogo, do início ao fim.”
Atualmente, a preparação de Luana envolve treinos físicos regulares. “Temos um treino específico com o professor Mário três vezes por semana e precisamos fazer musculação para fortalecimento. Todo jogo é importante. Todo jogo é uma final pra mim. Sempre dou o melhor, desde um amador até um jogo do Estadual.”
Mesmo com os obstáculos da jornada dupla — ou tripla — de ser mãe, profissional e árbitra, Luana destaca que dentro de campo nunca enfrentou preconceito de colegas ou atletas. “Mas da torcida, sim. Muitas vezes, e a maioria delas por parte de mulheres, mães, o que é pior ainda.” A relação, segundo ela, já foi mais difícil. “No início eu não sabia lidar muito com isso, achava muito ofensivo com as palavras proferidas. Hoje dou risada e me dá mais força para continuar.”
Entre os momentos mais marcantes da carreira está a estreia no Campeonato Estadual Feminino, no clássico Comerário. “Foi uma escala muito especial, porque além da importância do jogo, eu estava ao lado da assistente Fabiana Fabrão, que a arbitragem me apresentou e que hoje faz parte da minha vida pessoal. Esse dia com certeza nunca vou esquecer.”
Fabiana, aliás, é uma das grandes referências de Luana na profissão. “A nível estadual tenho como inspiração, referência a assistente Fabiana Fabrão, excelente profissional. E a nível nacional e internacional, admiro a Neuza, árbitra assistente. Ela é incrível.”
Luana vê com otimismo o crescimento da participação feminina na arbitragem em Mato Grosso do Sul. “Hoje o quadro feminino sul-mato-grossense é bem grande se comparado há 10 anos. Temos muitas oportunidades. A comissão pensa em nós, nos coloca junto a eles, sempre estão nos dando oportunidade. Confiando em nosso trabalho e dedicação.”
Mas ela quer ir além. “Meu objetivo é poder chegar a nível nacional, chegar à CBF. É difícil, mas não é impossível.” Para isso, mantém a rotina de treinos e estudos. E compartilha uma mensagem direta a outras mulheres que sonham com a arbitragem, especialmente aquelas que vivem no interior, como ela. “Se você gosta, tem esse sonho, segue firme. As portas estão abertas para nós. Treine, estude constantemente. Nós mulheres precisamos estar muito mais preparadas que os homens, somos cobradas muito mais pela sociedade. Não desista no primeiro obstáculo. Eu não desisti. Sigo tentando e conseguindo.”