 Da Redação
                                    
                                        Da Redação
                                    
                                Ana Clara Gomes dos Santos nasceu em Camapuã, Mato Grosso do Sul, e desde cedo descobriu que o futsal seria parte fundamental de sua vida. Hoje, defendendo a camisa da UCDB, ela olha para trás e reconhece que sua trajetória foi marcada por persistência, paixão e superação. “Eu descobri que gostava de jogar bola muito cedo, com uns quatro anos. Em um Natal, eu e meu irmão ganhamos presentes: ele, uma bola, e eu, uma boneca. Aí larguei a boneca de lado e fui jogar bola”, lembra.
A afinidade com o esporte cresceu naturalmente. Ainda na escola, Ana Clara se destacava nas aulas de Educação Física e nas brincadeiras do recreio. Mas o primeiro passo concreto veio por meio de um professor. “Com uns 10 ou 11 anos, um professor de Educação Física falou com meus pais para eu ir treinar para os jogos escolares da cidade, no 7 de Setembro. A partir daí, comecei. No início, eu vinha para a escola de ônibus, ficava na casa da minha tia ou da minha avó, ia treinar e voltava no outro dia. Foram alguns anos assim”, recorda.
A rotina intensa de deslocamentos, somada às responsabilidades escolares, não a afastou do futsal. Quando sua família se mudou para a cidade, a proximidade com colegas que já jogavam em uma equipe local abriu novas oportunidades. “Mudamos para a cidade e, do lado da nossa casa, tinha as ‘repetidas’, duas irmãs gêmeas, Luiza e Thereza, que já jogavam no time da cidade, o SEIC Futsal. Fizemos amizade e elas me chamaram um dia para treinar lá. Desde então, não parei mais. Acredito que grande parte do meu crescimento como atleta tenha sido por meio desse time”, conta.
A decisão de seguir no futsal também esteve ligada a um objetivo claro: usar o esporte como caminho para os estudos. “Eu vinha com uma meta, que era entrar na faculdade e ganhar bolsa para estudar justamente por fazer o que mais amo, que é jogar futsal. Graças a Deus, hoje me encontro nesse cenário, defendendo a camisa da UCDB”, explica.
A ligação com o esporte, segundo ela, é inegociável. Mesmo após uma grave lesão, Ana Clara não cogitou abandonar o futsal. “Acredito que é uma paixão mesmo. Não teria como ser outro esporte se não esse. Quando eu era da base sub-15, tive uma lesão no joelho direito e precisei passar por cirurgia. Perto de voltar a jogar, tive que fazer outra, e mesmo assim não quis parar. Então é paixão mesmo”, resume.
Mas nem sempre o caminho foi fácil. Além das dificuldades físicas, ela aponta que o preconceito ainda é um obstáculo para as mulheres no esporte. “Quando a gente fala em futsal ou futebol e fala que é feminino, acredito que o maior desafio para todas seja o preconceito, aquela coisa de que mulher não foi feita pra isso”, observa.
Entre as lembranças marcantes da carreira, Ana Clara destaca um campeonato de base, a Copa Saboraki, disputada em Cassilândia. “Saímos ganhando de 1 a 0 do time de Cassilândia, elas empataram e viraram o jogo faltando dois minutos para acabar. Corremos atrás e, graças a Deus, fiz o gol de empate. Nos pênaltis, conseguimos sair melhor. Nesse campeonato ganhamos tudo, desde goleira menos vazada até artilharia das duas categorias”, relembra com satisfação.
Mesmo com conquistas expressivas, a atleta reconhece que a rotina atual é desafiadora. Dividida entre o trabalho e a faculdade, ela tenta manter o ritmo dos treinos dentro das possibilidades. “Minha rotina é um pouco distinta da de um atleta profissional. Como eu trabalho cedo e vou para a faculdade à tarde, meus treinos acabam sendo somente na universidade, nos dias em que não tenho aula. Pretendo melhorar nessa parte assim que possível”, comenta.
O apoio da família é um dos pilares que sustentam sua motivação. Antes de cada partida, ela se lembra das pessoas que acreditam em seu potencial. “Sempre levo em minha mente e no meu coração que tenho pessoas torcendo por mim em casa: minha mãe, meu pai, meu irmão, meu namorado e minha família como um todo. Acredito que minha maior inspiração é pensar que eles estão comigo, independente de qualquer coisa, e tentar fazer o melhor para ajudar a equipe”, afirma.
Sobre o cenário do futsal feminino em Mato Grosso do Sul, Ana Clara avalia que houve avanços, mas ainda há muito a conquistar. “Fiquei fora das quadras por quatro anos e, voltando agora, acredito que tenha melhorado um pouco, mas ainda falta muito para chegar aonde precisamos”, opina.
Entre as conquistas recentes, ela destaca a participação nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), um dos torneios mais importantes do calendário nacional. “Nunca tinha jogado o JUBs. O nosso time, o da UCDB, está na primeira divisão há 14 anos. Pra quem disputa ou já disputou, sabe o quanto é difícil estar lá. Esse ano, infelizmente, não conseguimos o pódio, mas permanecemos na primeira divisão. Estar entre os melhores pra mim é uma conquista coletiva da qual me orgulho muito”, afirma.
Agora, o foco está nos próximos passos. “Com toda certeza, meu objetivo é conquistar lugar no pódio do JUBs”, projeta com convicção.
Apesar de todas as barreiras, Ana Clara segue acreditando que o futsal pode transformar vidas — e que acreditar é o primeiro passo. Ela deixa um recado para as meninas que sonham em seguir o mesmo caminho: “Acredite no seu talento, mesmo quando duvidarem de você. O caminho no futsal feminino ainda tem desafios — falta de apoio, oportunidades menores e preconceitos —, mas isso não diminui o valor do seu sonho. Treine com disciplina, busque evolução técnica e física todos os dias, e não tenha medo de se destacar”.