“Isso só me deu mais gás pra treinar e me tornar ainda melhor.” A frase é de João Pedro Souza e Silva, ciclista de mountain bike nascido em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, que encontrou no esporte uma forma de enfrentar, diariamente, os próprios limites. Com má formação na mão direita, o campo-grandense de 23 anos transformou o que seria um obstáculo em motivação para pedalar cada vez mais longe.
João começou a andar de bicicleta ainda na infância. Inicialmente como brincadeira e, depois, como meio de transporte. A conexão com o esporte foi consequência da influência dos pais, que sempre incentivaram a prática de atividades físicas. “Desde novo andei de bike recreativamente, e mais tarde para ir a alguns lugares. Meus pais sempre me motivaram a fazer algum esporte, então tudo era válido.”
A deficiência física não foi impeditivo para que ele avançasse no ciclismo. Pelo contrário, serviu como motor para treinos mais intensos e dedicação redobrada. “Tenho dificuldade para executar algumas coisas, frear é uma delas, mas pelo contrário, isso só me deu mais gás pra treinar e me tornar ainda melhor”, relata. A frase carrega o tom de quem aprendeu a se adaptar ao invés de recuar.
Atualmente, João mantém uma rotina intensa de treinos, pedalando entre cinco e seis vezes por semana. A preparação física, que antes incluía também a musculação, agora é concentrada exclusivamente na bike, sob orientação de uma treinadora particular. “Ela me manda os treinos e orientações semanalmente. Pela quantidade e volume dos treinos, estou focado apenas na bike.”
A rotina exige disciplina e estrutura. Apesar das dificuldades para manter o esporte em alto nível, João banca, com recursos próprios, a maior parte dos custos com treinos e competições. Ele conta com o apoio de alguns parceiros, que contribuem com peças, acessórios, manutenção da bicicleta e suplementação alimentar. “A maior parte dos meus gastos é custeada por mim mesmo, mas possuo algumas ajudas de custo de parceiros que colaboram para que os treinos não parem.”
No mountain bike, ainda não participou de provas fora de Mato Grosso do Sul, mas já competiu em ciclismo de estrada em outros estados. Apesar disso, é presença constante no pódio de provas festivas locais, muitas vezes com a medalha de ouro no peito. “Ainda não tive títulos estaduais relevantes no mountain bike, mas sempre participo de provas festivas, onde sempre estou no pódio, muitas vezes em primeiro.”
Entre os locais de treino, João costuma rodar nos arredores de casa, em Campo Grande, onde encontra os terrenos necessários para treinos técnicos. Para ele, a estrutura para o ciclismo ainda é limitada no estado, mas alguns apaixonados pela modalidade têm feito a diferença. “Temos alguns idealizadores que organizam pistas para treinamentos e provas, como é o caso do Pedrinho lá no Vale Perdido, onde foi a primeira etapa do campeonato estadual de XCO de 2025.”
Segundo João, para o mountain bike crescer em Mato Grosso do Sul, é necessário justamente valorizar e apoiar mais essas iniciativas locais. “Precisaria de mais apoio a estes organizadores e pessoas que vão atrás e abraçam a ideia de um ciclismo mais técnico e de nível reconhecido Brasil afora.”
Agora, o foco está voltado para os próximos desafios. O atleta se prepara para disputar duas competições nos próximos dias, entre elas o Brasil Ride Bonito, que acontece entre os dias 6 e 9 de agosto na cidade turística do interior do estado.