Não se restringiu à esfera desportiva a desclassificação de João Campos da sexta etapa do Campeonato Brasileiro de Pick-up Racing. O piloto gaúcho, quatro vezes campeão da categoria, foi segundo colocado na corrida de domingo último (11) no Autódromo Internacional Ayrton Senna, em Londrina, mas perdeu os pontos após a vistoria técnica realizada momentos depois, sob a alegação de irregularidade na fixação do motor ao chassi de sua Ford Ranger.
A punição aplicada a João pelos comissários técnicos foi motivada por um protesto registrado por Abramo Mazzochi, vice-líder do campeonato. Ele justificou sua atitude alegando revolta e atribuindo a rodada que o fez perder posições na corrida a um toque de Eduardo Freitas, companheiro de equipe de João. Freitas, punido com um drive-thru pelos comissários desportivos, negou a manobra desleal e argumentou que Mazzochi rodou sozinho à sua frente, no asfalto molhado.
"Em 25 anos no automobilismo, eu nunca fui punido por uma atitude anti-desportiva. Jamais teria a intenção de prejudicar alguém com manobras desleais quando coloquei um segundo carro na pista", frisou João. "Até porque o Abramo sequer me viu durante essa corrida, ou na maioria das outras. E vou provar nos tribunais desportivos, mais uma vez, que estou dentro do regulamento técnico. Só me falta ouvir que estou liderando o campeonato por causa deste item".
Segundo matéria distribuída à mídia nacional pela assessoria de imprensa da Pick-up Racing um dia depois da prova, Mazzochi afirmou que a caminhonete de João estava irregular desde 2004. Ele declarou não ter protestado antes "para evitar polêmica". "O Abramo não tem moral para falar sobre desclassificações. Por que ele não diz quantas vezes foi desclassificado no Gaúcho de Fórmula Ford? Como diz a frase de pára-choque, a inveja é a falta de capacidade", afirmou.
"Jamais vou querer ganhar tudo a todo custo. Não preciso isso, mas não vai ser um piloto insignificante como o Abramo, que rodou sozinho no final da reta em Curitiba com um carro visivelmente superior a todos os outros, jogando uma vitória fora, que vai me ganhar o campeonato no papel", falou Campos. "Eu venci 36 corridas. Ele ganhou uma só, outro dia, e já se acha a última bolacha do pacote", acrescentou, usando de uma gíria que indica excesso de valorização.
João considera a acusação de Abramo ofensiva à integridade profissional de sua equipe. "Se nós quiséssemos fazer alguma falcatrua, não teríamos pedido ao (comissário técnico) Rui Gatti, no início da temporada, que fizesse uma vistoria minuciosa em todo o nosso carro, para que não houvesse qualquer tipo de dúvida sobre interpretação do regulamento. Ele nada constatou. Agora, pergunto: alguma outra equipe fez isso no início do campeonato?", desabafou.
O líder do campeonato rebateu, também, a acusação feita pelo rival. "Ele diz que eu quero ganhar a todo custo. Ora, eu já ganhei os quatro campeonatos na categoria, e esse mérito ninguém pode tirar de mim. Se tem alguém na Pick-up Racing que precisa ganhar a todo custo é ele, que ainda não ganhou nada", disse João, que para chegar ao tetracampeonato na categoria das caminhonetes obteve 36 vitórias em 58 corridas disputadas até a etapa em Londrina.
Ele manifesta-se indignado, também, com o jornalista Cláudio Stringari, responsável pela assessoria de imprensa prestada à Pick-up Racing. "Por que será que aquele incompetente e tendencioso do Cláudio não escreve nada sobre as várias vezes que o João Campos foi injustamente desclassificado na categoria e conseguiu reverter o resultado no tribunal desportivo da Confederação Brasileira de Automobilismo, recuperando os pontos?", desafiou.
A situação verificada após a prova em Londrina leva João Campos a uma revisão retrospectiva dos fatos. "O Abramo disse que já está de saco cheio. Quem diz isso somos nós", ressaltou, citando, como exemplo, a terceira etapa de 2005, na pista gaúcha de Santa Cruz do Sul. "O Eduardo Freitas tomou uma porrada do Emerson Duda no final da reta e não houve sequer uma bandeira de advertência", lembrou. "Ou será que o regulamento é diferente para a nossa equipe?".
João Campos se diz um colaborador da Pick-up Racing. "Se as corridas têm transmissão pela tevê neste ano, foi porque eu ajudei, e os organizadores do campeonato sabem bem disso. Se existe um patrocinador que paga a geração de imagens de tevê, foi porque eu o trouxe, os organizadores também sabem disso. Se tem um piloto que banca a contracapa de todas as edições da revista oficial da categoria, sou eu, e os organizadores sabem disso, também", enumera.
Diante de tal colocação, João Campos estabelece um comparativo. "Qual é a contribuição do piloto Abramo Mazzochi para o crescimento da categoria? Será que esse é o preço por eu estar ajudando tanto o evento?", ele questionou. A temporada da Pick-up Racing terá seqüência no dia 2 de outubro, no Autódromo Internacional de Cascavel. Mesmo com a punição que recebeu em Londrina, João segue líder do campeonato, ainda com uma vantagem de nove pontos.