A tradicional Copa São Paulo de juniores foi criada em 1969 com o objetivo de revelar novos talentos no futebol brasileiro. A missão até que alcançou resultados positivos, já que "criou" jogadores como Toninho Cerezo, Raí, Casagrande, Rogério Ceni e Dener.
Mas, recentemente, o torneio virou uma espécie de "caça-nível" de empresários e, de acordo com um técnico ouvido pelo Terra Esportes, perdeu seu encanto por estar repleta de "gatos\" (jogadores registrados de forma ilegal para ter uma idade menor e poder atuar na competição, que só permite nascidos a partir de 1985).
O treinador, que não quis se identicar, estará comandando uma grande equipe na edição deste ano, que começa nesta terça-feira. Segundo ele, os empresários colocam esses jogadores para disputar a Copa São Paulo e, posteriormente, ganharem dinheiro com a venda de seus direitos. "Isso faz com que essa prática se torne recorrente ao longo dos anos", disse.
"Depois, todo mundo acaba se surpreendendo quando um time grande como o Palmeiras, por exemplo, acaba perdendo para um time desconhecido. O problema é que essas mesmas pessoas não sabem que, enquanto o Palmeiras joga com atletas de 16, 17 anos, esse time joga com atletas de 22, 23 anos, acima do permitido pela Federação", completou.
O treinador afirmou que a Federação Paulista de Futebol (FPF) não tem como fazer nada para impedir porque, quando descobre, a competição já se encerrou ou o eventual time já foi desclassificado.
O Terra Esportes entrou em contato com a entidade, mas os funcionários estão em recesso e só voltam a trabalhar no dia 2 de janeiro. Já o presidente Marco Polo del Nero também foi procurado, mas, de acordo com uma atendente de seu escritório, ele encontra-se de férias.
O técnico dos juniores do São Paulo, Marcos Vizolli, também acredita na existência dos "gatos" na Copa São Paulo, mas minimiza o problema. "Gato existe no mundo inteiro. Quando algum caso acontece aqui no Brasil, os clubes resolvem o problema entre si. Não é necessária a intromissão da federação", disse.
Coincidência ou não, nos últimos anos, quando aumentou o número de "gatos" no torneio, segundo a acusação do treinador ouvido pelo Terra Esportes, o número de revelações que depois ganharam espaço no cenário nacional despencou. O último talento que despontou na Copa SP foi o atacante Vagner Love, que disputou o torneio em 2003 e foi vice-campeão - perdeu na final para o Santo André, nos pênaltis.
Kaká e Robinho, que hoje brilham no futebol europeu pelo Milan e Real Madrid, respectivamente, chegaram a participar da Copa SP, mas amargaram a reserva no São Paulo e Santos durante as edições que disputaram.
Inchaço
Os times desconhecidos estão cada vez mais presentes na competição. O torneio, que tinha 64 times em 2003, terá 88 em 2006, divididos em 22 grupos de quatro clubes. Há representantes de todos os cantos do país (26 estados, mais o Distrito Federal).
Os clubes de São Paulo, porém, são a maioria: 37, o que significa 42% do total. Para a segunda fase vão os primeiros colocados de cada grupo, mais os dez melhores por índice técnico, independente do grupo que ocupam.
A fórmula de disputa é criticada pelo coordenador das categorias de base do Corinthians, Adaílton Ladeira. Para ele, o critério da escolha das equipes deveria ser feito com base nos campeonatos estaduais das categorias sub-20.
"Desta forma, escolheríamos realmente os melhores de cada Estado, e não permitiríamos a entrada de times sem tradição, que são reféns na mão de empresários. O XV de Jaú, atual campeão paulista, não está participando. E, por exemplo, o Ceres, do Rio de Janeiro, está. Alguém já ouviu falar no Ceres? Então é porque alguma coisa está errada", afirmou.
O "inchaço" da competição é apontado como um dos principais motivos do não surgimento de talentos na Copa São Paulo. Para muitos, uma "Copinha" com muitos times não permite que os jogadores se desenvolvam durante a competição, e com isso bloqueia a aparição de novos craques.
O técnico do Santos, Márcio Fernandes, concorda com essa tese. "Como a competição é de tiro curtíssimo, se perdemos o primeiro jogo por um descuido qualquer estaremos praticamente fora da competição, o que é extremamente prejudicial para quem quer desenvolver suas jovens promessas".