Da Redação
O jiu-jitsu entrou na vida de Juan Pedro Gomes Ramirez, conhecido no meio esportivo como “Cabeça”, no fim de 1999. O que o inspirou foi uma cena que marcou gerações: o brasileiro Royce Gracie lutando no UFC. A partir dali, ele decidiu seguir no tatame e nunca mais parou. Nascido em Campo Grande no dia 28 de janeiro de 1982, hoje é faixa-preta, head coach da Fight Sports Brasil, educador físico e professor de crianças, unindo técnica, experiência e ensino para diferentes perfis de praticantes.
Recentemente, ele viveu um dos momentos que considera mais importantes de sua trajetória: a inauguração do novo centro de treinamento da equipe. “Fazer parte da Fight Sports pra mim é algo marcante. Nesse último final de semana inauguramos o nosso centro de treinamento, um dos melhores do Brasil aqui em Campo Grande. Isso está sendo muito marcante”, resume.
A caminhada até se tornar treinador também foi marcada pela formação acadêmica. Ao cursar Educação Física, Juan Pedro percebeu a importância de alinhar a prática à ciência. “Eu sempre fui lutador de jiu-jitsu e quando fiz faculdade de Educação Física comecei a entender que não dá pra trabalhar com achismo e sim com estudos. Isso tornou mais fácil ser professor”, afirma.
Essa mentalidade, que une disciplina e conhecimento, se reflete no trabalho com crianças. Para ele, o tatame é um espaço de transformação pessoal. “Vejo o jiu-jitsu como uma ferramenta extremamente necessária para educar crianças. No tatame entregamos confiança, ensinamos resiliência e as mudanças ali são muito perceptíveis. A criança começa a te olhar no rosto, fica mais segura de si”, explica.
Como head coach, “Cabeça” também vivencia a diferença entre perfis de alunos: os atletas que sonham com títulos e os praticantes que buscam saúde ou qualidade de vida. “A principal diferença entre atletas de rendimento e o atleta recreativo é que o atleta profissional está em busca do seu sonho, e eu não posso brincar com o sonho de uma pessoa. Tenho que entender as fases desse atleta e respeitar cada uma delas. Já o recreativo procura uma válvula de escape do seu dia a dia ou um esporte para melhorar sua saúde, e eu tenho que entender esses momentos também para poder entregar o melhor para cada caso.”
No tatame, já passaram alunos que se tornaram grandes atletas. Ele cita exemplos como Lorrayne Souza, que se destacou no Brasil e hoje treina nos Estados Unidos com Roberto “Cyborg” Abreu, e Bryan Maurício, que trocou o kung-fu pelo jiu-jitsu e se tornou campeão em sua categoria. No entanto, Juan Pedro vê a superação de pessoas comuns como ainda mais marcante. “O que me marcou não é nem os atletas, porque vejo que eles estão ali para serem campeões e, infelizmente, na competição apenas um ganha. Mas agora você ver um médico, um advogado, um promotor, pessoas com a vida já bem estabilizada, se colocarem à prova e ir lá competir, isso não tem preço. Porque ali você viu a mudança, e não é só porque estão competindo, é porque não precisavam se pôr à prova e foram lá.”
Esse impacto, segundo ele, explica também o crescimento do jiu-jitsu nos últimos anos. “Acho que o caos no mundo atual fez o jiu-jitsu dar esse hype, porque como te disse, ali no tatame você ganha confiança, resiliência e força que também é convertida para fora do tatame. Quem não quer todos esses benefícios?”, questiona.
Para os jovens que sonham em se tornar atletas, ele deixa claro que oportunidades não faltam. “Sempre haverá espaço para novos talentos, desde que esse talento tenha competência e vontade para se manter”, afirma.
A nova estrutura da Fight Sports em Campo Grande representa não apenas um espaço físico, mas também um passo importante para consolidar esse projeto. “Cara, acabamos de inaugurar um dos melhores centros de treinamento do Brasil, então as expectativas estão bem grandes. Espero que daqui a uns dois ou três anos possamos voltar a ter essa conversa para eu te mostrar os resultados.”