Natural de Campo Grande (MS), o atleta Guilherme Fernandes, de 30 anos, atualmente defende o Kumanovo, clube da primeira divisão de handebol da Macedônia do Norte. Sua trajetória, marcada por esforço, persistência e transições internacionais, começou nas quadras da escola Licurgo, em Campo Grande, e passou por grandes clubes do Brasil como São Caetano do Sul, em São Paulo, até alcançar o cenário europeu.
A mudança para a Europa aconteceu no início , quando Guilherme recebeu um convite de um técnico macedônio com quem já havia trabalhado durante uma passagem anterior pelo KH Kastrioti, também da Europa em 2022. “Como ele já conhecia meu trabalho e minha dedicação, me convidou para integrar a equipe do Kumanovo, onde ele estava atuando naquele momento. Foi uma chance incrível de voltar à Europa e seguir crescendo como atleta”, afirma Guilherme.
A transição do handebol brasileiro para o europeu exigiu adaptações não apenas físicas, mas culturais. O atleta destaca que o idioma e o clima foram os principais desafios. “Aqui o inverno é muito rigoroso, com temperaturas que chegam a -10°C ou até menos — algo totalmente diferente do que eu estava acostumado no Brasil. O idioma também foi uma barreira grande no começo. A maioria das pessoas se comunica em macedônio, inclusive dentro de quadra, e nem todos falam inglês”, explica. Segundo ele, nos primeiros meses, foi necessário contar com a ajuda de colegas que pudessem traduzir orientações durante os treinos.
No aspecto esportivo, Guilherme observa diferenças significativas no ritmo e na estrutura do handebol europeu. “O ritmo de jogo é muito mais intenso e o volume de treinos é alto. É uma exigência constante, tanto física quanto mental, o que acaba acelerando muito o desenvolvimento do atleta.” A rotina no Kumanovo inclui treinos físicos, táticos e análises de jogos. “Na Europa, jogamos em média de 1 a 2 vezes por semana, o que exige uma constância muito grande tanto física quanto mental”, afirma.
Apesar das dificuldades, o campo-grandense encontrou formas de se adaptar à nova realidade. “Hoje moro com três brasileiros, e isso ajuda muito na adaptação. A gente se apoia bastante, compartilha as experiências e acaba tornando a rotina mais leve e fácil de lidar.”
Ao relembrar a trajetória desde a base até o cenário internacional, Guilherme aponta momentos decisivos. “Um dos mais especiais foi ter sido convocado para a Seleção Brasileira Juvenil, ainda na base — foi uma realização enorme pra mim”, destaca. Outro momento marcante foi em 2021, quando se destacou como artilheiro do Sul-Centro Americano de Clubes, competição continental que reúne os melhores times da América do Sul.
Mas nem tudo foram conquistas. Lesões ao longo da carreira também marcaram sua trajetória. “É sempre um desafio físico e emocional, mas também faz parte da caminhada de qualquer atleta e traz muito aprendizado.”
Mesmo atuando fora do Brasil, Guilherme mantém contato com amigos, atletas e técnicos de sua cidade natal. “Acompanho os jogos sempre que possível e sigo as novidades pelas redes sociais. Acho importante valorizar e apoiar quem continua promovendo o desenvolvimento do esporte no nosso estado”, afirma.
Com relação ao handebol brasileiro, Guilherme é claro ao apontar avanços e desafios. “Temos excelentes atletas, técnicos comprometidos e projetos de base nas escolas que são realmente promissores. O problema está na falta de continuidade, especialmente na transição da base para o adulto, por conta da escassez de investimento, patrocínio e visibilidade”, avalia. Ele reforça que Mato Grosso do Sul é um “celeiro de atletas” e que, mesmo com o potencial, falta apoio de longo prazo.
Guilherme também se impressiona com a valorização do handebol na Macedônia do Norte. “Os ginásios estão sempre cheios, as pessoas realmente pagam ingresso pra assistir handebol. Na Macedônia, o handebol é o principal esporte do país, então está em todos os lugares: nas conversas, na mídia, no dia a dia.”
Sobre o futuro, o atleta revela planos de retorno ao Brasil. Formado em Educação Física, ele pretende seguir na área esportiva. “Meu objetivo é me especializar cada vez mais e, quem sabe, me tornar técnico de alto rendimento, contribuindo para o crescimento do esporte no país.”