Aos 31 anos, o campo-grandense Felipe Cabreira Melgarejo de Barros carrega no currículo títulos expressivos no karatê e a missão de dar continuidade a um legado que começou há quase quatro décadas. Discípulo da sensei Danielle, ele faz parte da linhagem de alunos formados a partir do trabalho do sensei Adecildo Araújo, o Didi, fundador da Academia Araújo de Artes Marciais, falecido há alguns anos.
O primeiro contato de Felipe com as artes marciais não veio de uma escolha planejada. Ele lembra que tudo começou após um episódio na escola. “Acabei me envolvendo numa briga e levei a pior. Meu pai, querendo que eu aprendesse a me defender e a ter disciplina, me colocou no kung fu, mas na época não me identifiquei”, conta. A busca por algo que realmente despertasse interesse levou a uma conversa em casa. “Um dia, ele me perguntou qual arte marcial eu realmente gostaria de praticar, citando kung fu, judô, capoeira e karatê. Sem pensar muito e sem conhecer profundamente, escolhi o karatê. Foi então que ele me levou para conhecer a Academia Araújo, fundada pelo Sensei Didi. Na época, o mestre já havia falecido, e quem comandava a academia era a Sensei Danielle, discípula direta dele. A partir daquele momento, comecei minha jornada no karatê e nunca mais parei.”
Felipe diz que, ao longo do tempo, entendeu que o karatê não se restringe a golpes ou competições. “O que mais me marcou foi entender que o karatê vai muito além de golpes e competições. Ele ensina a importância da disciplina, da humildade e da perseverança, valores que levo para todas as áreas da minha vida.”
Hoje, como faixa-preta 3º dan, ele carrega uma responsabilidade que vai além dos treinos. “É uma honra imensa. A Sensei Danielle manteve viva a essência dos ensinamentos do Sensei Didi, e ser um dos seus faixas-pretas significa carregar uma linha direta desse legado. Em 2025, a Academia Araújo completa 40 anos de história e tradição, e fazer parte dessa trajetória é, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade e um privilégio.”
Na rotina como professor, Felipe busca manter as tradições, mas também adaptar a metodologia aos tempos atuais. “Procuro preservar a essência do que ele ensinava: o karatê como ferramenta de formação de caráter. Mantenho as tradições, a metodologia de treino e a importância do respeito dentro e fora do dojô, ao mesmo tempo que busco adaptar o ensino aos tempos atuais.”
Para ele, os valores que sustentam o trabalho na academia permanecem os mesmos que orientavam o fundador. “Disciplina, respeito, humildade, perseverança e espírito de equipe. Não formamos apenas atletas, mas pessoas preparadas para os desafios da vida.”
Com um histórico competitivo que inclui dez títulos estaduais, quatro brasileiros, dois internacionais e três sul-americanos, Felipe vê nessas conquistas um instrumento de motivação para os alunos. “Ser 3° Dan e acumular títulos como 10x campeão estadual, 4x campeão brasileiro, bicampeão internacional e tricampeão sul-americano representa muito esforço e dedicação. Isso inspira meus alunos a acreditarem que, com trabalho e foco, eles também podem alcançar grandes conquistas.”
Ele também acompanha de perto o desenvolvimento de novos faixas-pretas e afirma que o maior desafio está no entendimento do que essa graduação realmente significa. “O maior desafio é fazê-los entender que a faixa-preta é apenas o começo de uma jornada. Ela exige constante aprimoramento técnico e, principalmente, evolução pessoal.”
Quando questionado sobre os momentos mais marcantes da carreira, Felipe divide a resposta entre a vivência como atleta e como professor. “Como atleta, lembro com orgulho das minhas vitórias internacionais, que representaram não só conquistas pessoais, mas também para a academia e para o Estado. Como professor, cada graduação de um aluno é um momento marcante, pois simboliza a continuidade do legado.”
Para o futuro, ele prevê um caminho de crescimento para o Araújo Dōjō, que completa 40 anos em 2025. “Vejo a Academia Araújo cada vez mais forte, expandindo seu alcance e formando novas gerações de praticantes. Meu objetivo é manter o nível técnico elevado, ampliar a participação em competições e reforçar o papel social do karatê na comunidade.”
A mensagem que deixa aos iniciantes resume a visão que construiu ao longo de anos no tatame. “Tenham paciência, disciplina e determinação. O karatê é um caminho que transforma de dentro para fora. Cada treino é um passo, e a jornada é tão importante quanto as vitórias.”