Da Redação
O esporte transformou a vida de Anderson Ramos da Mota, professor de educação física, faixa preta 2º dan de kickboxing, campeão pan-americano e hoje diretor de Esportes do município de Terenos. Ex-motorista de caminhão por 16 anos, ele encontrou nas artes marciais o caminho que o levou a novas oportunidades e a um trabalho de formação esportiva que hoje beneficia centenas de jovens da cidade.
“Eu sempre gostei da luta em pé, e em 2011 comecei a treinar kickboxing, mas sem pretensão de disputar campeonatos. Aí veio a pandemia e tudo parou”, lembra. O retorno ao esporte aconteceu em um momento delicado, quando enfrentava crises de ansiedade. “Foi aí que a chave virou. Calcei as luvas e comecei a treinar em casa sozinho. Quando voltei ao ritmo, decidi criar um projeto social para atender jovens do município que tinham passado pela pandemia e perdido amigos e familiares.”
A iniciativa teve o apoio da Federação de Kickboxing, presidida por Joemerson Leite, e marcou o início de uma nova fase na vida de Anderson. Para motivar os jovens do projeto, ele decidiu voltar a competir. “Fui campeão estadual, ganhei vaga para o brasileiro e fui vice-campeão. Depois, ganhei a Copa Brasil e o Pan-Americano. Fui convocado pela Seleção Brasileira e disputei o Mundial em Portugal, em 2023. Na ocasião, fui o único atleta convocado do estado de Mato Grosso do Sul”, conta.
Sobre as conquistas, Anderson afirma que todas têm um valor pessoal, mas destaca a experiência internacional. “Todas as lutas que fiz tive que ganhar de mim mesmo antes de tudo. As dificuldades para chegar aos eventos, treinar em outras academias e buscar conhecimento foram grandes, mas o que me marcou muito foi a ida para o Mundial em Portugal. Isso mostrou que podemos sair de uma cidade do interior, com pouco recurso e muita vontade, e chegar em qualquer lugar dentro do esporte.”
O caminho percorrido até ali foi determinante para as mudanças que viriam. O kickboxing, além de ajudá-lo a lidar com questões pessoais, abriu novas perspectivas profissionais. “O kickboxing me motivou a fazer uma faculdade de Educação Física e me abriu muitas portas. Hoje sou diretor de Esportes do município de Terenos e estamos fazendo um trabalho de base incrível aqui, não só no kickboxing, mas em diversos esportes olímpicos e não olímpicos.”
Entre os projetos mantidos pela Diretoria de Esportes estão aulas gratuitas para crianças e adolescentes de 8 a 15 anos. “Temos capoeira, voleibol, futebol, judô, kickboxing, balé, jiu-jitsu e hidroginástica. Para o ano que vem, em 2026, iremos inserir beach tênis, natação e zumba.” Anderson explica que a proposta é ampliar o acesso ao esporte e criar oportunidades desde cedo.
Segundo ele, os desafios da gestão esportiva são constantes. “Trabalhar com esporte é um desafio em todo lugar, e aqui não seria diferente. Sempre queremos melhorar alguma coisa, mas estamos bem encaminhados.” Essa visão prática vem da própria vivência como atleta. “Eu amassei o barro, sei das dificuldades e desafios para chegar em um campeonato. Sei que a parte financeira, com transporte, alimentação e hospedagem, é o que mais pesa. Sabendo disso, a gente trabalha para amenizar essa situação e faz com que nossos atletas se preocupem em treinar e chegar bem.”
O diretor também avalia o cenário das artes marciais no Estado e acredita que o kickboxing tem se fortalecido nos últimos anos. “O kickboxing é um esporte que cresceu demais. Apesar de já ser reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional, ainda não debutou em uma edição olímpica. A perspectiva é que em 2032 esse sonho se realize. Hoje temos grandes nomes do Estado disputando grandes eventos e, com o incentivo da Fundesporte e do Bolsa-Atleta, tenho certeza de que virão grandes coisas por aí.”
Em Terenos, o incentivo à formação de novos atletas é prioridade. Anderson cita o “Projeto Esporte para Todos”, que trabalha a base do kickboxing de forma gratuita, e a lei municipal que garante apoio financeiro aos atletas convocados. “Criamos uma lei que garante diárias de 300 a 600 reais para atletas convocados pela seleção estadual ou pela seleção brasileira, para que possam participar dos campeonatos.”
Para ele, o impacto do esporte vai além dos resultados dentro do tatame. “O esporte é uma ferramenta de transformação na vida das pessoas. Ele pode te levar a lugares incríveis. Eu sou prova disso. Na minha opinião, é a pasta mais importante do município, não desmerecendo as outras, mas pelo poder transformador que o esporte tem.”
Mesmo com as conquistas e o reconhecimento como atleta, Anderson afirma que, neste momento, o foco está na gestão pública. “Agora, como gestor, a vida de atleta fica em segundo plano. A prioridade é fortalecer o esporte no município, buscar apoio para a criação de uma Secretaria de Esportes com autonomia e ampliar o que já temos.”
Com a experiência acumulada nos tatames e na administração, ele resume o propósito que o move desde o início da trajetória: usar o esporte como instrumento de mudança. “Tudo começou como uma forma de superar meus próprios desafios, e hoje o objetivo é ajudar outras pessoas a encontrarem o mesmo caminho. O esporte muda vidas. Mudou a minha, e pode mudar a de muitos outros.”