Campo Grande (MS) - Parece um cruel castigo. A Federação de Futebol de MS marcou a rodada dos jogos do Estadual Feminino para iniciarem às 13h30min nesta quarta-feira, com a umidade do ar atingindo porcentagens críticas para a prática desportiva. No campo do Estrela do Sul, às 13h30, jogam Operário FC e Rio Verde. Às 15h00 é a vez de Comercial e Moreninhas. Na quinta-feira, em Corumbá, jogam Nova Corumbá e União.
"Esses horários de jogos, ainda mais com as condições atuais de nosso clima, é desumano e muito cruel participaramos de um evento nestas condições", disse José Carlos da Silva, dirigente da equipe da Associação Atlética Moreninhas, que classificou ainda as condições impostas pela FFMS com uma verdadeira "barbárie".
A responsabilidade pelo Estadual Feminino de Futebol é da Federação de Futebol de MS e do Sindicatos dos Árbritos de MS, que receberam recursos volumosos da Fundesporte para promoverem e fomentar o futebol feminino, mas nem de longe fazem isso. Exemplos deste descaso com o futebol feminino são mostrados com os horários marcados para as partidas, e o intervalo de tempo entre uma partida e outra (apenas 24 horas de descanso).
Porém, basta ter o mínimo de bom senso para verificar o desserviço prestado por estas entidades. Segundo Marco Antônio Tavares, vice-presidente executivo da FFMS, a tabela foi definida em congresso técnico e foram os próprios clubes que pediram essas datas. A reunião teria contado com representantes do Comercial, Operário, Rio Verde, União/Aquidauana, AFC/Anastácio, Nova Corumbá e outros, que Tavares afirmou por telefone "não lembrar de cabeça". Porém, o Esporte Ágil conversou esta semana com quatro desses clubes que afirmaram: não houve congresso técnico.
Perguntados sobre a existência da reunião, os representantes das equipes se mostraram indignados. "Eu não participei", afirmou Zé Carlos, do Moreninhas. Romilda, do Comercial, foi ainda mais enfática. "Não teve, de jeito nenhum", disse. "Que eu saiba não", resumiu Du Toninho, técnico do Nova Corumbá. De todos os questionados, Luciano de Arruda, treinador do União/Aquidauana, foi o que se mostrou mais surpreso. "Agora que ficamos sabendo", afirmou, depois de curiosamente perguntar ao repórter "quando seria o congresso técnico".
A reportagem ligou novamente para Marco Tavares pedindo explicações sobre os fatos. A ata do suposto congresso técnico foi prometida na terça-feira (15), no entanto desde então o dirigente não respondeu às ligações telefônicas do Esporte Ágil e nem ao menos retornou. A ata, até o fechamento da matéria, não foi enviada ao site.
Além do desconhecimento do processo de formação da tabela, os times que forem disputar a competição vão ter mais uma preocupação: o cansaço. Em alguns jogos da primeira fase e durante as semifinais e finais, a tabela prevê que as equipes terão menos de um dia de descanso de uma partida para outra. "Não vai ter um tempo de recuperação. O ideal é você ter pelo menos 24 horas de descanso, porque não se sabe que tipo de intensidade será o esforço", afirma o médico do esporte Cléberson Dias Lima, que ainda ressaltou o fato dessa fadiga poder ser tanto periférica (física) quanto central (emocional).
Onde está todo o dinheiro? - No começo do ano, o Sindicato dos Ábitros de Mato Grosso do Sul (Sindárbitros), em parceria com a FFMS, recebeu do Fundo de Investimento Esportivo uma quantia de aproximadamente 140 mil reais para organizar o Estadual Feminino. Serão financiados com o dinheiro a alimentação e a hospedagem das jogadoras. O transporte, em contrapartida, será bancado pelas prefeituras locais de cada equipe. Quanto a premiação, o time campeão receberá apenas troféu e medalhas, além da vaga na Copa do Brasil Feminina 2009. "Que eu saiba, não vai ter premiação em dinheiro", esclarece Roberto Colman, diretor do Sindárbitros.