Em maio de 2021, o campo-grandense Magnun Soares Brandão, 31 anos, pisava pela primeira vez em um tatame. Vinha de treinos no muay thai, mas, após o encerramento das atividades do grupo onde treinava, buscou uma nova modalidade. O jiu-jitsu apareceu quase por acaso, por meio de uma foto postada por um amigo. “Vi uma foto do meu amigo Tizão, o Gabriel, treinando jiu-jitsu. Entrei em contato com ele, perguntei como funcionava, e ele me chamou pra uma aula experimental. Me emprestou um kimono e eu fui”, lembra.
Aquela experiência, aparentemente comum, acabou se transformando em um divisor de águas. “Seria a primeira vez que eu pisava em um tatame, mal sabia eu que seria a melhor escolha da minha vida”, afirma Magnun. O receio inicial, especialmente por conta de cirurgias nos ombros, foi rapidamente superado. “O ambiente que eu encontrei foi bem diferente do que imaginava. Não era apenas uma academia, era uma família de jiu-jitsu.”
Desde então, a dedicação ao esporte se tornou parte central da sua rotina. O início, como para muitos atletas, não foi fácil. “A parte mais difícil foi conciliar família, jiu-jitsu e trabalho”, revela. Ainda assim, em poucos meses ele já encarava sua primeira competição. “Me lembro como se fosse ontem: 17 de julho de 2021, na associação de moradores do Coophavilla II. Tinha uns três meses de treino e já fui incentivado a participar”, relata. Naquela ocasião, pesando 76 kg, encarou a categoria até 88 kg e terminou em terceiro lugar. “Aquele foi o dia em que o terceiro lugar era o lugar mais feliz da terra. Tive certeza de que queria fazer jiu-jitsu pro resto da vida.”
Entre os momentos mais marcantes da trajetória, ele cita a conquista do cinturão de melhor do ranking em 2024, ano em que terminou invicto em sua categoria. “Lutei todos os campeonatos da federação e não perdi nenhum”, conta. No entanto, o momento de maior realização pessoal foi longe das medalhas. “Foi quando meu filho fez o primeiro treino de jiu-jitsu. Nesse dia eu me senti um super pai.”
Hoje, sua rotina inclui treinos de segunda a sexta-feira, com sessões de kimono às segundas, quartas e sextas, e no-gi (sem kimono) às terças e quintas. A preparação física acontece no intervalo do almoço, sob orientação de Stanley Vargas. “Divido uma hora e meia entre musculação e almoço, porque trabalho”, diz. O cuidado com a alimentação e a recuperação também fazem parte da rotina. “Temos um projeto na academia chamado SHARK, onde nosso professor conseguiu nutricionista e fisioterapeuta para a molecada. Temos apoio da academia Big Gym, aqui da Moreninha.”
O apoio citado por Magnun é um reflexo do trabalho coletivo realizado na equipe. Segundo ele, o crescimento do jiu-jitsu em Campo Grande tem relação direta com o esforço de nomes como o professor Fábio Rocha, organizador de campeonatos na cidade. “O jiu-jitsu tem evoluído muito. Nossa academia voltou recentemente do GP de Abu Dhabi com três medalhas: duas de ouro e uma de bronze. Nosso professor foi campeão no International Master, na faixa-preta. Os resultados mostram que o serviço está sendo feito de forma correta.”
Apesar da vontade de competir fora do país, o fator financeiro ainda é um obstáculo. Mas a inspiração vem de dentro da própria academia. “Temos a Fernanda Brito, que foi competir o Europeu em Lisboa. Ela foi a pioneira, a primeira a sair da quebrada pra bater nas mina lá na Europa”, brinca. “A partir daí o céu é o limite. Logo vamos chegar lá com uma boa quantidade de atletas e com excelente qualidade.”
Na parte psicológica, a equipe também oferece suporte. “No nosso CT temos uma psicóloga e nosso professor nos ensina a manter a concentração. Aprendemos a controlar o que podemos controlar: treino, dieta, preparação, estudo.” Sobre derrotas, a filosofia é clara. “Nunca perdemos. Ou vencemos ou aprendemos. Pode parecer clichê, mas é a mais pura verdade.”
Embora não atue como professor oficialmente, Magnun transmite seu conhecimento aos mais novos como parte da cultura da equipe. “Na nossa academia, os graduados têm a obrigação de cuidar do desenvolvimento dos novos alunos. Isso por si só já se torna quase que uma aula.” Para ele, ensinar é também uma forma de aprender. “Quando ensinamos alguém, aprendemos duas vezes.”
O foco agora é o Campeonato Brasileiro de 2026. Até lá, cada competição será uma etapa de preparação. “Todos os campeonatos que vierem antes são experiências para se testar no maior palco do jiu-jitsu do mundo.”
Aos que estão começando, o recado é direto: “Não desistam de maneira nenhuma. Se divirtam, façam amigos, entrem em campeonatos, saiam na porrada. O jiu-jitsu é a melhor ferramenta para você se conhecer e conhecer o seu próximo. Leve seus amigos, seus familiares e aproveitem o melhor esporte do mundo.”