Da Redação
“Subir no ringue é uma sensação única, que só quem vive sabe.” É assim que Rozana Gomes de Jesus, de 33 anos, define o que sente ao competir. Natural de Água Boa (MG) e moradora de Dourados (MS), ela começou no kickboxing em 2023, mas sua ligação com as artes marciais vem desde a infância.
Rozana cresceu praticando capoeira, e foi nesse ambiente que desenvolveu o gosto pela disciplina e pela superação. “Desde criança eu praticava capoeira, e até hoje às vezes vou na academia do Mestre Guerreiro, onde fui acolhida e sou até hoje. A capoeira me ensinou muito sobre equilíbrio, paciência e respeito”, conta.
Em 2018, ela iniciou os treinos de lutas em Curitiba, na academia Santa Fé Team. O objetivo inicial era apenas melhorar a saúde. “Entrei nas lutas porque estava acima do peso e queria cuidar mais da minha saúde. Depois fui tomando gosto e o que era apenas uma atividade virou uma paixão e um estilo de vida”, lembra.
De lá para cá, Rozana acumulou 14 lutas no kickboxing, com 11 vitórias e 3 derrotas, sendo uma delas por nocaute. Ela representou o Brasil no Campeonato Pan-Americano de Kickboxing, realizado no Chile, e subiu ao pódio com a medalha de bronze na categoria 70+. “Foi uma conquista enorme pra mim, tanto pessoal quanto profissional. Enfrentei muitos desafios pra conseguir ir, inclusive financeiros. Fiz rifa, corri atrás de apoio, mas mesmo assim acabei voltando com dívidas que até hoje ainda estou quitando. Isso mostra como é difícil a vida de atleta no Brasil, mas também o quanto vale a pena quando a gente acredita no que faz.”
A atleta lembra bem da primeira vez que competiu. “Eu estava muito nervosa, mas ao mesmo tempo empolgada. Foi uma mistura de medo e adrenalina — e ali eu percebi que era isso que eu queria pra minha vida.”
A rotina de Rozana é intensa. Ela treina seis dias por semana, alternando entre modalidades e horários. “Treino de segunda a sábado, intercalando kickboxing, musculação, corrida e outras modalidades como jiu-jitsu e muay thai. Quando não estou no meu trabalho fixo, também dou aulas de personal fight, o que me ajuda a continuar no ritmo e a inspirar outras pessoas a cuidarem do corpo e da mente.”
Atualmente, a atleta se prepara para um novo passo na carreira: migrar para o MMA. “Estou me preparando para outro salto importante na minha carreira, que é lutar MMA. Tenho treinado no horário das 11h30 e, quando não consigo, vou às 18h30 no jiu-jitsu, na academia 99Nine, aqui em Dourados.”
Conciliar os treinos, o trabalho e a vida pessoal não é tarefa simples. “Os meus maiores desafios sempre foram conciliar os estudos, o trabalho e a rotina intensa de treinos. A vida de atleta exige muita disciplina, e nem sempre é fácil equilibrar tudo”, explica.
Outro obstáculo recorrente é a busca por apoio financeiro. “Outra grande dificuldade é conseguir patrocínio. Acredito que, por ser mulher, ainda existe um pouco mais de resistência, mas eu sigo firme porque faço tudo por amor ao esporte.”
Para Rozana, as artes marciais representam mais do que competição — são um instrumento de fortalecimento pessoal e coletivo. “O que mais me inspira é ver minha evolução, perceber o quanto já conquistei e o quanto ainda posso conquistar. Além disso, ver cada vez mais mulheres entrando no esporte me motiva demais.”
Ela acredita que o kickboxing tem ajudado muitas mulheres a se fortalecerem emocionalmente e a se defenderem. “Num momento em que a violência contra a mulher ainda é uma realidade, o kickboxing tem ajudado muitas mulheres a se fortalecerem, se protegerem e acreditarem mais em si mesmas.”
Em Mato Grosso do Sul, Rozana observa uma evolução no cenário feminino das artes marciais. “Vejo um crescimento enorme e muito bonito. As mulheres estão ganhando cada vez mais espaço e respeito dentro das artes marciais. Em Mato Grosso do Sul, o número de atletas femininas vem aumentando e isso mostra que o esporte está se expandindo e inspirando outras mulheres a acreditarem na própria força.”
Mesmo com o avanço, o apoio ainda é limitado. “Atualmente, eu tenho alguns apoiadores que me ajudam bastante, e sou muito grata por isso. Porém, ainda não é o suficiente para cobrir todos os custos de eventos maiores, principalmente competições fora do país. Mesmo assim, sigo tentando conquistar meu espaço e buscando mais oportunidades, porque acredito que o reconhecimento vem com o tempo e com muito esforço.”
Rozana também faz questão de incentivar outras mulheres a conhecerem o universo das artes marciais. “Diria pra não deixarem o medo vencer. As artes marciais mudam tudo — o corpo, a mente e a autoconfiança. É um caminho de superação e empoderamento. Toda mulher deveria se permitir viver essa experiência.”
Com o olhar voltado para o futuro, Rozana mantém os pés firmes no chão e os punhos prontos para novos desafios. “Meus próximos objetivos são continuar evoluindo tecnicamente, competir mais, buscar novos títulos e representar cada vez melhor o meu estado e o meu país. Quero crescer como atleta, inspirar outras mulheres e mostrar que com dedicação e amor pelo esporte, tudo é possível.”