Aos 15 anos, o três-lagoense Samuel Munhoz Ferreira Alcamin encontrou no vôlei de praia o espaço onde decidiu construir sua vida esportiva. A caminhada começou em 2022, de forma inesperada, após assistir a um desenho sobre o esporte na televisão. “Eu comecei a pesquisar mais sobre o vôlei, nunca tinha dado certo em nenhum outro tipo de esporte, como futebol ou basquete, e na realidade era gordinho e sedentário”, recorda.
A primeira experiência veio com o vôlei de quadra. Samuel acompanhava duas amigas gêmeas em treinos femininos durante as férias escolares, no início de 2022. Com a volta das aulas, ele parou de treinar, já que os horários coincidiam com os estudos. O encontro com a treinadora Ana Rita, no entanto, mudou o rumo de sua trajetória. Ela organizava treinos pela manhã, que abriram a porta para que Samuel começasse a se dedicar. “Eram apenas dois treinos na semana, e muitas vezes ficávamos sem treinos por conta das competições que minha treinadora ia. Justamente por isso nunca perdia um treino. Sempre tive a mentalidade de que se eu não me esforçasse, não melhoraria nunca, mesmo que nessa época fosse um hobby.”
O ano de 2023 marcou a virada. Samuel passou a levar o esporte a sério, conciliando o vôlei de quadra e o de praia. No início de 2024, uma lesão em um amistoso alterou sua trajetória. “Tive um estiramento no ligamento do tornozelo junto com uma torção grave. Junto disso, eu nunca fui alto, eu e o líbero na época tínhamos quase a mesma altura, o que levou à minha decisão de abandonar as quadras.”
A limitação de altura, que poderia representar um obstáculo, acabou sendo um fator de escolha. Samuel migrou definitivamente para a areia e descobriu prazer em atuar no fundo de quadra. “Até então eu queria ser frente, mas quando tive o choque em relação à minha altura, comecei a treinar como fundo de quadra, e me apaixonei pela defesa, que virou um dos meus fundamentos favoritos.”
A relação com a treinadora Ana Rita também foi determinante. “Ela pediu para eu confiar minha paixão e sonho a ela e me dedicar 100% ao vôlei de praia, e foi o que eu fiz. Isso mudou minha vida”, afirma.
Samuel aponta que seu maior desafio continuará sendo a questão da altura. “Sempre me subestimam e às vezes até tiram oportunidades por esse fator. Além disso, é difícil encontrar lugares que te ajudem a seguir carreira e ingressar em times. Comparado a outros estados, temos poucas competições aqui, o que diminui a experiência dos atletas.”
Ainda assim, ele carrega o aprendizado de ídolos que o inspiram. “Minha maior inspiração é o Adrielson, por ele ser um atleta ‘baixo’, ser conhecido por seu salto extraordinário e ter conquistado tudo mesmo vindo de um lugar não favorável. Ele me ensina que desistir é uma palavra que não deve estar no meu vocabulário.” Além dele, Samuel também se espelha em Gustavo e Jhow, atletas de Três Lagoas que seguiram carreira após passarem pelo mesmo centro de treinamento. “Eles mostram que é possível conseguir meu sonho de seguir carreira no vôlei de praia.”
Apesar de já ter algumas medalhas regionais, Samuel valoriza outro momento. “O campeonato que mais me marcou foi o Jojums de 2025. Mesmo não subindo ao pódio, foi o que me motivou a criar minha maior meta e sonho para os próximos anos: ser campeão e ir jogar o Brasileiro Escolar, os Jogos da Juventude.”
A rotina intensa faz parte dessa preparação. Ele treina seis dias por semana, intercalando atividades técnicas, academia e treinos físicos. “Nos dias de bola, segunda, quarta e sexta, também vou à academia para fazer exercícios específicos, principalmente para impulsão, pois compenso minha falta de altura no salto. Nas terças e quintas não vou à academia, porque sempre fazemos físicos com a Ana Rita. Então treino de segunda a sábado.”
O próximo passo está bem definido. “Meu maior objetivo no momento é jogar os Jogos da Juventude, mas também busco ser campeão estadual e conquistar uma vaga no Brasileiro.”
Samuel destaca a importância de defender a cidade onde nasceu e o estado de Mato Grosso do Sul. “É uma honra representar minha cidade e estado, porque a gente tem ótimos atletas e técnicos. Só nos falta mais visibilidade e apoio, porque potencial nós temos.”
Ele também reflete sobre o papel da parceria no vôlei de praia. “Não adianta os dois saberem jogar, mas não se conhecerem. Criar sintonia com a dupla começa fora de quadra, sabendo apoiar nos momentos difíceis. Se você não tiver essa conexão, é basicamente impossível ganhar. No vôlei de praia não tem substituição como na quadra, você tem que ter responsabilidade e ajudar seu parceiro quando ele passar por dificuldades, e vice-versa.”
Além do esporte, Samuel procura manter um equilíbrio na vida pessoal. “Busco sempre ser carismático, alegre e ajudar as pessoas. Sei o peso de carregar uma cobrança e um fardo, então sempre busco alegrar e apoiar quem precisa.” Entre os hobbies, ele cita o videogame, filmes, séries e animes, além do tempo com amigos e familiares.
O esporte, que começou como uma curiosidade após um desenho na televisão, se tornou parte central da vida de Samuel. Hoje, o jovem atleta carrega consigo a certeza de que dedicação é indispensável. Como ele mesmo resume, “se eu não me esforçasse, não melhoraria nunca”.