Terça-feira, 25 de novembro de 2025, 01:36

Dulce Bruno: de MS às corridas de elite na França

da redação - 17 de nov de 2025 às 14:38 57 Views 0 Comentários
Dulce Bruno: de MS às corridas de elite na França Da Redação

Dulce Bruno, nascida em 10 de novembro de 1993 em Tacuru, no Mato Grosso do Sul, iniciou sua trajetória na corrida durante a pandemia, em 2020. Criada em Paranhos, ela jogava futebol, mas com a impossibilidade de participar de atividades coletivas, sentiu a necessidade de manter-se ativa. "Comecei a correr no campo de futebol de Paranhos, e aí comecei a correr sozinha, mas eu não entendia de treinos e colocava metas diárias como correr sem parar por 30 minutos e ia aumentando conforme ia ficando 'fácil'. Adicionei umas meninas que já praticavam o esporte há mais tempo, e elas me davam dicas. Em seguida, pedi para o técnico de atletismo do município me ajudar com os treinamentos", conta Dulce.

 

Mãe solo, Dulce enfrentou desafios para conciliar esporte e vida profissional. "Por ser de uma cidade muito pequena, os empregos são escassos e a remuneração na maioria das vezes não é suficiente para se ter uma vida mais tranquila. Então me mudei no início de 2024 para Madrid, onde tenho uma amiga que me recebeu. Não consegui emprego lá e então vim a Paris tentar a sorte e consegui um emprego aqui", explica.

 

Na França, a rotina de treinos é marcada por ajustes devido ao trabalho e ao nível elevado das competições. "Os treinos são mais difíceis de serem realizados por questão de horário mesmo, como eu trabalho, tenho que treinar 'na hora que dá'. As competições têm um nível muito alto, e as premiações aqui não são tão incentivadoras como as do Brasil. Aqui existe premiação apenas para os três primeiros colocados do geral, às vezes com troféu, às vezes só medalha mesmo. Diferente do Brasil, que além de premiar os cinco primeiros colocados com troféu e dinheiro, ainda premia os três primeiros de cada faixa etária. Para mim, era como uma fonte de renda; já aqui continuo praticando o esporte apenas por amor mesmo", diz.

 

Dulce é fundista e compete em distâncias de 5, 10 e 21 quilômetros, com preferência pelas provas de 5 km. "Sou fundista, corro de 5 a 21 km, minha distância favorita é os 5 km. Mas como sou federada em um clube, preciso cumprir as convocações, muitas vezes sou designada a correr distâncias de 1.500 e 3.000 metros na pista! A que mais me desafia são as corridas de pista, porque eu prefiro corrida de rua", afirma.

 

A adaptação ao esporte na França não foi imediata. "No começo foi bem difícil, porque cheguei à França lesionada. Foram cinco meses apenas fazendo musculação e esperando recuperar. Depois voltei a correr, mas sem previsão de participar de competições, porque aqui não é fácil fazer inscrição numa corrida se você não tem documento europeu ou não é federado a algum clube. Então eu só treinava para manter constância e não perder rendimento", lembra. Dulce destaca o apoio de amigos e de seu time no Brasil. "Meus amigos sempre me apoiando e me incentivando a não parar. Sempre foi Deus e meus amigos, meu time Team Ávila, Casanica e o professor Fredy Miranda de Ponta Porã, que nunca me deixaram desistir. Quando eu estava triste, desanimada ou cansada, eles sempre falavam 'faça pelo menos uma rodagem para você manter constância, para o seu corpo continuar praticando', e assim eu fazia".

 

A oportunidade de competir veio quando um técnico francês a observou treinando. "Um dia fui vista por um técnico de um clube aqui da França, que me perguntou se eu não queria me federar ao clube dele. E assim foi. Hoje participo de competições porque estou federada em um clube daqui", relata.

 

Dulce compara o cenário do atletismo na França e no Brasil. "A França vê o atletismo de uma maneira diferente de nós brasileiros. É como se fosse uma obrigação para eles, começa logo no jardim de infância, faz parte de toda a vida escolar dos alunos e continua na fase adulta, porque é um estilo de vida. O governo investe muito tanto no atletismo oferecido pelas escolas quanto nos clubes de federação. Eu, mesmo sendo brasileira, ganho calçados, roupas, não pago inscrição de nada, não gasto nada com viagens para participar das corridas, é tudo o clube que paga, porque o governo investe muito. Diferente do Brasil, que começamos a correr já na fase adulta e temos que nos virar para comprar materiais esportivos. Talvez seja por isso que acredito que os brasileiros são mais felizes correndo do que os franceses", afirma.

 

A experiência mais marcante de Dulce na França foi a classificação para o campeonato francês. "Participei do campeonato regional do Île-de-France e, sem saber, consegui o índice para o Championnate de Athlétisme de France, que ocorreu no sul do país com os melhores atletas da França. Eles não proíbem atletas de outra nacionalidade de participar, mas deixam claro que os campeões serão os três primeiros franceses! Fiquei muito feliz, porque não era algo que eu sonhava, achava que era muito distante para mim, por já ter 30 anos e ser atleta amadora", lembra.

 

Apesar da distância, Dulce mantém contato com o cenário esportivo de Mato Grosso do Sul. "Foi lá que vivi parte importante da minha trajetória esportiva, conquistando títulos e conhecendo atletas que continuam sendo referência e inspiração. Mesmo morando fora, sigo acompanhando eventos e incentivando o crescimento do esporte no estado", explica.

 

Seu conselho para outros atletas é simples: "O mais importante é amar o que fazem. Corram ou pratiquem qualquer esporte pelo prazer de se mover, pelo bem que isso traz ao corpo e à mente, e não apenas pelo pódio ou pela premiação. O resultado é consequência da dedicação e da constância, mas nunca deve ser o principal motivo. Quando a paixão pelo esporte vem primeiro, o sucesso se torna natural, e cada conquista se torna um prêmio adicional, não a razão de continuar".

 

Dulce Bruno projeta o futuro com metas ambiciosas: "Meu sonho é chegar ao nível de atleta de elite da França".

Comentários

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos com * são obrigatórios.

Parceiros

Enquete

O Governo de MS investe o suficiente no esporte sul-mato-grossense?