O ciclista Lourival de Oliveira Lunguinho Junior, de 35 anos, natural de Coxim (MS), encontrou no pedal uma forma de cuidar da saúde física e mental — e acabou transformando o hábito em estilo de vida. “Comecei a pedalar no final de 2017, em busca de mais qualidade de vida, uma forma de equilibrar a saúde mental com a saúde física”, lembra. O que começou como lazer logo virou rotina de treino, superação e competição.

Lourival conta que a mudança foi rápida e motivadora. “Acabei perdendo peso, o que me motivou a continuar e me desafiar cada vez mais. Depois de participar da primeira prova e conquistar um pódio, decidi competir sempre que fosse possível e treinar com foco em melhorar a performance.” Desde então, as competições se tornaram parte da sua rotina, junto com a família, que o acompanha nas viagens. “Como sempre procurei levar minha família para as provas, isso acabou se tornando mais um motivo para viajar e conhecer novos lugares — e tem dado muito certo, graças a Deus.”

Para ele, o desafio faz parte da essência do ciclismo. “Acredito que a prova mais desafiadora é sempre a última, porque depois de dois ou três dias a gente esquece do sofrimento e quer fazer tudo de novo”, afirma, rindo. Lourival cita como exemplo o L’Étape Campos do Jordão, uma das competições mais exigentes do país. “Foi uma prova de estrada com 106 km e 2.300 metros de altimetria. Completei em 3h45min, exatamente dentro da meta que tracei de concluir abaixo de 4 horas.”

O ciclista divide seu tempo entre o mountain bike e o ciclismo de estrada, mas admite que o primeiro ainda é o preferido. “Comecei no mountain bike e, um ano depois, adicionei o ciclismo de estrada. Atualmente, prefiro o MTB, mas é quase um empate técnico. No MTB, sinto mais tranquilidade para treinar nas estradas de chão, o que me traz uma sensação de conexão maior com Deus e com a natureza.”

Com a rotina dividida entre família, trabalho e treinos, Lourival mantém uma disciplina rigorosa. “Treino com assessoria há mais de cinco anos com o professor Marcos Novello, que foi fundamental para minha evolução. Percebi que só comecei a evoluir de verdade quando passei a fazer treinos específicos”, explica. “Hoje, meus treinos são divididos entre a bike, de cinco a seis dias por semana, e academia, uma ou duas vezes.”

Apesar dos resultados e da evolução constante, ele reconhece que há dificuldades para quem pratica o ciclismo em Mato Grosso do Sul. “Um dos maiores desafios, não só aqui no Estado, mas em todo o Brasil, é a segurança. Temos poucas opções de estradas, a maioria de pista simples e com acostamentos de baixa qualidade. Nossas melhores rotas para treinar de speed sequer possuem acostamento.”

A paixão pelo esporte também é alimentada por ídolos. “Minha maior referência é o Henrique Avancini, que considero o ‘Senna’ do ciclismo brasileiro”, diz Lourival. Inspirado por nomes como o do multicampeão, o ciclista sul-mato-grossense busca manter o equilíbrio entre competitividade e prazer no pedal.

Entre as conquistas, ele destaca o Estadual de Contrarrelógio (MTB) como uma das vitórias mais significativas. “Foi um ano em que competi pouco, mas nas provas em que participei consegui subir ao pódio — e isso, para mim, já é uma grande vitória, considerando a rotina de equilibrar família e trabalho.”

As dificuldades físicas também fazem parte do percurso, mas são enfrentadas com determinação. “O desgaste físico é natural, mas controlável — e até ajuda a conhecer melhor o corpo e suas respostas em diferentes situações”, afirma. Lourival relembra um episódio marcante: “Já fraturei e operei a clavícula, mas 13 dias depois já estava pedalando no rolo. É uma lesão bem comum entre ciclistas, devido à forma como costumamos cair.”

Para ele, a motivação está justamente na superação. “Vejo o ciclismo como um esporte de superação — e essa superação eu levo para a vida.”

Com metas claras e novos desafios pela frente, Lourival já pensa na temporada de 2025 e além. “Ainda restam alguns títulos estaduais em disputa — Copa de MTB, Speed e o Estadual de Resistência, que será em Campo Grande. Fora do Estado, ainda não defini nenhuma prova-alvo. Geralmente, no último trimestre do ano, já começo a planejar a temporada seguinte, e para 2026 as metas serão ainda maiores.”

Mais do que conquistas, o ciclista busca transmitir valores e aprendizado às novas gerações. “Já pratiquei vários esportes, mas o ciclismo, por ser de endurance, exige mais tempo de preparação, treino e alimentação controlada. Por outro lado, ele desenvolve resiliência, superação e também inteligência estratégica quando o trabalho em equipe entra em cena.”

Ele acredita que o ciclismo ainda tem muito a crescer no país. “Ainda é um esporte que não está totalmente inserido na nossa cultura, mas já vem conquistando títulos importantes para o nosso Estado nas categorias de base — e acredito que, num futuro próximo, também trará conquistas para o Brasil em Jogos Pan-Americanos e Olimpíadas.”

Aos jovens que sonham em seguir o mesmo caminho, o conselho é direto. “Dediquem-se primeiro aos estudos e aos treinos, compitam com honestidade e tenham um objetivo claro. E para quem está começando, coloque a saúde em primeiro lugar — e, sempre que possível, tenha sua família por perto, torcendo ou pedalando junto. Isso faz tudo valer ainda mais a pena.”