A trajetória da campo-grandense Talita Thielly Rodrigues Freitas, de 34 anos, representa um capítulo importante na consolidação do futevôlei feminino no estado. Ex-jogadora de futsal, Talita migrou para o futevôlei em 2019, impulsionada pelo desejo de experimentar uma modalidade mais complexa e pela paixão pelo esporte com bola. “Sempre amei esportes, especialmente aqueles com bola. O que me motivou foi a dificuldade; o futevôlei é muito complexo e apaixonante”, relata.
A mudança de modalidade ocorreu quando ela conheceu o professor Gilson e começou a treinar no CTGMS (Centro de Treinamento de Futevôlei de Mato Grosso do Sul). Na época, o cenário ainda era embrionário: “Naquela época, não existiam arenas”. O esporte crescia lentamente na cidade e contava com poucas mulheres praticantes, o que tornava a evolução técnica mais difícil.
“Eram poucas mulheres que treinavam, então a evolução foi mais lenta, além de sermos muito dependentes de homens para jogar e para dar volume ao jogo”, explica Talita. Esse contexto, no entanto, não a desmotivou. Ela seguiu treinando e, com o tempo, novas arenas surgiram, criando um ambiente mais propício para o desenvolvimento da modalidade. “Com muito treino e o desenvolvimento de mais arenas, mais mulheres foram entrando e fazendo com que evoluíssemos”, complementa.
A rotina de Talita hoje reflete o compromisso com o esporte. Para se manter competitiva e preparada para as disputas, ela estrutura sua semana com atividades físicas variadas. “Atualmente, faço treinos personal para condicionamento físico para o futevôlei duas vezes por semana, com meu professor Rodrigo Candido. Também faço pilates duas vezes na semana na Lafit e, nos demais dias, intercalo entre jogos de futevôlei e fortalecimento na academia, por conta de lesões”, detalha.
O futevôlei feminino em Mato Grosso do Sul ainda enfrenta desafios estruturais e técnicos, mas há uma percepção de evolução. “Atualmente, ainda estamos em um nível abaixo do nacional, mas em desenvolvimento constante”, avalia Talita. Apesar do crescimento no número de praticantes, muitas mulheres ainda não se sentem preparadas para competir. “O número de meninas competindo começou a aumentar, embora ainda seja pequeno para que haja uma evolução considerável. A maioria gosta de treinar, mas ainda não consegue competir”, observa.
Mesmo nesse cenário, Talita já coleciona importantes conquistas no esporte. Desde 2019, participa de torneios nas categorias mista e feminina, acumulando diversos pódios. Mas um momento, em especial, marcou sua trajetória: a primeira etapa do Campeonato Brasileiro realizada em Campo Grande, em 2021. “O pódio foi formado pela dupla Ray e Lane, uma das mais fortes do mundo, seguida por outra dupla do Espírito Santo. Eu, junto com Maria Eduarda, conseguimos ficar em 3º lugar, essa foi a melhor posição do Mato Grosso do Sul no ranking nacional”, conta com orgulho.
Esse resultado permitiu a Talita e sua parceira uma oportunidade inédita: representar o Brasil em um desafio sul-americano na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, em 2022. A participação internacional coroou anos de dedicação ao futevôlei, demonstrando o potencial de atletas do estado em competições de alto nível.
Apesar dos avanços, Talita reconhece que o futevôlei feminino ainda precisa de mais apoio e estrutura para crescer de forma sustentável. Ela destaca a importância de iniciativas voltadas exclusivamente para as mulheres, como o torneio organizado pelo grupo @guriasfutevolei. “Sempre somos apenas uma categoria entre os torneios e passamos por muitos perrengues, mas com este torneio 100% feminino, foi possível ter uma noção de quão importantes somos para o esporte de Mato Grosso do Sul”, afirma.
A visão de Talita sobre o futuro do futevôlei na região é pautada pelo otimismo, mas também pela consciência das limitações atuais. Seu objetivo principal é seguir evoluindo tecnicamente. “Meu objetivo no esporte é sempre melhorar, ter um jogo mais consistente e conquistar um lugar no pódio. Com o aumento de mulheres, conseguimos tornar o esporte mais competitivo e evoluir tanto individualmente quanto coletivamente”, projeta.
Para quem deseja começar no futevôlei, Talita deixa um conselho baseado em sua própria experiência: “O futevôlei é um dos poucos esportes em que você pode entrar em um treino e aprender do zero. Obviamente, é extremamente difícil, mas também muito apaixonante”.
Ela recomenda que as iniciantes persistam e busquem participar de treinos e jogos mistos, mas ressalta a importância de, desde o início, também jogar entre mulheres. “Meu conselho para as meninas é que não desistam, treinem com frequência, inicialmente façam jogos com o misto, mas comecem a dar os primeiros passos no feminino. Jogar no feminino vai fazer você evoluir mais rápido, já que não há um homem para consertar as bolas”, explica.