Aos 29 anos, Gabriel Acosta de Arruda, natural de Jardim, Mato Grosso do Sul, realizou um sonho que parecia distante: atuar profissionalmente fora do Brasil. O levantador sul-mato-grossense defendeu um clube na Superliga Albanesa na última temporada, marcando o início de sua trajetória internacional no voleibol.
O convite surgiu enquanto disputava o Campeonato Paulista, uma das ligas mais tradicionais do país. “O clube estava precisando de um levantador e entrou em contato com meu empresário. Conseguimos chegar a um acordo e fiquei feliz com a oportunidade. Agarrei, fui e fiz o meu melhor… foi incrível!”, conta.
A mudança para a Albânia representou o maior desafio da sua carreira até agora. “Ficar longe da família e amigos em busca dos sonhos e amor que tenho por esse esporte foi difícil. Assim como na vida, não podemos ter tudo e a vida do atleta é isso: viver de abdicações”, reflete Gabriel, que vê essa experiência como um passo importante para a consolidação de sua trajetória no esporte. “Espero que seja um começo de uma carreira concreta fora do País e estarei trabalhando para isso.”
A trajetória de Gabriel no voleibol começou de forma despretensiosa, ainda na infância, quando foi disputar um torneio de vôlei de areia em uma escola de Jardim. O talento chamou a atenção do técnico Tomaz, que fez o convite para que ele treinasse com a equipe da cidade. “No primeiro momento eu fiquei muito feliz e animado para começar. Sabia que Jardim tinha muitos atletas que eram destaque na época e isso me deixou com medo ao mesmo tempo, porque os meninos eram muito bons e nunca imaginaria que poderia fazer parte”, lembra. O receio não o impediu de aceitar o desafio: “Como um bom teimoso que sou, eu fui ao primeiro treino e, quando pisei na quadra, sabia que estava realizado em estar ali entre os melhores do estado.”
Desde então, o voleibol se tornou parte essencial da sua vida. Gabriel sempre acompanhou o esporte pela televisão, admirando os atletas brasileiros que se destacavam no cenário mundial. Atualmente, ele aponta dois ídolos que inspiram sua atuação como levantador: “Tenho algumas referências na minha posição, mas destaco dois grandes nomes: Bruninho e Macris.”
A rotina de atleta é intensa. Ele treina cinco vezes por semana, dividindo as sessões entre academia, quadra e atividades específicas. “Temos que abdicar de muitas coisas que as pessoas que não são atletas fazem, porque nosso instrumento de trabalho é nosso corpo. Precisamos ter cautela com muitas comidas para termos uma excelente performance”, explica.
Entre as experiências mais marcantes da carreira, Gabriel destaca dois momentos: a conquista da vaga para a final do Campeonato Paulista, quando defendia a cidade de Iacanga, e a estreia no voleibol internacional. “Estar no pódio de um Campeonato Paulista é uma das grandes conquistas. Para estarmos na final precisaríamos reverter uma situação onde perdemos o primeiro jogo da semifinal e tínhamos que ir até a casa do adversário e ganhar o jogo e mais o Golden Set. Fizemos um grande jogo e vencemos por 4x0, assim conquistamos a vaga para a grande final e fizemos história na cidade onde jogava”, lembra com orgulho.
No âmbito pessoal, Gabriel também investe no futuro. Ele está concluindo a graduação em Educação Física, buscando ampliar sua atuação dentro do esporte. “O esporte é incrível, mas precisamos sempre ter um plano B. O esporte é minha vida e por isso estou me especializando para estar sempre por perto do esporte”, afirma.
Representar Mato Grosso do Sul em competições nacionais e internacionais é motivo de orgulho para o atleta. “Eu sinto um orgulho imenso em carregar o ‘peso’ de representar meu estado em várias competições importantes no país e até fora. Depois de um tempo, você percebe que sentir essa ‘pressão’ é um privilégio”, afirma. Gabriel também observa que o voleibol sul-mato-grossense tem ganhado cada vez mais visibilidade. “Depois de muito tempo o esporte no MS vem se tornando destaque porque está começando a ter investimento de verdade. O MS tem muitos talentos, mas precisamos de investimento para que nossos atletas tenham condições boas para se manter em alto nível”, destaca, aproveitando para fazer um apelo: “Já deixo meu apelo às empresas: invistam nos nossos atletas porque há muitos talentos.”
Com a experiência adquirida fora do país, Gabriel traça novos objetivos para o futuro. “É conseguir proporcionar uma vida incrível aos meus familiares através do meu trabalho — estou começando a realizar isso, mas ainda quero mais.”
Para os jovens que sonham em seguir carreira no voleibol, Gabriel deixa um conselho baseado em sua própria trajetória. “Nunca desista. O esporte nos coloca em situações onde nos fazem questionar se é isso que queremos, mas para quem quer fazer acontecer, os desafios te tornam pessoas e atletas melhores. Então encarem todos os desafios que apareçam. Deus nunca falha em seus planos para nós. Dedicação, resiliência e comprometimento são fundamentais.”
Gabriel Arruda segue treinando, jogando e se dedicando ao voleibol, levando consigo as raízes sul-mato-grossenses, agora também no cenário internacional. A experiência na Albânia não foi apenas um desafio profissional, mas também um marco pessoal que abriu novas possibilidades em sua carreira. “Assim como na vida ou em qualquer trabalho, surgiram alguns obstáculos, que hoje sei que foram para uma melhora pessoal e profissional”, conclui.