“Minha infância foi praticamente sempre com o futebol. Era na escola, na rua, nos treinos, em todo lugar”. A frase é de Lucca Giordano Giuntini Santiago, nascido em Campo Grande, no dia 7 de dezembro de 2005, e hoje jogador de futebol na Europa. Aos 19 anos, o sul-mato-grossense vive uma carreira construída desde cedo longe de casa, com passagens por clubes no Brasil e no exterior.
Lucca começou como a maioria dos garotos apaixonados pelo esporte, em escolinhas e campeonatos locais. “Sempre quis ser jogador. No começo eu jogava sem essa preocupação de virar profissional, porque era muito novo e só queria jogar sem responsabilidades. Mas chegou em uma idade que, se eu realmente quisesse ir atrás desse sonho, teria que deixar Campo Grande”, recorda.
A mudança aconteceu cedo. Aos 11 anos, Lucca deixou a capital sul-mato-grossense para morar na Espanha, onde passou a treinar no Barcelona. A experiência foi curta, mas marcou o início de uma série de mudanças que moldaram sua trajetória.
Ao retornar ao Brasil, Lucca recebeu uma proposta do Coritiba. Ele tinha apenas 12 anos e, pela primeira vez, precisou encarar a distância da família para viver em outra cidade. “No começo tinha muitas dúvidas, mas meu pai sempre me apoiou e falou que era possível se eu me dedicasse e me entregasse a isso. Então tomei a decisão de ir ao Coritiba. Foi difícil, porque fui sozinho, sem meus pais, para uma cidade desconhecida”, relembra.
Antes disso, ainda em Campo Grande, Lucca treinava no tradicional centro de formação do Pelezinho. “Sempre tive muitas pessoas importantes na minha vida que me ajudaram. Desde minha família, que sempre me apoiou, até o Harada, o Bruno e o próprio Pelé [Júlio César], que sempre me incentivaram”, explica.
Com a pandemia, Lucca voltou a morar por um período em Campo Grande. Ao final das restrições, recebeu a oportunidade de jogar no Strasbourg, da França. Porém, a passagem não durou muito. “Passei um mês e não consegui me adaptar. Era um estilo de futebol muito diferente, muito físico e disputado, sem tanta bola no pé. Vi que não era para mim”, conta.
Foi então que surgiu a chance de atuar no Almería, da Espanha, onde se encontrou novamente. “A adaptação foi muito difícil, em outro país, longe da família e dos amigos. Meu pai foi muito importante nesse aspecto. No começo éramos só eu e ele. Foi uma fase difícil, mas que nos fez crescer muito também”, relata.
A vivência no futebol espanhol trouxe uma leitura diferente do jogo. “O futebol espanhol é muito tático e pensado. No Brasil os jogadores são diferentes, são craques, com muita qualidade individual. Já na Espanha, por não terem essa qualidade do jogador brasileiro, acabam tendo que pensar mais o jogo e se destacar com outras qualidades, como a inteligência para ler o jogo e a técnica para fazer a partida andar de uma maneira rápida”, compara.
Além do aprendizado dentro de campo, a adaptação cultural foi outro desafio. “Com o tempo você acaba pegando os costumes e se acostumando à rotina um pouco diferente. Essa experiência me ajudou muito dentro e fora de campo, por me fazer um jogador com maior entendimento de jogo. Fora de campo, aprendi o idioma e hoje falo espanhol fluentemente. Tudo o que vivi me ajudou e me influenciou na pessoa que sou hoje”, avalia.
Quando o assunto é inspiração, Lucca aponta um nome que vem de perto: seu pai, Fábio Giuntini. “Não só por ter acompanhado de perto a carreira, mas porque ele foi um grande jogador. Jogou a maioria da carreira fora do Brasil e deixou marcas por onde passou. O tenho como exemplo dentro e fora de campo”, destaca.
Entre as experiências vividas até aqui, um momento especial foi a estreia na Copa do Rei da Espanha, em 2024. “Diria que ano passado, quando fiz minha estreia na Copa del Rey. É uma competição de nível altíssimo e muito respeitada na Espanha. Fiz minha estreia contra o Huesca, time da segunda divisão, quando tinha apenas 18 anos. Viver isso tão novo foi uma experiência única que me marcou”, lembra.
Mesmo atuando na Europa, Lucca faz questão de lembrar suas origens. “Tenho certeza que é algo que me deixa muito feliz, não só por ter vivido muitas experiências dentro do futebol profissional, mas porque em Campo Grande e no Mato Grosso do Sul tem muito talento. Muitos jogadores podem alcançar grandes coisas, e se forem atrás dos sonhos vão conseguir realizar. Tudo é possível”, afirma.
Atualmente, Lucca joga em Portugal e planeja o futuro com objetivos claros. “Esse ano completo 20 anos no final do ano. Tenho como objetivo chegar à elite do futebol europeu, jogar em grandes clubes. Gostaria muito de poder retornar ao futebol brasileiro também, é um sonho que tenho de jogar no Brasil profissionalmente”, projeta.