Da Redação
O futsal em Corumbá tem sido mais do que uma prática esportiva para dezenas de crianças e adolescentes que frequentam a escolinha do Corumbaense. Para o professor Rogério Junior Soares Ramos, de 22 anos, cada treino é uma via de mão dupla. Ele ensina fundamentos técnicos e disciplina, mas também aprende lições de vida com os alunos.
“Foi um início desafiador. Trabalhar com crianças na iniciação é algo totalmente diferente, exige paciência, criatividade e entrega. Mas, ao mesmo tempo, é gratificante demais”, conta. Licenciado em Educação Física, Rogério avalia que sua formação foi essencial para lidar com as dificuldades dos primeiros treinos. “Graças à minha formação em licenciatura consegui transformar esses desafios em aprendizado, e hoje vejo que cada treino é uma troca: eu ensino futsal, mas eles me ensinam sobre vida.”
O caminho até assumir a escolinha do Corumbaense começou ainda na faculdade, em um contexto inesperado. Ele relembra que o gosto por ser treinador nasceu no time universitário Betas. “Todos queriam ser atletas, mas ninguém queria assumir o papel de treinador. Eu aceitei o desafio sem imaginar a dimensão que isso teria na minha vida”, recorda. O início foi de descobertas, mas logo vieram resultados concretos. “Aos poucos fui lapidado dentro das quadras, e depois de dois anos de muito trabalho, vieram os títulos municipais e estaduais. Ali percebi que meu caminho era esse: ajudar a formar pessoas e atletas através do esporte.”
Na rotina da escolinha, Rogério destaca que a experiência deixou de ser apenas treinamento técnico. Segundo ele, os encontros tornaram-se espaços de convivência. “No início foi cansativo, mas hoje cada treino é uma fonte de motivação. É lindo ver a alegria nos olhos deles ao aprender um fundamento novo ou ao simplesmente jogar bola com os amigos. O futsal deixou de ser só esporte e passou a ser convivência, disciplina e família.”
Mais do que gols ou dribles, o professor reforça que a missão central é contribuir para a formação pessoal dos alunos. “Mais do que dribles, chutes e gols, eu procuro ensinar caráter, honestidade e respeito. Se o atleta sair da escolinha carregando esses valores, já terá aprendido a maior vitória que o esporte pode oferecer.”
Essa filosofia já tem mostrado resultados visíveis no dia a dia. Rogério observa que muitos jovens chegam inseguros e tímidos, mas demonstram avanços dentro e fora da quadra. “É emocionante. Muitos chegaram inseguros, tímidos, sem acreditar em si mesmos. Hoje já demonstram confiança, disciplina e vontade de crescer. Essa evolução não acontece só tecnicamente, mas também como seres humanos.”
Apesar dos avanços, o trabalho com jovens atletas impõe desafios. O principal deles, segundo o professor, está em lidar com as expectativas em relação ao futuro. “O maior desafio é equilibrar sonhos e realidade. Muitos querem ser profissionais logo, mas é preciso mostrar que cada etapa tem seu tempo. O processo é longo, exige paciência, dedicação e estudo. O talento abre portas, mas são os valores e a disciplina que mantêm essas portas abertas.”
A escolinha de futsal tem também um papel simbólico na cidade. Para Rogério, vestir a camisa do Corumbaense é carregar parte da história de Corumbá. “A escolinha do Corumbaense é muito mais que um espaço de treino, ela é um berço de oportunidades. Representar o Corumbaense, seja no futsal ou no futebol, é algo sem igual. Estamos falando de um clube com um peso histórico enorme, que carrega em seu escudo a identidade e a paixão de uma cidade inteira”, afirma.
Esse vínculo entre clube e comunidade é vivido também pelas crianças que sonham com o futuro. “Cada criança que veste essa camisa entende que está fazendo parte de uma história que começou há décadas e que continua viva em cada treino, em cada jogo. O Corumbaense é tradição, é resistência, é vida. Para muitos jovens, a escolinha é a porta de entrada para os sonhos, e para mim é um orgulho imenso contribuir com essa história.”
Até o momento, nenhum aluno treinado por Rogério foi integrado a equipes de maior visibilidade, o que ele considera natural pela pouca experiência acumulada até agora. Mas o professor demonstra confiança em que novos talentos surgirão. “Ainda não, até porque meu trabalho começou há pouco tempo. Mas tenho certeza que em breve veremos muitos talentos de Corumbá brilhando em palcos maiores.”
Se a espera por revelações ainda faz parte da caminhada, o que não falta é motivação. Para Rogério, ela se renova a cada treino. “O sorriso de cada criança, a alegria de estar em quadra e a vontade deles de aprender. Isso não tem preço. Cada treino me mostra que estou no caminho certo e que, assim como eles crescem comigo, eu também cresço com eles.”
Essa experiência o leva também a aconselhar os jovens que sonham em trilhar o caminho do esporte. A mensagem é direta: “Acreditem no processo, nunca desistam. Treinem com amor, respeitem seus professores, estudem e carreguem sempre consigo a humildade. O esporte é lindo, mas também é exigente. Só vence quem tem paciência, disciplina e paixão. Sejam persistentes, porque cada esforço dentro da quadra também é um passo de crescimento para a vida.”