Criado em 1995 em Dourados, no Mato Grosso do Sul, o grupo Ginasloucos nasceu de uma ideia ousada: transformar a combinação de ginástica acrobática e basquetebol em um espetáculo esportivo que unisse técnica, humor e entretenimento. Ao longo de quase três décadas, o grupo se apresentou em mais de 450 cidades do Brasil e também no exterior, alcançando reconhecimento nacional com performances em programas de televisão e eventos de grande porte.
A iniciativa foi idealizada pelo professor Rogério da Cruz Montes, ao lado do também professor Antonio Carlos Barbosa (Kaká), ambos docentes do curso de Educação Física da UNIGRAN (Centro Universitário da Grande Dourados). A primeira apresentação aconteceu durante a abertura da I OLIGRAN, com alunos vestidos de palhaços fazendo acrobacias com auxílio de colchões e mini-trampolins. Era o embrião de um projeto que logo se tornaria referência em esporte-arte.
A inspiração direta veio da infância esportiva de Rogério. “Ginasloucos é um termo que se usava em apresentações fora das competições de ginástica artística. Quando comecei na ginástica, por volta de 1976, em Campo Grande, fazíamos apresentações em eventos da cidade com equipamentos simples. Mais tarde, vi uma equipe de saltos ornamentais se apresentar como ‘Aqualoucos’, com saltos performáticos e trajes cômicos. Aquilo ficou guardado na memória”, conta o professor.
Quando se mudou para Dourados e começou a trabalhar na UNIGRAN, Rogério teve a ideia de trazer aquele espírito lúdico para o ambiente universitário. “Na abertura dos jogos da Unigran, quisemos levar a magia do riso e da diversão que o esporte proporciona. No ano seguinte, acrescentamos a tabela de basquete, e ali surgiu a combinação das enterradas com os elementos da ginástica acrobática”, lembra.
No início, os desafios eram muitos. “Não tínhamos ideia da aceitação da comunidade, nem da mantenedora. Insistimos em fazer apresentações em escolas da região, sem apoio financeiro. Íamos por conta própria, sem cachê, e praticamente pagávamos para nos apresentar”, explica. A virada começou após uma apresentação na final do Campeonato Paulista de Basquete, em Assis (SP), quando a instituição passou a apoiar as viagens e a estrutura necessária para o grupo.
Desde então, os Ginasloucos se profissionalizaram. Hoje, os integrantes assinam contratos de prestação de serviço e o grupo atua com planejamento e responsabilidade. “O sucesso é fruto do trabalho responsável. Quando deixamos o amadorismo e passamos a ser uma empresa, com termos contratuais cumpridos, tivemos o reconhecimento que merecíamos”, afirma Rogério.
As apresentações são realizadas em escolas, eventos esportivos, programas de TV, feiras e shows. A rotina de treinos é diária, sempre das 18h às 19h, no ginásio da UNIGRAN. “Cada apresentação exige uma preparação específica. As jogadas variam e nem sempre temos os mesmos atletas disponíveis, então os treinos são importantes para adaptar e garantir segurança nas manobras”, explica o professor.
O grupo tem um processo seletivo contínuo. Interessados participam dos treinos e são avaliados pelos próprios integrantes. “Analisamos o perfil do atleta, habilidades com saltos e bola, disposição para viajar e comprometimento com o grupo”, detalha Rogério.
Ao longo dos anos, os Ginasloucos marcaram presença em programas como Domingão do Faustão, Qual o Seu Talento, Eliana, Silvio Santos, Ratinho, Ana Hickman, Ana Maria Braga, Legendários, Turma do Didi, entre outros. Em 2009, bateram o recorde de 27 enterradas com salto mortal no programa “Tudo é Possível”, da Record, homologado pelo Rank Brasil, o livro dos recordes brasileiros.
Um dos momentos mais marcantes da trajetória foi a participação nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. “Fizemos apresentações nos intervalos dos jogos e ainda tivemos a oportunidade de conduzir a tocha olímpica. Recebi o fogo simbólico da tocha e ganhei a própria tocha de presente. Foi emocionante”, destaca Rogério.
A experiência de participar de eventos nacionais começou cedo, ainda em 2001, quando foram convidados a se apresentar no programa Domingão do Faustão. “Fomos ao Rio de Janeiro de ônibus de linha, levando nosso mini-trampolim, de rodoviária em rodoviária. Quando voltamos a Dourados, fomos recebidos com uma salva de palmas na UNIGRAN, com fogos de artifício e gritos dos alunos. Parecia que tínhamos vencido um campeonato mundial”, relembra com emoção.
A inspiração no grupo norte-americano Harlem Globetrotters é reconhecida, mas sem contato direto. “Nunca tivemos contato com os americanos, apenas vimos jogos e documentários. Mas a visão de esporte-entretenimento que eles deixaram é o que nos motiva a seguir”, diz o professor.
Hoje, com quase 30 anos de estrada, o grupo continua ativo e com planos de crescimento. “Vamos continuar fazendo o que sempre fizemos com amor e dedicação: levar alegria e uma mensagem positiva através do esporte. A novidade que pode vir no futuro é a transformação do que fazemos em uma modalidade esportiva competitiva. Gostaria que o Ginasloucos participasse da construção dessa nova forma de esporte”, projeta Rogério.
A mensagem final do professor para os jovens é direta: “Acreditem em seus sonhos, não desistam. No começo, as pedras são enormes, mas com perseverança elas se tornam menores. E aí, você poderá colher os frutos da árvore cuja semente você mesmo plantou”.