Durante a pandemia de Covid-19, enquanto atividades esportivas eram suspensas e clubes paralisavam suas rotinas, Gabriel Menezes Campos encontrou no desafio uma oportunidade de construção. Foi nesse período, de incertezas e quadras vazias, que nasceu a semente do que viria a se tornar o Valhalla, uma das iniciativas mais resilientes do esporte amador sul-mato-grossense.
“A ideia de fundar a Associação Desportiva Valhalla surgiu durante o período da pandemia, quando as atividades estavam restritas e não havia equipes ou clubes disponíveis para treinamentos”, relembra Gabriel. A retomada parcial das atividades esportivas permitiu a realização da primeira edição da Copa Verão, em 2020. O torneio não só marcou o retorno das competições, como foi o ponto de partida para a criação do time.
Natural de Aquidauana e morador de Campo Grande, Gabriel, nascido em 1999, é professor de Educação Física e acadêmico do último ano do curso de Fisioterapia. Entre uma função e outra, também atua como colaborador da Federação Universitária de Esportes de Mato Grosso do Sul (FUEMS) e como embaixador do Mini-Handebol Brasil no estado. Dentro do Valhalla, é tudo isso — e também atleta, quando necessário.
“Conciliar todas essas responsabilidades tem sido um verdadeiro desafio, especialmente neste ano”, diz. “Mas hoje conto com o apoio fundamental de João Gomes, um ex-aluno a quem tenho grande apreço e costumo chamar carinhosamente de ‘filho’.”
O time nasceu como um grupo informal, reunindo atletas de Campo Grande e São Gabriel do Oeste. O nome escolhido reflete a personalidade do projeto: Valhalla, uma referência à mitologia nórdica, representa o salão dos guerreiros mortos em batalha — um lugar reservado para os que lutaram com coragem, honra e persistência.
“Inspirado por esse universo, optei por nomear a equipe como Associação Desportiva Valhalla. Essa simbologia representa coragem, honra, luta e espírito de equipe — valores que buscamos cultivar desde o início”, resume.
Esses valores também se refletem no modelo de funcionamento do time, que opera à base do esforço coletivo. Sem apoio financeiro fixo ou patrocínios consolidados, a equipe realiza rifas, campanhas comunitárias e, muitas vezes, depende dos próprios atletas para viabilizar viagens e competições. “Até o momento, não contamos com apoio público regular, sendo o envolvimento da comunidade e dos próprios integrantes essencial para a continuidade do projeto.”
Mesmo diante das limitações estruturais, o Valhalla tem colhido frutos. Em 2024, foi vice-campeão nos Jogos Abertos de São Gabriel do Oeste e conquistou o quarto lugar nos Jogos Abertos de Campo Grande. “Resultados que refletem o crescimento e o comprometimento da equipe”, afirma Gabriel.
Mais do que títulos, no entanto, o presidente vê no Valhalla uma plataforma de transformação pessoal e social. “Nossa proposta de trabalho vai além da busca por resultados esportivos: valorizamos o comprometimento, a entrega e, acima de tudo, o senso de coletividade.”
A filosofia da equipe é clara: união e leveza. Os treinos, segundo ele, acontecem com garra e intensidade, mas sempre com o espírito de quem joga por paixão. “A equipe é formada por amigos que se tornaram verdadeiros irmãos.”
Essa abordagem reflete também uma visão mais ampla sobre o papel do esporte na sociedade. Gabriel fala com propriedade, tendo ele mesmo se formado no tatame e na quadra. “O esporte é muito mais do que atividade física — é uma verdadeira escola para a vida”, diz.
Sua trajetória começou cedo, aos 5 anos, passando por judô, karatê, futsal e futebol, até encontrar no handebol, em 2012, seu espaço. “Aprendi valores que moldaram quem sou hoje: respeitar o próximo, valorizar o esforço e o coletivo, ser um bom colega, um bom filho e, sobretudo, um ser humano melhor.”
Com essa base, o Valhalla já planeja novos passos. Em 2026, o objetivo é abrir um polo oficial de mini-handebol vinculado à associação. “Queremos desenvolver a prática em diferentes categorias e fomentar o alto rendimento esportivo”, projeta.
Apesar dos avanços, Gabriel reconhece que o handebol ainda carece de maior visibilidade e apoio no estado. “Estamos em uma fase inicial de desenvolvimento. Com o envolvimento mais ativo do setor empresarial, poderíamos alcançar avanços significativos na valorização e expansão do esporte”, argumenta.
Ele cita o exemplo de estados vizinhos, como Mato Grosso e Paraná, onde o apoio da iniciativa privada ao esporte é mais evidente. “Esse tipo de apoio representa não apenas um investimento social relevante, mas também uma oportunidade de marketing sustentável e orgânico para as próprias empresas.”
A história do Valhalla é, portanto, mais do que a trajetória de um time. É a de um grupo que se recusa a parar diante das dificuldades e acredita que o esporte pode — e deve — ser ferramenta de transformação social.
“Costumo dizer que o esporte é a base de tudo. Não apenas da saúde física, mas da formação de caráter, de identidade, de valores e de propósito”, afirma Gabriel. “Se quisermos uma sociedade melhor, precisamos começar onde tudo se constrói: no esporte.”