Os ferrenhos críticos do Campeonato Brasileiro disputado no sistema de pontos corridos devem estar se remoendo de raiva. Em seu terceiro ano seguindo esta fórmula, os clubes brasileiros provaram que aprenderam a disputar a competição nos moldes adotados em toda a Europa e vêm mantendo a emoção até a penúltima rodada.

Independentemente da alteração provocada pela interferência do STJD, que permitiu ao Corinthians somar quatro pontos que havia perdido, o Timão da capital paulista e o Inter de Porto Alegre vem lutando palmo a palmo pelo tetracampeonato, assim como fizeram Santos e Atlético-PR em 2004.

E para quem questionava a ausência de uma final, neste domingo, às 16 horas, os torcedores poderão deliciar-se com duas verdadeiras decisões. Em São Paulo, Corinthians e Ponte Preta se enfrentam, enquanto em Porto Alegre, o duelo será entre Inter e Palmeiras.

Quatro equipes e três destinos que podem ser selados em campo. Além da briga pelo título, o Palmeiras, por ironia do destino, tem que vencer (o que poderia ajudar Corinthians) para seguir com chances de ir à Copa Libertadores de 2006, enquanto a Ponte Preta tenta evitar sua queda à Série B do Brasileirão.

Por tudo isso, cada time promete render o máximo, esquecendo até mesmo a histórica rivalidade clubística, caso notório entre corintianos e palmeirenses. A situação remeter ao Paulista de 1988, quando a torcida alvinegra berrou o nome do arqui-rival, ao saber do gol marcado por Gérson Caçapa, que deu a vitória sobre o São Paulo por 1 a 0. Na época, o Corinthians necessitava de um triunfo palmeirense para assegurar a vaga na final do estadual, além de bater o Santos no Pacaembu.

Novamente com a coincidência de poder auxiliar de forma indireta o rival, os atletas do Verdão fizeram questão de negar qualquer corpo mole. Os jogadores sabem que, antes do orgulho ferido de ver o rival campeão, vem a obrigação de levar o clube de volta à Libertadores. O futuro de vários jogadores do elenco está condicionado à classificação final do Verdão no Campeonato Brasileiro.

"Será muito complicado se ganharmos e nosso maior concorrente comemorar, mas precisamos desta vitória para continuar com chances de jogar a Libertadores. Temos que honrar a camisa do Palmeiras", explica o volante Marcinho Guerreiro.

Uma ajuda recente do São Paulo ao Corinthians trouxe grande polêmica. Em 2004, o atacante Grafite foi bastante criticado por torcedores de sua própria equipe ao marcar os dois gols da vitória diante do Juventus por 2 a 1, na última rodada do Paulistão, um resultado que salvou o Timão de um humilhante rebaixamento para a segunda divisão.

Os jogadores do Palmeiras acreditam, porém, que a situação atual é diferente. "Naquela época, os jogadores do São Paulo não disputavam nada. Agora é uma situação diferente porque pensamos na Libertadores. Temos que fazer o melhor, independente se o Corinthians será campeão", afirma o centroavante Washington.

Para o experiente técnico Emerson Leão, o pedido de alguns torcedores que querem ver o Internacional campeão precisa ser deixado de lado pelo elenco. "O torcedor é emocional, então precisamos tomar cuidado. No dia-a-dia, a emoção pode trazer tanto pontos positivos como negativos", filosofa o treinador.

No Timão, por sua vez, alguns jogadores já adotaram a camisa verde e branca como segunda pele, pelo menos neste domingo. "Se fizermos a nossa parte, não custa nada torcer por uma ajudinha do Palmeiras no outro jogo", brinca o meio-campista Carlos Alberto.

"Vamos procurar fazer um bom trabalho contra a Ponte Preta e pedir a papai do céu para que o Palmeiras possa vencer ou empatar, pois, se vencermos o nosso jogo, poderemos levantar o título no domingo", declara Gustavo Nery, sem medo de represálias por assumir sua "veia verde".

Recheio extra-campo: Se não bastasse a rivalidade colocada de lado, outro fator externo irá contar bastante nesta penúltima rodada. Bastou o anúncio do vice-presidente da Ponte Preta, Marco Antônio Eberlin, que a diretoria solicitou para poupar boa parte dos titulares no jogo do Morumbi para incendiar os gaúchos. Rapidamente, os dirigentes do Colorado criticaram a postura da Macaca e, por baixo dos panos, cogitou uma ajuda financeira ao time de Campinas.

Oficialmente, os dois clubes negam qualquer recompensa pelo triunfo da Ponte Preta, mas em Campinas os boatos dão conta até que a suposta "mala preta" já seria repassada pelo alvinegro campineiro ao Vasco, que enfrenta o Atlético-MG, neste domingo, um dos rivais diretos da Macaca na briga pelo rebaixamento.

Com todos estes ingredientes à mesa, o torcedor terá um domingo de gala, com emoções em dois gramados por três objetivos distintos. Isso sem contar a disputa na ponta de baixo da tabela com os jogos entre os desesperados São Caetano e Coritiba, no ABC paulista, e a partida envolvendo Brasiliense e Figueirense, em Taguatinga. E tudo no mesmo horário.