Da Redação
“Meu maior adversário sou eu mesmo.” A frase resume boa parte da trajetória de Weslley da Silva Pereira, 35 anos, nascido em Cassilândia (MS) em 08 de janeiro de 1990. Campeão Brasileiro e vice-campeão mundial de jiu-jitsu, ele iniciou no BJJ depois dos 30 anos, em um processo que ele próprio descreve como inesperado.
Weslley havia se afastado das artes marciais por mais de uma década. Praticou capoeira diariamente entre 1999 e 2005, mas, segundo ele, o ritmo caiu com o tempo. Entre 2012 e 2014 ainda treinou muay thai, “mas faltava mais do que treinava”. Em 2020, decidiu que precisava voltar a praticar alguma luta, mas buscava uma modalidade que permitisse treinar com regularidade. Sem academia fixa por um tempo, fazia treinos sozinho ou com colegas.
A reaproximação real com as artes marciais aconteceu quando ele aceitou uma luta de MMA em Rio Verde (GO). Para evitar desvantagem no solo, procurou a Saikoo Jiu-Jitsu, em Chapadão do Sul, com o objetivo inicial de apenas “entender um pouco da luta agarrada”. Ele conta que chegou com preconceito, mas logo percebeu a dificuldade de enfrentar atletas experientes no jiu-jitsu. “Parecia que, quanto mais força e vontade eu colocava no combate, mais fácil eles me finalizavam. Jovens, mulheres, crianças e idosos faziam o que queriam comigo”, relembra.
A descoberta do jiu-jitsu como ferramenta de eficiência o marcou. Ele treinou intensamente nos dois meses que antecederam a luta — manhã, tarde e noite — e venceu por mata-leão. “Eu tenho bons chutes e golpes, mas quem me deu a vitória foi o jiu-jitsu. Só me arrependo de não ter começado antes.”
O esporte passou a fazer parte do cotidiano e, alguns anos depois, vieram os resultados expressivos. Em 2024, Weslley conquistou o título brasileiro e também o vice-campeonato mundial. Ele afirma que a principal mensagem do título é a capacidade de recomeço. “Mostrou que não estava tarde demais para mim, que comecei após os 30. Nunca é tarde para ninguém. Enquanto há fôlego, dá tempo de começar.”
A experiência internacional também marcou. Ele destaca o apoio de diversos professores durante o período em que trabalhava no interior de São Paulo. “Fui acolhido por academias da região mesmo dizendo que estava apenas de passagem e que competiria representando outra equipe. Isso mostra o quanto essas pessoas trabalham pelo esporte.” O retorno para Cassilândia nos dias de folga também contava com apoio fora do calendário regular. “Às vezes nem era dia de treino, mas o pessoal comparecia.”
No caminho até os pódios, ele identifica obstáculos comuns ao atleta brasileiro, mas considera que a maior barreira estava dentro de si. “O maior adversário sou eu mesmo. Decidir massacrar esse cara todos os dias, fazer o que precisa ser feito e não o que eu quero fazer.”
A rotina atual inclui treinos diários de jiu-jitsu, fortalecimento e mobilidade. Em período competitivo, ele intensifica o contato com o tatame. A confiança na preparação é um dos fatores que o ajudam a lidar com a pressão. “Se eu sei que fiz o que precisava fazer, isso já traz tranquilidade. Eu foco em mim. Não posso controlar o que meu adversário faz.”
Ele atribui grande parte da evolução ao mestre Guilherme Alves, técnico e referência do time. Weslley afirma que Guilherme mudou a própria visão de futuro no esporte. “Ele enxergava em mim algo que eu não conseguia ver. Mesmo com pouca estrutura e retorno financeiro, decidiu vir para nossa cidade dar aula. Fez porque tem uma missão.”
Depois de dois anos afastado por lesão no joelho, ele se prepara para retornar às competições em 2026. Sobre os títulos, diz que a luta mais importante ainda não aconteceu. “A minha luta mais importante é a próxima.”
O principal objetivo é conquistar o Mundial, mas ele também destaca um propósito além dos tatames: ajudar na formação de novos atletas e cidadãos. “Estamos formando centenas de crianças em Goiás e no MS. Eu quero abraçar a missão do Guilherme de levar o jiu-jitsu ao maior número possível de pessoas.”
Aos jovens que sonham com o alto rendimento, Weslley reforça disciplina, estudo e espiritualidade. “Treine para melhorar você, e não para ser melhor que o outro. Não treine por faixa. Desfrute de cada momento. E cuide do seu espírito. Entregue sua vida nas mãos do Criador.”