Da Redação
“Costumo dizer que qualquer pessoa pode iniciar ou entrar na patinação porque nossos sonhos não têm idade para serem realizados.” A frase resume não apenas a filosofia de trabalho de André Volnei da Silva, como também a proposta da patinação artística que ele desenvolve há 18 anos em Campo Grande. Nascido em 29 de maio de 1978, em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, André construiu uma trajetória que começou ainda na infância, passou pelo alto rendimento e hoje se consolidou como referência no ensino da modalidade no Mato Grosso do Sul.
A relação com a patinação artística teve início cedo. “A patinação artística surgiu na minha vida quando eu tinha apenas 9 anos de idade como uma atividade extracurricular ofertada pela escola em que eu estudava”, relata. Nos primeiros anos, o contato era voltado ao aspecto artístico e recreativo, mas a partir dos 11 anos ele passou a competir. Aos 16, conquistou o primeiro título internacional, experiência que marcou a transição para o ensino. “Foi o que me abriu as portas desde então para iniciar minha trajetória como professor e técnico de patinação artística”, explica.
Inicialmente, o ensino surgiu de forma paralela a outras atividades profissionais. André chegou a atuar como advogado enquanto ministrava aulas. Com o aumento da procura e a consolidação da escola, precisou fazer uma escolha. “Percebi que poderia sobreviver somente com as aulas de patinação devido ao crescimento da procura, e foi aí que o meu amor pela patinação artística falou mais alto”, afirma.
Hoje, a escola atende alunos de diferentes faixas etárias, incluindo crianças com menos de três anos e adultos acima dos 60. “Poder trabalhar com patinação artística e oferecer aulas para todas as idades é um prolongamento do meu sonho”, diz. Segundo ele, o convívio entre gerações também faz parte da metodologia adotada. As aulas são organizadas em turmas mistas, com diferentes idades e níveis técnicos. “É uma ferramenta que utilizamos para que, quando um iniciante chegue, se identifique e veja que qualquer um aprende, independentemente da idade ou nível”, explica.
A estrutura pedagógica respeita o ritmo individual de cada aluno. Exercícios são adaptados conforme a experiência, o equilíbrio e os objetivos pessoais. “Cada um tem seu tempo de aprendizagem, e uma das questões que devemos evitar é a comparação com o outro”, destaca. Para André, a patinação ensina que o progresso depende da dedicação contínua. “Posso ter o melhor treinamento do mundo, mas se eu não me dedicar, repetir e sair da zona de conforto, não haverá evolução.”
Os benefícios da patinação artística vão além da técnica esportiva. André aponta ganhos físicos e cognitivos, como desenvolvimento do equilíbrio, fortalecimento muscular, lateralidade, atenção e concentração. “Frequentemente temos alunos que relatam que agora a sua terapia é sobre rodas”, conta. Segundo ele, pais também observam reflexos positivos no desempenho escolar das crianças, especialmente na atenção e no foco. A prática ainda se destaca como exercício aeróbico, podendo chegar a um alto gasto calórico em treinos mais intensos.
Apesar do crescimento da escola e dos resultados obtidos, a difusão da patinação artística ainda enfrenta desafios na Capital. “Somos a única escola do estado”, afirma. Desde a chegada a Campo Grande, mais de cinco mil alunos já passaram pelas aulas, e atualmente cerca de 200 permanecem ativos. Há também uma equipe competitiva com aproximadamente 60 atletas, que representa a cidade e o estado em eventos nacionais e internacionais.
Entre os resultados alcançados, André cita conquistas expressivas. “Campo Grande tem seis campeões do 10º Open Mundial de Patinação Artística”, lembra. Ainda assim, ele aponta a falta de espaços públicos adequados como um dos entraves para a ampliação da modalidade. “Nossa cidade não tem nenhum espaço público onde se possa praticar patinação”, observa. Tentativas de parcerias com o poder público, inclusive para projetos sociais e ações voltadas à rede pública de ensino, não avançaram. “Nunca tivemos êxito por falta de interesse do poder público”, relata.
Atualmente, a escola funciona em um espaço próprio no bairro Coronel Antonino, na Rua Alegrete, com cerca de 800 metros quadrados destinados exclusivamente à prática da patinação artística. O local recebe investimentos constantes em estrutura e manutenção. Mesmo assim, André reforça a importância da visibilidade. “Muitas pessoas nos dizem que não sabiam que existia patinação artística em Campo Grande”, afirma, ao defender maior diversidade esportiva nos meios de comunicação.
O planejamento para os próximos anos inclui uma agenda extensa de atividades, competições e eventos. Em 2026, a escola participará de workshops técnicos com nomes de destaque mundial, como a campeã portuguesa Madalena Costa e o técnico italiano Ruben Genchi, além de etapas do Grande Prêmio Nacional, competições internacionais e a realização da 2ª Copa Pantanal de Patinação Artística, em Campo Grande, com previsão de reunir mais de 500 atletas no Ginásio Guanandizão.
Outro destaque é o espetáculo anual, previsto para novembro de 2026, com o tema “Broadway: os maiores musicais de todos os tempos”, reunindo mais de 150 patinadores. No ano anterior, o evento atraiu cerca de dois mil espectadores. “Seguimos nos considerando um projeto em expansão”, afirma André, ao reforçar o objetivo de ampliar o acesso ao esporte.
As atividades da escola continuam abertas a novos alunos, com turmas para todas as idades e níveis, de segunda a sábado, nos períodos da tarde e noite. “Nossos sonhos não têm idade”, repete André, ao sintetizar a ideia que norteia sua trajetória pessoal e o trabalho desenvolvido sobre as oito rodas.