A pandemia foi o ponto de partida para a mudança de vida da sul-mato-grossense Ana Laura Rios Domingues, de 35 anos, natural de Jardim. Em 2021, ao sair de casa para caminhadas e tentar driblar os efeitos do isolamento, ela não imaginava que daria início a uma nova fase da sua vida – agora marcada por treinos intensos, participação em competições e bons resultados nos 10 km, distância que escolheu como foco.
O primeiro impulso veio da observação: “Comecei fazendo caminhadas de 10 a 12 km. Até que um dia vi uma mocinha correndo e achei aquilo a coisa mais incrível do mundo. Eu disse pra mim: deve ser muito top ser corredora”, lembra. A partir dali, ela começou a alternar corrida e caminhada, aumentando o ritmo aos poucos. “Colocava uma música comprida e pensava: vou correr até acabar a música sem parar”, conta.
O passo seguinte veio com o incentivo do noivo, à época namorado. Ele a inscreveu em sua primeira prova, e Ana Laura, mesmo ainda sem experiência em competições, decidiu encarar o desafio. “No dia 28 de janeiro de 2021 participei da minha primeira prova. Fiquei em terceiro na categoria e ganhei minha primeira medalha. Ali eu me apaixonei, ali eu sabia o que eu queria para minha vida.”
Desde então, a corrida passou a ocupar papel central em sua rotina. Ana Laura treina seis vezes por semana, com apenas um dia de descanso total para recuperação. “Eu tenho acompanhamento de excelentes profissionais aos quais confio plenamente. Meu treinador, uma nutricionista, massagista e um centro de treinamento específico fazem parte da minha trajetória”, explica.
A escolha pelos 10 km não foi por acaso. Ela explica que, além de gostar do desafio físico e mental da distância, há também uma questão estratégica. “É uma distância que você precisa fazer força na medida, tem que saber administrar. E como meu objetivo era entrar em escala de nível nacional, escolhi os 10 km, pois existem várias provas específicas nessa distância.”
Além das provas de rua, Ana Laura também tem se aventurado nas pistas, experiência que considera mais exigente para o psicológico. “A pista é surreal, ela te engole. Como são várias voltas, a cabeça trabalha mais que o corpo. Treinar na pista é totalmente diferente de competir, mas estou aprendendo.” Nas ruas, segundo ela, a experiência muda: “Temos outra vibração, tem as pessoas que correm junto, a torcida, a energia é outra.”
Apesar de se classificar como corredora amadora, Ana Laura é objetiva ao falar da competitividade. “Sim, eu sou muito competitiva. A corrida me faz sentir viva. Eu amo a sensação de adrenalina.” Foi com esse espírito que conquistou um de seus maiores feitos até agora: correr os 10 km em 36 minutos, durante a Tribuna 10K FM, onde ficou entre as dez primeiras colocadas.
Nem todos os momentos foram simples. Uma das fases mais difíceis foi a mudança de objetivo e de planejamento. “Eu queria ir mais longe, sonhei alto. Arrisquei. Mudei de treinamento, mudei o corpo e a mente. O foco agora é outro. Graças a Deus está dando certo.”
A preparação não se limita às horas de treino. Ana Laura também organiza sua vida pessoal e profissional de forma a encaixar todas as atividades necessárias. “Acordo de madrugada e vou treinar. Depois trabalho, e no horário do almoço aproveito para fazer alongamentos. À noite, duas vezes por semana, vou à academia. É uma rotina bem doida, mas já me acostumei.”
O esforço tem sido reconhecido não só nos resultados, mas também na superação de barreiras e estigmas. Embora diga não ter sofrido preconceito diretamente, ela destaca que o ambiente ainda apresenta resistências. “Alguns homens não aceitam que mulheres corram igual ou mais forte do que eles, tentam diminuir o que fazemos. Já ouvi que eu não conseguiria chegar onde estou.”
A trajetória também reforçou sua percepção sobre a corrida como um instrumento de transformação pessoal. “A corrida não se trata só de resultados, pódios e blogueiragem. É um esporte que transforma sua mentalidade, te deixa mais disciplinado, focado e confiante. Nos livra de tanta dor e traumas que carregamos.”
Para quem quer começar, ela aconselha buscar orientação e respeitar o processo. “Entendam o processo. Os resultados de performance vêm com o tempo. Pódio e troféu é a parte mais fácil, difícil mesmo é abdicar, treinar todo dia, fazer escolhas difíceis. Mas com propósito e orientação, sempre dá certo.”