Personalidade | Lucas Castro | 11/07/2019 16h17

Jornalista de Campo Grande realiza o sonho da narração esportiva na TV

Compartilhe:

Recém-formado em jornalismo, Michael Franco foi responsável por comandar a narração televisiva da final do Estadual de Futebol Americano 2019, o Tereré Bowl.

A arte de transmitir emoções. Talvez esta seja uma das infinitas definições da narração esportiva, tida por grandes nomes do jornalismo voltado à cobertura de esportes como o ápice da profissão e uma realização pessoal memorável. O jornalismo esportivo é, na maioria dos casos, o ofício escolhido por aqueles que tentaram seguir carreira profissional em alguma modalidade, mas que, pelas circunstâncias da vida (pela falta aptidão exigida em alto rendimento, por exemplo), o caminho traçado foi outro. Para os apaixonados por esporte, é uma oportunidade, enxergada na cobertura jornalística deste segmento, de permanecerem cotidianamente ao lado do que se ama.

Grande parte dos membros da narração esportiva brasileira de renome percorreram, antes de entonar marcantes vozes, a estrada das redações jornalísticas, do dia a dia da reportagem por décadas. Foi assim para os finados inesquecíveis Geraldo José de Almeida, Fiori Gigliotti, Osmar Santos e Luciano do Valle, além de Oliveira Andrade, Galvão Bueno, Silvio Luiz e, atualmente em destaque, Rômulo Mendonça, Everaldo Marques, Milton Leite e Isabelly Morais.

Para o jornalista campo-grandense Michael David Ruiz Franco, de 22 anos, o sonho da narração por uma emissora de TV chegou cedo, até mesmo de modo inesperado. Quem o conhece, sabe o quanto é aficionado por esporte e, de prontidão, percebe que possui um talento natural, essencial na arte de narrar: a voz, instrumento símbolo da locução, que marca e aconchega o público.

Formado em 2017, pelo curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Michael atua na área desde o período de estágio, imprescindível para sua notável consolidação na imprensa sul-mato-grossense. De fato, ainda é um foca (jornalista recém-formado, em início de carreira), porém esbanja conhecimento, principalmente no que se refere à cobertura de esportes. Quem ouve, assiste ou lê o que é produzido pelo jornalista, quase sempre acredita que é de autoria de um profissional experiente, com "bagagem".

Para quem gosta, trabalhar com a editoria esportiva é mais que obrigação, é diversão
(Foto: Arquivo pessoal)

Desde sempre, atuou no radiojornalismo. Começou como estagiário e foi efetivado na rádio Capital 95 FM, do Grupo Capital MS de Comunicação, que também detém os direitos da Rádio Globo Campo Grande. Pelo veículo, Michael destacou-se no programa Paixão Nacional, especializado em informações frescas sobre futebol e demais esportes, sempre no ar nos finais de tarde. O jornalista também prestou serviços ao cibermeio Página Brazil, do mesmo grupo comunicacional. Recentemente, Michael foi contratado pela concorrente FM Educativa da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

Amor platônico e sonho de infância concretizado

Michael foi responsável por comandar a transmissão da final da primeira edição do Campeonato Sul-Mato-Grossense de Futebol Americano, o Tereré Bowl 2019, entre Campo Grande Predadores e Dourados Redlands. A decisão foi realizada em 19 de maio, em Terenos-MS, a 27 quilômetros da capital. Além de ser o ano inaugural da competição estadual, esta ficou marcada na história por ter sido a primeira final de futebol americano transmitida em TV aberta no Brasil.

Primeira narração ficará para sempre na memória do jornalista (Foto: Arquivo pessoal)

A TV Educativa de Mato Grosso do Sul, TVE Cultura, realizou este “divisor de águas” para a modalidade no país. Além de abrir as portas para o esporte estadunidense, este feito foi a realização do sonho de infância de Michael Franco. Ele revela que soube do anúncio da transmissão televisiva, mas que nunca imaginaria ser convidado para narrar. “Achei que seria alguém da própria TVE, até porque eles já têm uma equipe própria de transmissões e narração. De qualquer forma, eu iria para Terenos assistir à final. Pensei que podia narrar, queria, mas estava me conformando a respeito de não ser o convidado até então”.

Confira também: Campo Grande Predadores conquista o Campeonato Estadual de Futebol Americano

No entanto, na semana do evento, o presidente da Federação de Futebol Americano de Mato Grosso do Sul (FFAMS) e membro do CG Predadores, Adriano Silveira, fez o convite ao jornalista. “Foi uma felicidade muito grande receber esse convite, porque realmente é um sonho de infância, meio platônico e um reconhecimento ao meu trabalho. Claro que fiquei nervoso, deu aquele frio na barriga, mas é normal. A partir do momento do que fui convidado, comecei a estudar, pesquisar a história dos dois times, da própria TVE, para ter ‘bagagem’ e conseguir narrar melhor forma possível”, salienta Michael.

TVE e Michael entraram para a história do futebol americano nacional
(Imagem: TVE Cultura/Reprodução) 

O radiojornalista também acredita que a narração esportiva é o ápice da profissão para os “loucos” por esporte. Todavia, não acreditava que esta chance apareceria tão rápido, no início de sua carreira. “Acho que valeu a pena cada ônibus que peguei, cada loucura que fiz pra ir à faculdade e me formar. Foi um tempo muito legal, fiz vários amigos e também enfrentei algumas dificuldades. Fui me adaptando e chegar nesse ápice de ser narrador é uma recompensa. Não poderia ser melhor estes meus três anos de carreira, jamais poderia imaginar”, afirma Michael, que planeja se tornar narrador oficial de uma emissora.

“Realmente me senti nas nuvens, foi muito bom ter narrado, é uma coisa que vai ficar na minha memória para sempre. De longe, é o melhor feito da minha vida profissional. Eu posso falar que já fui narrador esportivo para TV, participei de uma transmissão. Não poderia estar mais feliz em relação a isso e que seja a primeira de muitas”, completa.

Michael conta que, desde o período em que trabalhava como estagiário, corria atrás de pautas esportivas, o que gerou a aproximação com o Predadores, principal equipe de futebol americano do estado. “Decidi procurar um esporte que eu gosto, dar uma força para a equipe do Predadores, pois sabia que o esporte amador precisava de força. Como já sabia das regras, procurei não tratar o esporte como desconhecido e senti que eles perceberam que podiam contar comigo, porque eu já estava mais por dentro do assunto. Procurei não os estigmatizar e respeitei o trabalho deles. Fiz aquela primeira pauta, ainda no estágio, e isso me rende frutos até hoje”.

Jornalista vestiu o uniforme e levou até um "tackle" na primeira pauta sobre futebol americano
(Foto: Arquivo pessoal)

Ela afirma que, pelo fato de a equipe de Campo Grande participar da competição nacional da modalidade, a Brasil Futebol Americano (BFA), os duelos do Predadores como mandante necessitavam de narração. “As regras da BFA regem que deve haver um narrador no estádio para o público, explicando as regras, animando. Me chamaram para narrar. Foi bem diferente de narrar para a TV, porque deve ter uma série de cuidados para não cantar a jogada, pois adversário pode escutar e armar alguma estratégia para impedir a jogada”. Ao todo, foram três jogos da BFA narrados.

Madrugadas adentro frente à TV

De campeonato de tênis de mesa a salto com vara, passando pelo arremesso de dardo e hipismo. Jogos Olímpicos de Verão ou Inverno? Os dois. Torneios mundiais? De todos as modalidades possíveis. Assim é a vida de um fã de esportes, não importa qual modalidade, seja ela transmitida na televisão, no rádio ou apresentada em um periódico, no dia seguinte. Se der para assistir, escutar e ler sobre três esportes ao mesmo tempo, melhor ainda.

Michael relata que herdou a paixão esportiva de seu pai. “Acordávamos juntos na madrugada pra assistir a lutas do Mike Tyson, que terminavam num soco só. Hoje, não é diferente, ficamos acordados pra ver lutas de artes marciais mistas (MMA), pra assistir treinos e corridas de Fórmula 1, acompanhar o Rubinho Barrichello e Felipe Massa, pilotos da minha época”.

Segundo o jornalista, o apego pelo esporte está relacionado à dedicação dos atletas. “Gosto de ver este trabalho que ele fez durante toda uma vida tendo um resultado final em um jogo, corrida, prova, luta. Acho que por isso o esporte me chamou tanto a atenção. É um segmento de inclusão social também, democrático, de protesto, expressão cultural”.

Se o "melão" rola, o motor ronca, o atleta corre ou marca, Michael está por dentro
(Foto: Arquivo pessoal)

O campo-grandense ressalta que, com o passar dos anos, interessou-se, com apreço especial, pelos esportes alternativos, aqueles que não estão com relativa frequência nos principais veículos de comunicação. Ele aponta que o futebol do Leste Europeu, de países como Turquia e Polônia, cativou-o por possuir significativa riqueza histórica e cultural.

Além disso, nos tempos da rede social Orkut, por meio das conhecidas comunidades, e com a “explosão” dos blogs segmentados, Michael aprofundava-se em assuntos sobre conhecimento tático e estratégias de jogo. Foi assim que se iniciou a “relação de amor” com o futebol americano.

Ele conta que, em uma noite que dormira na casa de um amigo, que possuía TV por assinatura, teve seu primeiro contato com o esporte ianque, em 2009. O despontar foi em numa partida reprise do Dallas Cowboys, na National Football League (NFL), pelo canal Band Sports. “Fiquei apaixonado. Observei a disposição tática do futebol americano, no qual o time todo necessita armar estratégias para vencer, com os 11 jogadores de ataque e os 11 de defesa. Daí, pensei: ‘meu Deus do céu, que esporte lindo e maravilhoso’. Não tive o estigma de achar o esporte violento, já olhei, de cara, a formação tática e a entrega dos atletas".



Michael recebeu, recentemente, homenagem do Dia Municipal do Radialista, na Câmara da capital
(Foto: Arquivo pessoal)

“A partir daí, comecei a assistir vídeos no YouTube e nunca mais parei de pesquisar. Depois, consegui contratar um serviço de TV por assinatura em casa e coloquei toda minha paixão em prática. Torço, hoje, para o Dallas Cowboys por causa daquele primeiro jogo. No começo, ficava meio chateado quando criticavam o fato de eu gostar de futebol americano, por ser um esporte que muita gente ainda não entendia. Hoje, não ligo. Não quer gostar, não goste, mas não fale mal”, acrescenta Michael, que também confessa ter lido seis livros sobre a modalidade estadunidense.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS