Pan-americano | Rodrigo Bertolotto, do UOL | 06/06/2007 10h55

Tocha do Pan vira palanque político para todos os partidos

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Porto Seguro (BA) - A sigla PAN bem que poderia ser a denominação de um partido (aliás, até a eleição passada era o abrigo do nanico Partido dos Aposentados da Nação), mas está mais para uma coligação política inimaginável na vida real: PT, PSDB, PMDB, PC do B e DEM (ex-PFL) dividindo o palanque dos Jogos de 2007. Só poderia ser em um ano sem eleição e com um evento em que todos querem tirar uma lasca.

Foi o que se viu no primeiro dia da tocha pan-americana na Costa do Descobrimento (sul da Bahia). Por um lado, ministros prometendo obras. Por outro, o prefeito carioca, César Maia (DEM), tentando se popularizar nacionalmente.

Mas o Pan traz louros e também dores políticas, principalmente pelos gastos excessivos das obras. Há uma CPI instalada pelos vereadores do Rio e plano de similares na Assembléia fluminense e no Congresso Nacional. "Essa configuração com partidos diferentes na esfera municipal, estadual e federal acaba inibindo a proliferação de CPIs. Se não, vai ser uma CPI para vingar a outra", argumenta César Maia.

Marta Suplicy (PT), ministra do Turismo, tinha a principal cartada na manga: anunciar para a população de Cabrália que será construído um píer na cidade.

Seu colega da pasta do Esporte, Orlando Silva Jr. (filiado ao PC do B), não ficou atrás e fez sua promessa também na aldeia de Coroa Vermelha. "Vou trazer equipamento esportivo para aqui. Eu quero ver um índio pataxó no próximo Pan", discursou na cerimônia de acendimento da chama.

Marta se atrapalhou no discurso. Promovendo o Pan e a candidatura para a Copa do Mundo de futebol de 2014, a ministra do Turismo acabou se confundindo, falando em "chama olímpica" (é, na verdade, pan-americana) e afirmando que ela passaria pelas "sedes do Pan" (é a Copa que tem várias sedes, o Pan só tem uma).

Ela se mostrou em clima de campanha. Abriu o discurso com um "bom dia, baianas e baianos queridos" e soltou a eloqüência: "Corrente positiva para que essa luz ilumine a força do Brasil para mostrar para o COI (Comitê Olímpico Internacional) e a Fifa que esse país pode receber uma Olimpíada ou uma Copa." Essa defesa dos "grandes eventos esportivos" é parte de sua estratégia para se lançar nos próximos anos ao palácio dos Bandeirantes ou do Planalto.

Outro que sonha em ser presidenciável é o prefeito César Maia -é como se ele se referisse a ele mesmo quando fala no Pan. "Os Jogos pertencem ao Brasil, o Rio é só a sede", discursou na Bahia. O esforço para caracterizar a competição como o "Pan do Brasil" parece tão inglória quanto Maia transformar sua popularidade no Rio em algo nacional.

O PSDB também estava representado nesse palanque. Eduardo Paes, candidato derrotado ao governo do Rio, virou secretário do vencedor Sérgio Cabral Filho (PMDB) e está na maioria das cerimônias em que o mandatário fluminense não vai. Foi assim de novo em Cabrália e Porto Seguro.

Já o governador Jacques Wagner (PT) se mostrou confortável no papel de cicerone dessa sopa partidária. "A Bahia é uma terra mágica, é a terra dos encontros", falou ao receber a comitiva que vinha com o fogo acesso nas pirâmides astecas e embarcada em um vôo direto Cidade do México-Porto Seguro, transportada pelo Sucatão, avião da Força Aérea Brasileira que antes transportava o presidente.

"E aí, Martinha, tudo bem?", foi a saudação de Wagner para a ministra.
Quando o mandatário baiano recebeu a chama pan-americana, logo veio a emenda do ministro do Esporte. "O revezamento começa com você, governador", brincou Orlando Silva Jr.

No comício para a tocha, o ministro pediu palmas para o executivo sul-coreano da empresa que patrocinador do revezamento da tocha. "Vamos aplaudir o senhor Park. É ele que está pagando essa festa", soltou no palanque -na verdade, o governo federal banca metade dos R$ 10 milhões gastos com a "flama das Américas".

Porém, quem incorporou o papel de animador de auditório foi Carlos Arthur Nuzman, o presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e do CO-Rio (Comitê Organizador dos Jogos). "Bom Dia, gente...vamos responder mais forte...isso...Bom dia...é isso aí", gritou diante do público de Cabrália.

Depois, poetizou em seu discurso: "A tocha vai passar pelo azul do nosso céu, o verde de nossas matas e chegar ao amarelo ao dourado, de nossas medalhas."

Nuzman comparou várias vezes a passagem da chama a uma "grande epopéia" e afirmou que o Pan começara neste de 5 de junho -ele falou a mesma coisa no dia anterior, quando do ritual nas pirâmides de Teotihuacán (México).

Por seu lado, o cacique Aruã, chefe da aldeia em que começou o revezamento, também deu seu recado político, lembrando que o extermínio dos índios brasileiros iniciou ali em Coroa Vermelha e pediu mais atenção para as autoridades -justo ele que acabou sendo substituído na primeira fila do evento pelos executivos do patrocinador da tocha.

Próxima cidade - Goiânia será, nesta quarta-feira, a primeira das capitais a receber a tocha do Pan. Prevista para chegar às 11h (Brasília), a chama segue para o estádio Serra Dourada, que terá a presença do governador do Estado, Alcides Rodrigues. O fogo ficará por quatro horas na cidade e deverá ser conduzido pelo atacante Túlio.

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