Pan-americano | UOL | 30/07/2007 15h49

Políticos querem que "herança" do Pan dê lugar a shopping

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Rio de Janeiro (RJ) - O clima é de fim de feira no Rio após o Pan-Americano, mas, pelos projetos dos governantes locais, parte dos cenários que viram a campanha recordista do Brasil vai virar palco de outras feiras, se transformando em shopping, centro de convenções, hotel ou casa de shows.

O governador do Rio, Sérgio Cabral, já apresentou o projeto de demolir o tradicional parque Julio de Lamare, que recebeu as partidas de pólo aquático. A idéia também colocaria abaixo o estádio de atletismo Célio de Barros - ambos fazem parte do Complexo do Maracanã, como o ginásio Maracanãzinho.

"Esses espaços não são tombados e podem ser convertidos em equipamentos que completariam o Maracanã, como estacionamento, shopping e outros", disse o mandatário fluminense, ao apresentar a idéia para a empresa que reconstruiu o estádio de Wembley, na Inglaterra.

Apesar da revolta dos dirigentes de atletismo e natação, Cabral está mais preocupado com a perspectiva do Brasil sediar a Copa do Mundo de futebol de 2014. A pista do Célio de Barros é local de treinamento de 150 atletas, enquanto as piscinas do Julio De Lamare é utilizado em programas de inclusão esportiva e formação de base de nadadores.

O prefeito carioca, César Maia, apoiou a iniciativa do governador, enfatizando que só o Maracanã é tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)

"O importante é o funcionamento do Maracanã, com seus Fla-Flus", afirmou o prefeito, mostrando que, mesmo com o Pan recém-acabado, a cultura futebolística é a que predomina para o político.

O Estádio de Remo, situado na lagoa Rodrigo de Freitas, é outro alvo dos governantes. Já no projeto inicial, o local teria um shopping, mas a obra foi parcialmente embargada após ação civil. A idéia é fazer um "espaço cultural", com cinemas, restaurantes e estacionamento. Os moradores da vizinhança não querem uma construção tampando a vista para o cartão postal carioca.

O governador disse que o legado para os remadores são as raias e os barcos, mas vai insistir para ter a "área de entretenimento" por lá. Para o Pan, parte das arquibancadas foram construídas com tubulações provisórias no terreno que vive a briga judicial.

Já César Maia quer transformar outras construções feitas para esportes bem específicos em "locais mais rentáveis". Sua proposta é fazer do parque aquático Maria Lenk um local para jogos de tênis e espetáculos musicais.

"Estamos pensando em criar uma base para que sejam disputados jogos de tênis, além de shows. A natação não é rentável", sentenciou o prefeito, esquecendo que logo ao lado se situa a Arena Multiuso, usada para a ginástica e o basquete no Pan, que pode facilmente ser convertida em local para apresentações musicais.

Somadas as idéias de Maia e Cabral, o Rio vai ficar sem nenhuma das piscinas que viram a natação, o pólo, o salto ornamental e o nado sincronizado ganharem medalhas para o país.

O prefeito, porém, tem também outra idéia para o Velódromo, construído próximo ali em área que correspondia ao autódromo de Jacarepaguá. Mesmo com o déficit de locais especializados em receber eventos de ciclismo no país e com o detalhamento dos materiais que foram importados para receber o evento das bicicletas (o piso é de pinho da Sibéria), a prefeitura do Rio quer aumentar a capacidade de público e fazer um tratamento acústico para transformar o local em casa de shows.

Pelas pranchetas dos governantes do Rio, saem os atletas das arenas do Pan e entram os artistas, os consumidores de shopping ou os executivos em congressos - como vai acontecer no Riocentro, centro de convenções que abrigou dez modalidades do Pan, além dos centros de imprensa e TV montados para a competição. Até o final do ano, local vai abrigar uma feira de veterinária, além da Bienal do Livro. Saem os medalhistas, entram os cães e gatos.

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