'Estrangeiros' boicotam as seletivas brasileiras para hipismo
São Paulo (SP) - A Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) pode até dito que pretendia aproveitar a mobilização em torno dos Jogos Pan-americanos no Rio para divulgar a modalidade, mas o começo da nova gestão foi, no mínimo, atrapalhado. Depois de Rodrigo Pessoa e Cassio Rivetti, Álvaro Miranda, o Doda, e Pedro Veniss também decidiram ficar fora das seletivas para a equipe de salto. O motivo é o mesmo: eles não concordam com o critério de formação da equipe que terá seletivas apenas no Brasil. Os quatro cavaleiros vivem na Europa.
"Não concordo e acho um contrasenso. Os brasileiros que moram na Europa fazem uma série de sacrifícios, ficam longe de suas famílias, estão em concursos todos os finais de semana e encaram os melhores do mundo em vários países, por isso acredito que eles têm melhores condições de trazer medalhas para o Brasil", analisa Doda.
Campeão pan-americano por equipe em Winnipeg-99, ele discorda da situação criada pela CBH. "Nunca tivemos esse problema de dizer que temos brasileiros e `estrangeiros´. Em todas as equipes das quais participei tínhamos cavaleiros que moravam no Brasil e cavaleiros radicados na Europa. Essa divisão é completamente absurda. O que importa é ter a melhor equipe nas melhores condições", reclama o cavaleiro, questionando a aparente falta de preocupação justamente com o último aspecto.
"É justamente sobre este ponto que ninguém está se preocupando. Eu poderia muito bem pegar alguns de meus cavalos e passar um ou dois meses no Brasil disputando as seletivas. O problema é que na Europa estão os concursos que mais somam pontos para o ranking mundial, pagam as melhores premiações e têm os melhores níveis técnicos", lamenta Doda.
Assim como Rivetti destacou à GE.Net na segunda-feira, levar sua montaria para o Brasil para as seletivas e depois cumprir os compromissos já programados inviabiliza o projeto pan-americano. "Tenho que voltar com ela para a Europa para seguir nosso planejamento que tem como alvo não só o Pan-americano, mas competições muito mais difíceis como Jogos Olímpicos e Mundiais. Depois disso tudo, se estiver classificado para o Pan, preciso voltar ao Brasil para a competição e para o Athina Onassis Horse Show. Nesta ocasião, poderemos ter a melhor equipe, mas nas piores condições, pois os cavalos estarão esgotados".
Veniss, que vive em Portugal há seis anos, também não se conforma com a situação. "Cheguei aqui com 18 anos, lutei muito. Sempre defendi o Brasil nestes seis anos, só não fui ao Mundial no ano passado por uma contusão do Richomont Park. Saltei todas as seletivas solicitadas, ganhei dois Grandes Prêmios e conquistei minha vaga na pista. Depois destes seis anos longe do meu país, da minha família e amigos não posso concordar que me chamem de `europeu´".
Doda, assim como Rodrigo, defende a definição de uma ou duas vagas na equipe em algum concurso na Europa. "Se tivéssemos mais uma ou duas vagas em algum concurso na Europa, como o de Arezzo, na Itália, já seria uma ótima oportunidade. O problema é ter um compromisso com a vitória no Pan do Rio, independentemente deste compromisso agradar A, B ou C.É isso que não estou vendo nos dirigentes e cavaleiros que moram no Brasil: o compromisso com a melhor equipe possível".
Para Doda, disputar uma seletiva na Europa seria mais fácil para os atletas que vivem no Brasil que o contrário. "Para disputar uma vaga em Arezzo, por exemplo, vão perder apenas uns 20 dias e seus cavalos farão apenas uma viagem intercontinental".
Na opinião do cavaleiro, as pessoas estão visando apenas o interesse próprio e não o da equipe. "Cavaleiros que hoje residem no Brasil sempre defenderam que a preparação da equipe brasileira deveria ser feita na Europa. Recentemente alguns estavam se preparando na Europa para o último Campeonato Mundial, mas agora que estão no Brasil acham tudo ao contrário".
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