Pan-americano | UOL | 20/06/2007 11h25

Brasileiros da maratona opõem a juventude e a experiência

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Rio de Janeiro (RJ) - A dupla masculina que vai representar o Brasil na disputa da maratona, no Pan-Americano, opõe um veterano e um novato. Aos 37 anos, Vanderlei Cordeiro de Lima chega para defender o bicampeonato pan-americano, credenciado pela conquista do bronze nas Olimpíadas de Atenas-2004, na histórica prova em que foi empurrado por um expectador antes de voltar a correr e conquistar o bronze.

Franck Caldeira, de apenas 24 anos, pode ainda não ter conquistas importantes no cenário internacional, mas já conseguiu resultados importantes no Brasil. Em 2004, venceu a Maratona de São Paulo, em sua estréia na distância de 42.195 m. Foi também sua única vitória até agora.

A diferença de 13 anos entre os dois atletas seria relevante? Normalmente, os corredores de provas de fundo fazem a transição para a maratona por volta dos 30 anos, quando tendem a atingir o auge nesta prova. Assim, Franck seria exceção, e seu treinador avisa que ele ainda não deve ser considerado um maratonista.

"Ele ainda vai fazer muitas provas menores. Por ainda ser novo, vamos limitar a participação dele nas maratonas", diz Henrique Viana, que orienta o atleta. O técnico acredita que é possível começar cedo, desde que seja como uma preparação para o futuro. "Nós consideramos o auge para um maratonista de 28 a 32 anos, mas não quer dizer que ele não possa correr antes. Ele deve fazer uma preparação pensando em correr bem com 28 anos."

Para ilustrar sua tese, o treinador recorre à cultura popular. "Sou do interior de Minas e vou explicar da forma mais simples. Quando minha mãe ia preparar um frango jovem, ela colocava na panela e o frango cozinhava rápido. Quando ela ia fazer um galo velho, demorava horas naquele fogão de lenha. Isso porque o frango tem suas fibras musculares mais frágeis e o galo tem suas fibras mais enrijecidas", diz. Ou seja, os atletas mais velhos estão mais preparados para correr os 42.195 m da maratona.

O outro atleta que poderia estar na disputa no Pan é Marílson Gomes dos Santos, dono das duas melhores marcas do país na maratona, este ano. Mas ele abriu mão da vaga e vai tentar a classificação nos 5.000 m e 10.000 m. O atleta fez sua estréia na prova de rua em 2004, aos 26 anos e conseguiu seu primeiro grande resultado no final do ano passado, ao vencer a Maratona de Nova York, aos 29 anos.

"O único a iniciar cedo foi o Franck, mas não com resultado internacional, como o Marílson e o Vanderlei", ressalta Ricardo D\'Angelo, técnico de Vanderlei Cordeiro de Lima. Ele tem opinião semelhante à de Henrique Viana, defendendo que é preciso ter rodagem antes de se lançar na prova mais longa.

"É necessário ter uma vivência fisiológica nos 5 e 10 mil para depois passar para a maratona. Para um atleta mais novo, você pode estar propondo uma carga de trabalho sem que o organismo estivesse preparado ainda. Um atleta de 20 ou 21 anos pode correr bem uma maratona, mas não sei se vai correr bem durante dez anos. Precisa fazer adaptações anteriores", explica.

Se, no futuro, Franck ainda deverá ser avaliado, outra maratonista brasileira que vai ao Pan, assim como ele, também começou cedo, e comprovou que as exceções podem dar certo. Márcia Narloch já tem 20 anos de carreira como maratonista e vai tentar o bicampeonato no Pan.

"Eu acho que essa história de idade vai muito da característica de cada atleta. Eu mesma comecei antes dos 30 e não parei mais. Para mim, isso vai mais da genética", defende. Mas a corredora admite que essa não é a regra em uma prova tão desgastante. "Sou uma exceção", diz.

"Quando fiz minha primeira maratona, em 1990, na Alemanha, meu técnico, o Filé, tinha vários pontos de interrogação, não sabia se era muito cedo ou não, sabia que tinha o risco de eu me machucar. Mas eu fui bem, terminei em segundo lugar, não me senti quebrada", descreve. "Para ele, foi uma surpresa muito grande", completa.

Na opinião de Narloch, uma das grandes vantagens de passar dos 30 para um maratonista, é ter mais controle emocional para enfrentar o desafio. "A vantagem é estar mais preparado mentalmente", afirma.

*colaborou Felipe Mendes

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