Olimpíadas | Gazeta Esportiva.Net | 23/08/2008 17h37

Seleção faz 3 sets a 1 e é a campeã olímpica no vôlei feminino

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Pequim (China) - "Depois de tanto sacrifício, de tanto sofrimento, eu tenho certeza de que alguma coisa boa está reservada para a gente". Pouco mais de um ano atrás, foi desta forma que a levantadora Fofão encerrou uma das inúmeras entrevistas na qual tentava explicar outra incrível derrota em uma decisão, no caso a perda da medalha de ouro para Cuba em casa, nos Jogos Pan-americanos. Pois neste sábado, na China, a recompensa chegou: com uma vitória sobre os Estados Unidos por 3 sets a 1, parciais de 25/15, 18/25, 25/13 e 25/21, o Brasil, da capitã Fofão, sagrou-se campeão olímpico dos Jogos de Pequim 2008.

O feito, histórico, foi a última aparição da levantadora com a camisa verde-amarela, a qual veste há nada menos que 18 anos. Uma despedida de gala, com grande atuação da atleta que teve a tranquilidade de passar boa parte de sua carreira no banco de Fernanda Venturini. Após o trauma da semifinal dos Jogos de Atenas, quando o Brasil perdeu um jogo praticamente ganho diante da Rússia, Fofão chegou a anunciar sua saída da seleção, mas foi convencida pelo técnico José Roberto Guimarães a ficar para um último ciclo olímpico.

Zé Roberto, aliás, que finalmente conquista a sua redenção depois de quatro anos passados sob imensa desconfiança, um sentimento embasado por outra derrotas doídas, como as finais do Mundial-2006 e Pan-2007, onde mais uma vez a equipe nacional teve grandes oportunidades de conquistar o ouro, mas falhou. Dezesseis anos atrás, o treinador já havia feito história ao levar o time masculino ao título dos Jogos de Barcelona. Assim como em 2008, poucos acreditavam na conquista do ponto mais alto do pódio.

Ao contrário do que costuma ocorrer em confrontos decisivos no vôlei feminino de seleções, a final de Pequim-2008 foi disputada entre duas equipes que não trocaram nenhuma provocação antes da partida. Não porque as jogadoras estavam sob um regime do politicamente correto, mas sim porque as atletas são amigas fora da quadra. A meio-de-rede dos Estados Unidos, Danielle Scott-Arruda é casada com o ex-jogador brasileiro Eduardo Pezão, e atuou ao lado de muitas das rivais deste sábado nas últimas temporadas.

O clima de amizade entre as duas equipes é tanto que este ano Brasil e Estados Unidos fizeram jogos-treinos em território norte-americano, com vantagem para as brasileiras. Pouco antes do início dos Jogos, já em Pequim, as duas equipes voltaram a compartilhar a preparação, com a equipe verde-amarela vencendo por 5 sets a 0. Pouco antes, na disputa da fase final do Grand Prix, o Brasil também havia imposto uma derrota às rivais deste domingo por 3 sets a 0.

Apesar de todo o histórico favorável ao Brasil e da falta de títulos de expressão no cenário internacional nos últimos anos, os Estados Unidos não foram um rival fácil. Depois de um início irregular nas Olimpíadas, as comandadas da técnica chinesa Lang Ping, uma das maiores jogadoras da história do vôlei, embalaram com grandes vitórias sobre as favoritas Itália e Cuba, respectivamente nas quartas-de-final e na semifinal da decisão.

No primeiro set, as norte-americanas até começaram bem e mantiveram as ações equilibradas até o primeiro tempo técnico. O problema é que elas não contavam com a eficiência de Sheilla no ataque e o brilho de Fofão, que deixava o bloqueio norte-americano completamente perdido. Apesar de algumas falhas pontuais na defesa, o Brasil não teve dificuldade para fazer 25 a 15 em apenas 22 minutos.

O panorama mudou na etapa seguinte, quando os Estados Unidos passaram a forçar o saque em cima de Mari. A ponteira não mostrou a mesma regularidade no passe que vinha apresentando até então e logo as rivais assumiram a ponta com grande vantagem. Atrás no placar, todas as jogadoras da equipe nacional passaram a errar excessivamente a recepção. Sem o passe na mão de Fofão, o ataque também se tornou ineficiente e as norte-americanas empataram a partida.

O domínio imposto pelos Estados Unidos acordaram as brasileiras no terceiro set. Com a equipe acertada na defesa, Fofão voltou a distribuir bem as bolas, permitindo que Paula Pequeno, Mari e principalmente Sheilla utilizassem todo o seu repertório de jogadas de ataque. Dessa forma, o Brasil não teve problemas para fazer 25 a 13.

O quarto set foi o mais dramático, com os dois times trocando ralis e se alternando na liderança da etapa. Com contornos dramáticos, o set foi se desenvolvendo com ninguém conseguindo escapar no placar, até que o bloqueio do Brasil brilhou na reta final da etapa. Um erro de ataque da melhor jogadora dos Estados Unidos, Logan Tom deu número finais ao jogo, fazendo imediatamente jogadoras e comissão-técnica da equipe caírem em lágrimas. Com 19 pontos, Sheilla foi a maior pontuadora da partida.

Desabafando todo o sofrimento dos últimos quatro anos, a líbero Fabi e a ponteira Mari fizeram sinal de \"cala boca\" para as câmeras, um recado direto a todos aqueles que as chamaram de amarelonas desde 2004. No pódio, as jogadoras levantaram um cartaz lembrando de Carol Gattaz e Joycinha, cortada às vésperas de Pequim e, já com a medalha de ouro no pescoço fizeram um cícrculo e comemoraram se jogando no chão, antes de dar uma volta correndo pelo ginásio.

O jogo - Uma partida tensa e de altos e baixos. Assim pode ser definido o último passo da seleção brasileira feminina de vôlei rumo à inédita medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim. Ao contrário da semifinal contra a China, a equipe nacional não apresentou nervosismo em quadra, mas encontrou pela frente um time que também se apresentava muito vibrante.

Com isso, os primeiros momentos da final foi de completo equilíbrio, mas dois aces controversos dos Estados Unidos, nos quais as brasileiras reclamaram que a bola tinha ido para fora, colocaram as norte-americanas na frente, por 6 a 4. Um forte ataque de Paula Pequeno colocou o Brasil pela primeira vez à frente (7 a 6), mas na sequência defesa brasileira bobeu em uma bola fácil e as rivais empataram.

O primeiro tempo técnico fez bem para as brasileiras, que finalmente dispararam no placar, impulsionadas por um bloqueio de Sheilla em cima de Logan Tom, a melhor jogadora dos Estados Unidos nas Olimpíadas: 12 a 10.

Lang Ping então parou o jogo, mas o Brasil continuou à frente, com vantagem ainda maior graças a dois erros de Haneff-Park, que acabou substituída por Kim Willoughby: 15 a 10. Jogando muito, Fofão enganou toda a defesa adversária e deixou Fabiana quase livre para fazer 19 a 11.

No lance seguinte, Fabiana pegou uma bola de xeque após saque flutuante chapado de Mari. No banco, a técnica dos Estados Unidos nada pôde fazer, visto que já tinha pedido o seu segundo tempo técnico sem resolver a situação. O primeiro set então foi fechado após erro de recepção de Logan Ton, após ace de Paula Pequeno.

A facilidade da primeira etapa, porém, não foi vista no segundo set, quando os Estados Unidos passaram muito a forçar o saque em cima de Mari. Mal na recepção, a atleta não conseguia colocar a bola adequadamente na mão de Fofão e Haneff-Park bateu sem bloqueio para marcar 5 a 1.

Zé Roberto parou o jogo para acalmar as meninas do Brasil, mas, apesar de Paula Pequeno conseguir um bloqueio, o time nacional continuava bem atrás no placar. Mari também tentou, mas o melhor que conseguiu foram dois pontos seguidos, um de bloqueio e outro de ataque para fazer 12 a 09.

Confiantes, as norte-americanas estancaram a reação das brasileiras e foram para o segundo tempo técnico com 16 a 11 no placar. Neste momento, Fofão chamou todas as atletas para uma conversa e o Brasil voltou bem para o jogo, com dois pontos seguidos, mas Logan explorou o bloqueio verde-amarelo para deixar a vantagem em quatro pontos.

Os erros de passe continuaram e Sheilla pisou na linha dos três metros: 20 a 14. Com grande dificuldade, Paula Pequeno ainda deu um último respiro para o Brasil. Pelo meio, Fabiana salvou o primeiro match point, mas Logan Tom fechou o set após Fabi e Mari errarem na recepção.

O terceiro set começou tenso, com as duas equipes se estudando. Forçando o saque, o Brasil passou a não ter tantas dificuldades na distribuição de bolas. Sheilla então mostrou grande visão de jogo ao largar a bola no fundo da quadra (4 a 2). Em seguida, Paula foi bloqueada, mas logo se redimou para fazer 5 a 3.

Depois de Mari saltou de trás para aumentar a vantagem, Lang Ping pediu tempo, mas quem voltou brilhando foi a oposta brasileira. Fofão também fazia bonito e, mesmo no meio da quadra, levantou de costas para Mari, que fez 12 a 06.

Mas Sheilla continuou imbatível no ataque e até mesmo no saque, fundamento no qual colocou 19 a 14 no placar. Um novo bloqueio colocou dez pontos de vantagem para o Brasil: 22 a 12. Walewska então conseguiu o set point depois de salvar bola em que Sassá ficou no bloqueio. A ponteira de redimiu com um belo saque na sequência. A bola voltou de graça e Mari encheu a mão para deixar o Brasil a um set do título.

Antes, porém, as jogadoras e a torcida teriam que passar por grande sofrimento. Em um quarto set dramático, as duas equipes, ficaram se alternando na frente do placar. Quando Sheilla marcou 15 a 13, as coisas deram a impressão de terem ficado mais fáceis, mas Lang Ping pediu tempo para uma cartada final.

E ela quase deu certo: voltando a forçar o saque em cima de Mari, que errou três vezes seguidas, os Estados Unidos viraram o placar. O fantasma de Atenas ameaçou dar as caras, mas Zé Roberto pediu tempo quando perdia por 16 a 18. Foi então que Fabiana se aguigantou, pegou dois bloqueios em seguida e colocou o placar em 23 a 21. Um bloqueio de Sheilla deixou o Brasil a um ponto da vitória e no lance seguinte, Logan Tom jogou para fora, fechando as Olimpíadas de Pequim.

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