Ouro de Cielo é recompensa de aventura que iniciou há 7 anos

São Paulo (SP) - O ouro que César Cielo conquistou na piscina de Pequim começou a ser construído há sete anos, com dedicação, suor e sacrifícios de toda a família do garoto nascido em Santa Bárbara d'Oeste. Aos 21 anos, o nadador tornou-se o homem mais rápido a nadar 50m em uma Olimpíada e colocou seu nome entre os heróis esportivos do Brasil, conquistando a primeira medalha dourada da natação brasileira na história.

Cielo iniciou a carreira de atleta aos oito anos de idade, em sua cidade natal. Foi por lá que conquistou sua primeira medalha na natação, um bronze justamente na prova em que, atualmente, é campeão e recordista olímpico. "Sempre tive confiança no trabalho que fiz ao longo de minha vida. Quando estou atrás da baliza, não sei se vou ganhar, mas acredito em tudo o que fiz", afirmou o nadador após o ouro.

Aos 14 anos, Cesão, como é conhecido pelos amigos, começou a treinar em Piracicaba, onde ficou por dois anos e passou a obter resultados mais expressivos. Sabendo do talento que tinha em casa, Flávia de Brito Lyra Cielo, mãe do nadador, procurou o treinador do Esporte Clube Pinheiros de São Paulo, Alberto Silva, o Albertinho, que convidou César para treinar na capital.

Entretanto, por causa das dificuludades, a família decidiu recusar o convite e permanecer em Piracicaba, mas Albertinho tentou novamente. \"Dois dias depois, o Albertinho ligou de novo, mas chamando o Cesão para treinar com o Gustavo (Borges)\", contou Flávia, em entrevista concedida a uma emissora de televisão em Pequim.

Dessa vez, o convite foi aceito. Animado por estar ao lado de um de seus ídolos, Cielo nadou no Pinheiros dos 14 aos 16 anos, período em que começou a despontar no cenário brasileiro da natação e a chamar a atenção do próprio Gustavo Borges. "Percebi que ele era bom quando comecei a perder para ele nos treinos", comentou o ex-nadador, medalhista de prata em Barcelona-92 e Atlanta-96.

A partir deste momento, além de companheiro de equipe, Gustavo passou a ser amigo e conselheiro de Cesão. Juntos, eles decidiram que o futuro campeão olímpico deveria treinar nos Estados Unidos. "A escolha de ir para os Estados Unidos foi a mais acertada que a gente tomou junto", confessou Cielo.

Assim, aos 18 anos ele se mudou para Alburn, onde faz faculdade e treina sob a orientação do ex-atleta australiano Brett Hawke, finalista nos 50m livre em Atenas-2004. Desde o início, Hawke sabia do potencial de seu pupilo. "Ele tem um enorme talento, muita fé em si mesmo e as habilidades necessárias que o fizeram vencer a prova."

Ao lado da elite da natação mundial, Cesão evoluiu ainda mais. Em 2007, foi convocado para defender o Brasil nos Jogos Pan-americanos, quando todas as atenções estavam voltadas para Thiago Pereira. Naquela ocasião, o País conheceu a promessa da natação brasileira.

No Pan, Cielo conquistou três medalhas de ouro, nos 100 e 50 metros livre e nos 4x100m do mesmo estilo, além de ganhar uma prata no revezamento 4x100m medley. A partir deste momento, Cesão passou a ser uma das esperanças verde-amarelas ao pódio em Pequim.

Mais que apenas esperanças, realidade. Ao lado dos melhores nadadores do mundo, entre eles os recordistas mundiais Eamonn Sullivan e Alain Bernard, o brasileiro nadou pelas beiradas, literalmente. Na final dos 100m livre, Cesão estava na raia oito, com o pior tempo das eliminatórias, mas isso não o impediu de ser melhor e conquistar o bronze. Após a conquista, ele prometeu: "Agora, vou buscar o ouro nos 50m". E a promessa foi cumprida.

Diferentemente da final dos 100m, quando não era cotado ao pódio, nos 50m entrou como o grande favorito, após duas quebras de recorde olímpico nas eliminatórias. Nadando na raia quatro, Cesão não decepcionou, venceu, com direito a novo recorde, 21s30. Foi com esta marca que Cielo escreveu seu nome na história do esporte nacional. Agora, como o primeiro medalhista de ouro da natação brasileira, o País de novo tem em quem apostar.