Diversos | Da redação | 29/11/2018 10h03

UCDB encerra modalidades, retira bolsas e revolta atletas

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Nem mesmo os bons resultados recentes -e os conquistados em mais de 20 anos- nas principais competições universitárias do Brasil vão impedir a UCDB (Universidade Católica Dom Bosco) de encerrar o apoio às modalidades esportivas. A medida, que será tomada gradualmente, já foi repassada a alguns dos mais de 140 atletas que competem pela instituição. E, com a ameaça de perder inclusive as bolsas que recebem, eles já prometem uma manifestação.

“Ocorre que eles falaram que não sabem se vão garantir as bolsas dos atletas. Falaram um monte de mentira para nós, para que não fizéssemos uma manifestação na faculdade, mas os atletas irão fazer sim, como forma de protesto. Queremos que eles garantam que quem já esteja estudando, continue com a bolsa até o final do curso, mesmo que a modalidade tenha acabado”, disse uma atleta ouvida pela reportagem, sob condição de anonimato.

A história do incentivo do esporte na Universidade começou há duas décadas, com o futsal masculino. Desde então, modalidades como handebol, voleibol, basquete, futsal, além das individuais, protagonizaram uma rivalidade história com outras instituições de ensino de Campo Grande, como Mace e ABC, além de empilharem troféus nas galerias da instituição -somente nos Jogos Abertos de Campo Grande, são 14 conquistas-.

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Com isso, a UCDB não só ganhou projeção nacional com o esporte e tornou-se referência em Mato Grosso do Sul, mas, também, ajudou a formar centenas de profissionais com as bolsas de estudos concedidas aos atletas. A palavra ‘reestruturação’, sustentada pela instituição, não convence os atletas que dependem das bolsas para a conclusão dos estudos, já que até mesmo alguns professores já foram demitidos. Equipe-de-voleibol-feminino-da-UCDB-campe-dos-Jogos-Abertos-de-Campo-Grande

Voleibol feminino da UCDB, campeão dos Jogos Abertos de Campo Grande

“Os únicos setores reestruturados são os ligados a projetos sociais e modalidades esportivas. Até o curso de Educação Física perdeu vários projetos vinculados à qualidade de vida em função dessa reestruturação. Chamaram representantes de cada modalidade para uma reunião e só falaram mentiras. Disseram que mandaram técnico embora por conduta profissional. Que foi feita uma avaliação, mas que não foi feita. Nós atletas não fomos ouvidos nessa avaliação. Questionamos o custo, e eles não têm esses dados”, afirmou a atleta Karen Renate Pinheiro Muller, que se formou em Direito e Educação Física como bolsista.

“Estou na UCDB desde 2005, me formei baseada nessa política de incentivo a formação do cidadão e não tem como o esporte não estar vinculado a isso. E, de uma hora pra outra, resolve acabar com tudo, e sem dar uma justificativa plausível. Não é questão financeira, mas é prioridade. O esporte não é mais prioridade para eles”, desabafou a atleta.

Segundo ela, a luta agora é manter a bolsa até o final do curso, já que muitos acadêmicos não têm condições de arcar com os custos das mensalidades. A UCDB, no entanto, propôs apenas mais um semestre, solução que foi aceita de maneira paliativa.

“Propuseram oferecer apenas um semestre. Aceitamos, mas queremos mais. Queremos que seja garantida a bolsa até a formação de todos os atletas que estão na instituição. Eles fizeram essa proposta para o vôlei masculino, mas deram um semestre e cortaram a bolsa. Estão querendo conversar apenas para evitar manifestação ou algum pedido de ajuda para que nossa causa não seja esquecida”, concluiu.

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Handebol da UCDB fez história na LDU, em 2017, mas será extinto

Vazio - Após uma reestruturação em 2017, o voleibol masculino deixou de existir na Católica. Conforme apurado pela reportagem, basquete feminino e o masculino, que foi vice-campeão dos Jogos Universitários Brasileiros deste ano, handebol masculino, campeão da Liga Universitária em 2017, e o futsal masculino, campeão da Taça Brasil 2018, também estão com os dias contados.

Primeiro coordenador de esportes e mentor das primeiras equipes de futsal da UCDB, Júlio César de Souza, o “Pelezinho”, reconhece o buraco que se abre no esporte de Mato Grosso do Sul com a retirada do apoio e das bolsas. Porém, como empresário, ele tem uma visão ponderada da situação e reconhece as dificuldades financeiras que a instituição enfrenta.

“No aspecto emocional, é lamentável. Pois é difícil você fazer uma coisa acontecer e, de repente, vem um pessoal, uma administração, e termina com o que deu certo por vários anos. Se olhar o lado administrativo, cada um sabe onde o calo aperta. A Universidade hoje passa por dificuldade financeira. Então, é muito fácil todo mundo criticar, principalmente órgãos públicos, mas a gente sabe que ninguém ajuda. Houve um investimento muito alto, com bolsa, técnicos, estrutura física. Conheço a realidade financeira da UCDB, é uma somatória que inviabiliza e desenha o quadro que está hoje”, ponderou.

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Pelezinho foi o primeiro coordenador de esportes da UCDB (Foto: Luciano Muta/Diário Digital)

“Esportivamente, é lamentável, pois o esporte precisa de apoio, precisa da UCDB, a única a nível universitário que apoiava o esporte. Existe também a gestão. Hoje, ela não tem uma visão voltada para o esporte. As instituições dependem de quem está na direção. Hoje, provavelmente a gestão não vê o esporte como um instrumento de impulsionar a universidade. É uma entidade particular, então, se quiserem acabar, vão acabar, é um direito. A gente lamenta. Óbvio que vai prejudicar os acadêmicos, muitos futuros profissionais. É lamentável que passe por isso”, completou.

Para o treinador de futsal Sérgio Pavão, formado na UCDB, mas que rivalizou por anos com a instituição no comando do time da Mace, a retirada das equipes deixará um vazio no esporte sul-mato-grossense.

“O esporte de base sempre foi carente de investimento da iniciativa privada. A UCDB sempre foi referência em disputas universitárias. É uma perda enorme. Ouvi falar que é reestruturação. Isso não existe. Existe você conversar com cada técnico e falar para ele diminuir custos, reestruturar. Quando vai acabar, não é reestruturação. É o fim mesmo, sinceramente não entendo. É um grande vazio que fica, pois a UCDB sempre foi referência. O mais importante foi o trabalho ininterrupto desde 1998. É muito triste. Como esportista, fui atleta da UCDB, fiz educação física lá com bolsa, e fui rival também, como técnico, mas não tem como aceitar isso, gostando de esporte. Meu sentimento é de tristeza e espero que essa decisão seja bem esclarecida pra opinião pública”, lamentou.

O outro lado – O Esporte Ágil entrou em contato com a UCDB por meio de sua assessoria, mas até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.

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