Bate-Bola | Rosália Silva | 27/08/2004 15h04

Para Miguel de Castro faltam clubes de basquete em MS

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Para Miguel de Castro faltam clubes de basquete em MS

O professor de Educação Física Miguel Vicente de Castro, 42 anos, conquistou durante quase trinta anos de basquete respeito dentro e fora das quadras. Campo-grandense por nascimento, depois de se destacar em jogos escolares em Mato Grosso do Sul, ele foi chamado para defender as cores do Franca Basquete e logo depois fez carreira em times cariocas: Tijuca Tênis Clube, Clube Municipal, América Futebol Clube e Vasco da Gama. E passou, também, pelo time da AABB Brasília. Hoje, além de lecionar na faculdade da Funlec, ele é o coordenador de esportes da Funlec, onde comanda o time de basquete da escola, e é funcionário da Funcesp. Militante esportivo, ajudou a fundar em 2001 a ABV-MS (Associação de Basquete Veterano de MS), entidade que preside e deseja ver caminhando em parceria com a Federação de Basquete de MS. E sobre as críticas que são dirigidas à Federação, Miguel é categórico ao dizer que "não devemos crucificar quem está hoje, o problema vem de muito tempo", apontando que um dos grandes problemas dentro do Estado é a falta de clubes, sem ter para quem realizar eventos a Federação fica amarrada. "Mas com certeza temos que planejar e termos ações que venham a mudar esta situação", afirmou. Apesar de todas as vitórias que teve na vida, Miguel ainda tem um sonho que espera que se concretize no Estado: o de ver um calendário organizado para o basquete, para que as equipes possam se preparar para a competição. Sobre a Seleção Brasileira masculina de basquete não ter ido a Atenas, Miguel afirma que é em função do momento de reformulação por qual a equipe passa. A exemplo do vôlei, conta o professor, o basquete também está no caminho certo, procurando todos os recursos e conhecimento científico para conquistar destaque, "basquete é um jogo de probabilidades temos que estudar", afirma. E completa: "a abertura na NBA para os 4 ou 5 brasileiros vai ajudar muito nesta nova fase".

Esporte Ágil - Desde quando você começou a se interessar pelo esporte?
Miguel de Castro - Comecei a jogar no ano de 1975, com 12 anos.

Esporte Ágil - Você já competia nesta época?
Miguel de Castro - Como gostava muito e ia assistir aos jogos ali na UCE, comecei a praticar basquete com o professor Ari Bittar e começamos a jogarem festivais de escolinhas, mini-basquete, e nos campeonatos escolares e o meu caminho começou aí. Fui para Franca (SP).

Esporte Ágil - Tem alguém na sua família que pratica esporte?
Miguel de Castro - Não, meu pai foi atleta profissional de futebol, campeão baiano, jogou no Corinthians, há muitos anos, hoje ele está com 77 anos. Isso vem dele, da gente militar no meio do esporte, gostar de estar na parte esportiva.

Esporte Ágil - E quais foram seus principais títulos?
Miguel de Castro - Em 1978, pela Comissão de Esporte aqui de Campo Grande, até hoje eu tenho este troféuzinho, ganhei o melhor atleta do ano, quando tinha 15 para 16 anos. No Estado fomos vice-campeões nos Jogos Escolares, o único que participei aqui. Depois fui campeão carioca juvenil e adulto, campeão brasileiro juvenil em 1981, vice-campeão brasileiro em 1982 e depois umas oito vezes vice-campeão brasileiro de seleções, pela Seleção Carioca, perdendo sempre para a Seleção Paulista. Também tive oito participações na Taça Brasil, hoje Liga Nacional de Basquete, que é o campeonato entre clubes. Até um tempo atrás existia campeonato entre clubes e entre seleções. Está voltando isso. Na minha época eu jogava o Campeonato Brasileiro de Seleções, Estado contra Estado no adulto. E depois o Campeonato Brasileiro de Clubes, que hoje em dia é o único que está acontecendo. De seleções não tem mais, somente nas categorias de base, até juvenil. Mato Grosso do Sul, chegou para mim a convocação de alguns alunos da Funlec, vai disputar em Porto Velho (RO) o Campeonato Brasileiro de Seleções Juvenil. É regionalizado, MS vai jogar disputando uma vaga para o campeonato especial, onde participam os oito melhores estados do Brasil. O último Campeonato de Seleções Adulto foi o que eu joguei, se não me falha a memória, em 1988, em Minas Gerais. De lá para cá, a CBB (Confederação Brasileira de Basquetebol) acabou com o Campeonato Brasileiro Adulto de Seleções, talvez, por causa do custo, agora só tem o Campeonato de Clubes. Mais recentemente, fui Campeão Brasileiro Máster, em Curitiba no ano de 2000, na categoria 35 anos defendendo o Rio de Janeiro. Do Brasileiro, fui convidado no ano passado para participar do Mundial de 40 anos. E em setembro do ano passado fomos campeões do mundo na categoria 35, 40 e 50 anos. Campeonato realizado na cidade de Orlando (EUA). E esse ano o Brasileiro será em São Luis, de 13 a 20 de novembro. E se convoca a seleção que vai disputar o Mundial na Nova Zelândia. A participação de MS no Brasileiro também é importante para que a gente mostre os nossos atletas para que possam ser convocados para 2005 na Nova Zelândia. É bom ressaltar, que no Brasileiro ou no Mundial, são os próprios atletas veteranos que correm atrás do patrocínio. Por isso o movimento veterano é forte, porque se não tem patrocínio, vamos por nossa conta. Quando eu fui para o Mundial de Orlando contei com apoio apenas da Funlec. E no ano passado, no Brasileiro de Máster, foi realizado o primeiro campeonato brasileiro de lances livres máster, onde fui o representante de MS e convertendo, na fase final, todos os dez lances livres desta fase empatando com um atleta de Santa Catarina ficando com a segunda colocação, pois em caso de empate o mais "experiente" vence e ele tinha 50 anos de experiência.

Esporte Ágil - Você também fez Educação Física.
Miguel de Castro - Fiz Educação Física e Pós-Graduação na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Olha como são importantes os jogos campo-grandenses. Nos Jogos Escolares lá na UCE, quando jogava pela Mace e fomos campeões, na prorrogação do jogo existia um olheiro de Franca que me convidou para ir para São Paulo. Fiquei um ano e meio em Franca e fui chamado para jogar no Rio de Janeiro. Como eu estava em idade escolar, fiz faculdade enquanto jogava. Tudo custeado pelos clubes, eu jogava pelo Tijuca e depois Vasco da Gama, e fiz minha faculdade lá.

Esporte Ágil - E qual a importância do esporte caminhar junto com os estudos?
Miguel de Castro - Hoje eu sou técnico e coordenador da Funlec, e sempre falo que tive a sorte de ter professores como foi o Ari Bittar, Ari Vidal e o Zé Pereira já falecido, que são pessoas que me ensinaram basquete para a vida e não para vencer jogos. Já a importância do esporte na educação é fundamental se bem conduzida. Hoje eu tenho quatro meninos jogando no interior de São Paulo. E ensinar para a vida torna o aluno responsável, concentrado no que está fazendo. Mas é claro, isso depende muito de quem está conduzindo, porque caso contrário pode ter atleta só querendo vencer o jogo. Como temos exemplos de atletas que chegaram na Seleção Brasileira e hoje não tem o que fazer, porque não foram bem conduzidos e só pensavam em jogar basquete. Vai acabar uma hora, e se a gente tirar o Oscar que sobrevive disso, os outros não sobrevivem de basquete se ele não investir o que ele ganhou do esporte em outra atividade. Muitos não ensinam isso aos atletas, acham que vão viver do esporte a vida inteira. E não é verdade.

Esporte Ágil - E qual é a realidade do basquete aqui em nosso Estado?
Miguel de Castro - O basquetebol no Estado tem uma representatividade de maneira escolar. E dentro das nossas possibilidades está bem representado. Agora, se falarmos em federação, é complicado porque não temos clubes, não só no basquete mas em todas as modalidades. E o que acontece, a escola faz o papel do clube. Enquanto não tivermos algumas instituições que apóiem realmente o esporte, seja ele qual for, para consolidar a federação, nós vamos ficar capengando, como acho que estamos. Falando do basquete, que é a minha área de atuação, eu costumo dizer que a Federação de Basquete de MS não deveria ter nascido, porque a federação é uma representação da vontade dos clubes, para organizar eventos. Se não temos os clubes, vamos ter uma instituição que expressa a vontade de quem? A federação deve ser resultado dos clubes que juntos definem que precisam de um órgão para administra-los. Se não temos estas pessoas, então são apaixonados por basquete que montaram a federação na maior boa vontade, só que não temos os clubes para administrar. Uma coisa puxa a outra: se não tem quem sustente aquela federação como é que ela vai reverter em trabalho. É um erro puxando o outro, e hoje como acontece na nossa Federação de Basquete, nós não estamos consolidados para trabalhar a federação, e aí ficamos sem eventos, por falta de verba, dependendo de verba de rede pública, de políticos. No ano de 2004 nós tivemos um evento no masculino e feminino e estamos chegando em setembro. Acho um pouco complicada a situação do esporte em geral no nosso Estado se a gente não investir realmente na parte interna e valorizar os clubes para que eles realmente tenham força. Hoje a realidade do basquete são os Jogos Escolares de MS e o Jogos Abertos de Campo Grande, que são os únicos que têm uma freqüência.

Esporte Ágil - Isso também é reflexo do que está acontecendo em nível nacional, já que hoje não temos representante no basquete masculino na Olimpíada de Atenas?
Miguel de Castro - Eu acredito que não, porque é uma forma muito diferente, nós trabalhamos com escolas. As equipes aqui são mantidas pelas escolas e fica caro, inviável. Enquanto nos outros lugares são clubes e nós vamos competir fora contra clubes. Quem mantém o esporte é o Colégio Dom Bosco, é a Funlec, Mace, em basquete é só isso. E alguns outros esportes que aparecem algum ou outro, como o Rádio Clube da Natação e no futebol de salão alguns clubes particulares, fora disso são apenas as escolas. E quem mantém as escolas são as mensalidades. Para investir isso tudo no esporte precisaria ter empresas patrocinando.

Esporte Ágil - E a Associação do Basquete Veterano?
Miguel de Castro - A Associação é para consolidar esse trabalho de basquete, que a Federação e a Associação devem trabalhar em sintonia, porque se Deus quiser todos vão chegar ao veterano. Nós temos hoje veteranos com 68 anos de idade praticando esporte. E isso é bom não só para a saúde e não só por jogar basquete.

Esporte Ágil - E o que a Associação de Veteranos tem programado para realizar?
Miguel de Castro - A Associação nasceu da mesma forma que a federação. Era um grupo de veteranos que estavam batendo bola e acharam necessário se organizar. Também foi fundada por uma vontade, posso dizer, minha junto com um grupo de pessoas. Porque eu participava do movimento de veteranos no Rio de Janeiro, como joguei dez anos no Rio, quando eu fui participar do Campeonato Brasileiro em Natal (RS), depois em Santos (SP) e em Curitiba (PR), me falavam que para fortalecer o esporte veterano no Estado eu deveria criar aqui a associação. Reunimos um grupo de meia dúzia, fizemos uma reunião, fundamos a associação sem ter associado. Demos sorte, hoje nós temos 42 associados. Então, são eles que mantém essa associação, porque contribuem anualmente e se não contribuírem, fecha. E como estava falando da Federação de Basquete, ela existe mas qual é a receita dela? Aí querem que faça eventos. Já a Associação de Veteranos tem receita. E o que programamos: torneios internos só para veteranos e fazemos amistosos, tivemos por exemplo, contra o Paraná. Nós fundamos a associação em 2001 e participamos do Campeonato Brasileiro em Curitiba, em Fortaleza e em 2003 em Vitória, perdemos de três pontos na disputa final da categoria 40 anos. E, esse ano, vamos a São Luis. Vale ressaltar que essa participação nossa só se deve ao fato de ter a associação filiada à nacional. E tem que deixar claro que a associação não tem gasto nenhum com campeonato, porque isso é uma vontade do associado, nós é que financiamos a nossa ida até lá, por isso a associação sobrevive. Se acontecesse isso com o basquete, e o clube tivesse que ir por conta própria, ele não iria. Nós não, vamos levar um time de 40 anos a São Luis, em que cada associado está pagando a sua despesa. A única despesa que a Associação de Veterano tem com o Brasileiro é que tem que pagar uma anuidade de dois salários mínimos, se não me engano. Então, ela paga para ser filiada à >nacional e poder disputar o campeonato.

Esporte Ágil - E os projetos futuros?
Miguel de Castro - Na associação nós temos projeto de atendimento à comunidade. Conforme formos ganhando experiência, queremos atender os bairros. A gente pode fazer oficinas de basquete, estreitar o relacionamento com a federação e promover torneios em que a federação é a promotora e nós ajudamos a realizar. A finalidade do veterano também é fomentar o basquete, porque eles vão um dia ser veteranos. Mas isso compete à federação e por isso queremos ser parceiros dela, na realização dos eventos no infantil, mirim, juvenil. Não tomar o lugar da federação, de forma alguma, mas ajuda-los de alguma forma a manter os campeonatos.

Esporte Ágil - Tem algum projeto da associação para fomentar o basquete entre veteranos no interior do Estado?
Miguel de Castro - Nós temos ainda um grupo pequeno. Mas muito trabalhador, temos contato com Dourados, com Três Lagoas. Se você tem poucos praticantes de basquete no Estado, como a gente tem hoje, vamos ter poucos veteranos. Isso realmente é um trabalho da federação, por isso é importante ter o trabalho de base, temos que massificar as escolinhas, times mirim, infantil. Hoje não existe campeonato nessa categoria. Se Campo Grande tem poucos veteranos, no interior com certeza temos menos ainda. O que temos hoje é o Torneio de Campo Grande da Associação que convidamos todos do Estado a virem competirem aqui. Os veteranos que estão no interior vêm sem montar equipe, aqui nós dividimos a equipe. São todos da Associação, só mudamos as cores dos uniformes, não fomentamos a competição entre a gente, e sim competimos para gente. E o vencedor será a Associação de Basquete Veteranos de MS da cor vermelha, azul. A gente agrega mais do que ter um contra o outro.

Esporte Ágil - A Associação é aberta às mulheres? >
Miguel de Castro - A Associação não é fechada, nós temos o Campeonato Brasileiro e Mundial, que o Brasil levou a equipe feminina. Mas da mesma forma que dissemos que o interior tem pouco, MS tem >poucos veteranos, com certeza no feminino teremos menos veteranas. Seguindo as regras da Associação elas podem se filiar. Hoje a Suzete assumiu a diretoria feminina, e está buscando associadas para que se monte a equipe feminina para ir para o nacional. Até Fortaleza (CE), nós tínhamos a categoria veterana acima de 25 anos. Agora em Vitória (ES), tivemos duas categorias: acima de 30 e de 45 anos, então já aumentou o número. No masculino nós temos, de 35 a 39 anos, 40 a 44, 45 a 49, 50 a 54, 55 a 59, 60 a 64, 65 a 69 e 70 a 74. Até 74 anos tem três equipes. E você vê os bicampeões do mundo jogando basquete ainda. Aqui em MS não temos nenhuma associada, tem um grupo que treina no Sesc Camilo Boni, mas por ser um número pequeno, ainda não se associaram, porque elas teriam que ter no mínimo dez atletas para que a Associação locasse uma quadra para que elas pudessem treinar.

Esporte Ágil - E na Funlec, quais são os projetos e as prioridades. É o basquete?
Miguel de Castro - Não, dentro da Fundação eu tomo conta da parte esportiva. E lá nós temos a filosofia de realmente educar através do esporte, por isso temos várias modalidades. E o projeto principal nosso na fundação, até mesmo identificando essa dificuldade de bancar o esporte de rendimento, é realmente voltado para a educação através do esporte. Privilegiamos todas as escolinhas esportivas até chegar na equipe. Como aqui não temos quem faz um trabalho com a equipe, que seriam os clubes para ir até a federação, nós estamos realizando esse trabalho. A nossa finalidade como uma fundação de educação é dar iniciação, a oportunidade dele aprender. Para ele se aperfeiçoar, sem ter esse objetivo, nós estamos mandando alunos para fora do Estado. No caso específico do basquete, temos o Clube de Franca que quatro atletas estão lá. Nesta semana está indo mais um, porque no clube ele pode se aperfeiçoar. O trabalho hoje da Funlec é educar através do esporte, dar oportunidade de vivenciar e aprender aquele esporte. Nós temos um projeto para o ano que vem, que seria parceira com clubes. A idéia nossa é fazer convênios em que os nossos atletas possam treinar nos clubes, tirar de dentro da fundação aquelas equipes maiores: futsal, basquete, handebol e vôlei. Numa parceria que nós vamos continuar pagando o nosso pessoal e eles vão dar o material e o local, dividir as despesas. Essa é a nossa esperança para melhorar o esporte de rendimento. Nós, trabalhando através da iniciação esportiva, temos atletas de judô com índice para ser convocado para Seleção Brasileira. Se a gente tiver a parceria dos clubes, para ter mais patrocínio, esse atleta pode chegar muito mais longe. Trabalhar forte, para termos um trabalho de iniciação onde se consiga ter praticantes de todas as modalidades a partir de 7 a 12 anos de idade, em todas as categorias inferiores, e se a gente não tiver trabalho de base a gente não vai ter equipe adulta.

Lembrete: A Associação de Veteranos de MS tem treinos todas às quartas-feiras, das 19 às 21 horas, e aos sábados, das 16 às 18 horas. Todos no Sesc Camillo Boni, da Avenida Afonso Pena.

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