Bate-Bola | Rosália Silva | 01/11/2004 16h17

Hoover Orsi é o único representante de MS na Stock Car

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Hoover Orsi corre neste fim de semana no autódromo de CG

"Esporte para mim tem que ter motor", é assim que o único representante de Mato Grosso do Sul na Stock Car V-8, o piloto Hoover Orsi, define sua paixão pelo automobilismo. Desde as suas primeiras voltas no Kartódromo Ayrton Senna em Campo Grande, quando tinha dez anos, ele não deixou mais a vida sobre a velocidade das quatro rodas. Ganhou títulos, viveu na Europa e Estados Unidos, e agora está na principal categoria de turismo do Brasil. Neste ano, Hoover e a equipe dele, a Avallone Motorsport, estrearam na Stock Car. Ele diz que tem aprendido muito toda vez que tem que mexer para melhorar o carro e a partir de agora espera conquistar vôos mais altos, como a briga pelo título e quem sabe disputar a prova da DTM alemã nos próximos anos. Aos 26 anos de idade, atualmente ele ocupa a 28ª colocação geral da Stock Car, com 9 pontos. Nesta temporada ele disputou dez provas, conclui cinco delas e no restante não conseguiu chegar ao fim por problemas mecânicos. Mas Hoover lembra que antes de ter que parar, o carro sempre estava muito bem colocado. O que mostra o potencial dele e da equipe Avallone para 2005. A última prova do piloto campo-grandense será em São Paulo, nos dias 26, 27 e 28 de novembro. Na semana passada, quando visitou a imprensa esportiva da Capital para divulgar a penúltima etapa do Campeonato Brasileiro de Stock Car V-8, que acontece entre os dias 5, 6 e 7 de novembro no Autódromo Internacional de Campo Grande, Hoover concedeu a seguinte entrevista a Esporte Ágil:

Esporte Ágil - Quando você começou no automobilismo?
Hoover Orsi - Comecei quando construíram o Kartódromo aqui em Campo Grande, em 91, treinando com meu pai e meus primos. Acabei fazendo algumas corridas e logo vi de cara que era o que eu queria fazer. Fui para São Paulo e comecei a correr no Campeonato Paulista de Kart e fui campeão brasileiro de kart em 93. Em 95, fui para a Fórmula Ford e fiquei como vice-campeão brasileiro neste ano. No outro ano tive a oportunidade de correr fora do Brasil, na Europa, no Campeonato Inglês de Fórmula Renault, em 96 e 97, quando fiquei em quarto no geral do campeonato. Em 98 fui para a Fórmula Renault Européia, corri quase todos os circuitos da Fórmula 1 na Europa e fiquei também em quarto. Em 99, voltei para o Brasil para correr na Fórmula Sul-Americana, fui campeão. Em 2000, tive a oportunidade de correr fora novamente, fui para os Estados Unidos, na Toyota-Atlantic e fiquei em sexto no geral. Em 2001, permaneci na mesma equipe e venci o campeonato. Daí em 2002 e 2003, quando eu pensei que tinha dado tudo certo, fui o campeão da categoria que tinha de ser, da Atlantic, para subir para a Fórmula Mundial, acabou dando tudo errado. Fui campeão e fiquei dois anos parado. Foi uma pena, porque na hora de subir para a categoria principal, a categoria entrou numa crise muito grande, perdeu quase todos os seus patrocínios, montadoras de motor, bombas, Toyota, saíram da categoria. Então, ficou praticamente inviável para eu correr lá, tinha que levar muito dinheiro, pagar para correr. Para mim não funciona assim. Fiquei parado este tempo e agora tive a oportunidade de voltar na Stock Car, que é diferente de tudo o que eu fiz. Eu sempre corri em fórmula e Stock é turismo. O carro, eu tive que adaptar o estilo de pilotagem, que é completamente diferente. Mas eu estou bem satisfeito na categoria, porque tem um nível muito bom de piloto. Para mim, este é um dos campeonatos mais fortes do mundo, tem muito piloto bom. A maioria dos melhores pilotos brasileiros está correndo na Stock e é legal esta mistura dos pilotos mais experientes como o Ingo Hoffmann, Chico Serra, Raul Boesel, os três que passaram pela Fórmula 1. E os pilotos novos, que estão tentando extinguir com os "dinossauros", que são o Cacá Bueno, Giuliano Losacco e tantos outros. Estou bem satisfeito e quero continuar nos próximos anos, quem sabe dois a três anos na categoria. Quero ter mais sucesso, chegar mais à final, disputar quem sabe o título, acho que vai ser difícil ainda no ano que vem, já que as outras equipes estão mais estruturadas que a nossa.

Esporte Ágil - Você acredita que a experiência desta temporada de 2004 possa te ajudar no próximo ano?
Hoover Orsi - Vai, com certeza a gente vai estar num nível melhor. O nosso problema é que não tem treino, termina a corrida aqui e eu vou andar só na sexta-feira da próxima corrida. Isso já em treino oficial que é de 45 minutos. E todas as equipes já correram aqui no ano passado, correram no Rio de Janeiro umas dez vezes, porque é uma categoria que existe há vários anos. Eles já chegam praticamente com o acerto ideal, é só mexer um negócio aqui e outro ali que está pronto. A gente não: chega e tem que fazer o acerto inteiro do carro, porque o carro chega e nem está perto do ideal. Mas estamos aprendendo bastante por mexer muito no carro, estamos evoluindo sempre. Começamos os treinos numa posição não muito boa, mas no sábado para a tomada do tempo o carro já está bem melhor. Então, no ano que vem, vamos chegar num nível melhor para as etapas. Estou confiante e também acho que dá para fazer um bom trabalho nas duas últimas etapas deste ano.

Esporte Ágil - E como foi essa experiência de correr fora do País?
Hoover Orsi - Foi muito legal, tive a chance de correr na Inglaterra com 17 anos, fui morar sozinho lá. E aprendi muito, corri dois anos no Campeonato Inglês e no Campeonato Europeu. Aprendi tanto no automobilismo, quando na experiência de vida. Vinte e seis anos, morei sete anos fora, então a minha vida eu não troco por nada. Estar envolvido neste esporte só me trouxe felicidade.

Esporte Ágil - E qual é a categoria que você quer chegar, o seu sonho é um dia ser piloto de qual categoria?
Hoover Orsi - Sempre o meu sonho de quando corria lá fora era chegar na Fórmula 1 ou na Fórmula Mundial, quando fui para os Estados Unidos. Mas como isso acabou não dando certo e agora eu estou em outra fase da minha carreira, não é mais isso que eu tenho que sonhar. Uma categoria que me agrada muito é a DTM, que ó campeonato de turismo da Alemanha, reunindo todas as montadoras daquele País, como a Audi e Mercedes. É uma categoria que eu gostaria muito de andar, já que é a mais forte de turismo do mundo, praticamente uma Fórmula 1. Não agora, estou satisfeito aqui, mas quem sabe voltar a correr fora nesta categoria, daqui uns dois anos, não seria nada mal.

Esporte Ágil - Quando você começou no automobilismo, você se inspirou em alguém?
Hoover Orsi - Lógico que quando eu comecei, desde criança eu assistia às corridas de Fórmula 1 do Senna e Nelson Piquet, mas não. Sempre guiei mais pelo prazer, eu tive sorte de encontrar o que eu queria fazer com dez anos de idade e até hoje eu tenho muito prazer em fazer isso. Quero continuar correndo até não conseguir mais e sempre estar relacionado ao meio esportivo, quem sabe no futuro ter uma equipe na Stock Car. Com certeza se eu for correr fora do Brasil, quero voltar e correr na Stock Car para encerrar a minha carreira aqui.

Esporte Ágil - E qual é a expectativa de correr em sua cidade?
Hoover Orsi - Vai ser bem interessante, porque depois que comecei a correr de kart aqui, não voltei mais. Não tinha o autódromo e depois fui para a fórmula muito cedo. E agora vou ter esta oportunidade. Estou ansioso, quero que chegue logo a corrida para eu voltar a guiar porque já faz três semanas que eu não guio. E, também, para correr em casa, com minha família e meus amigos me acompanhando. Espero que a torcida compareça em peso, quem gosta de automobilismo tem que ir lá assistir à prova. O nível está muito bom, são 36 carros no grid. É a chance do público ver os melhores pilotos disputando.

Esporte Ágil - Tem alguém na sua família que corre?
Hoover Orsi - Meu pai corria quando era adolescente, com 18 anos, mas parou. Eu comecei a correr pelo meu pai. Quando construíram o kartódromo aqui, ele comprou o kart para se divertir e eu acabei roubando o carro dele. Meu pai e meu tio correm na autocross, a Fórmula Tubular, aqui em Campo Grande. E o Karlo de Castro, que ganhou a última etapa do Copa Taurus aqui na cidade também é meu parente.

Esporte Ágil - E nesse meio tempo entre as corridas, você disse que está parado há três semanas desde a última etapa sem correr, o que você faz neste período.
Hoover Orsi - A última etapa aconteceu faz dois finais de semana e eu aproveitei este tempo para correr atrás de patrocínio, tentando apoio aqui de Campo Grande. Sempre no tempo livre eu tento me preparar para a corrida, fisicamente e, também, na parte burocrática, atrás de patrocínio, aparecendo na imprensa ou fazendo alguma coisa ligada a algum esporte.

Esporte Ágil - E qual dica você daria para quem quer começar?
Hoover Orsi - É difícil, é um esporte complicado porque precisa de muito dinheiro, precisa ter patrocinador forte. Desde o kart já é uma luta para conseguir dinheiro para correr no próximo ano. Faltam duas etapas e ainda não sei se vou correr em 2005. Está próximo, bem próximo. Só que a angustia de saber se vai ou não vai dar é complicada. Mas é possível se você tiver talento, tiver apoio, ou da família ou de algum patrocinador que te ajude no começo. Este é um esporte que apaixona todo mundo que está envolvido, mas é difícil. Muitos usam este esporte para fazer negócio, porque é um esporte que lida com tecnologia e com o talento humano. Tem muita empresa que patrocina para ter estande na pista e fazer negócio. Eu não troco o automobilismo por nada. Mas é complicado para uma pessoa começar do nada, sem ter dinheiro ou patrocínio. Este é um esporte muito caro, se você vai correr de kart vai gastar no começo da carreira pelo menos uns R$ 2 a 3 mil por mês, o que é um dinheiro considerável.

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