Bate-Bola | Rosália Silva | 05/09/2004 22h01

Firmo Herinque fala sobre a Femems e Onged

Compartilhe:

Firmo Herinque fala sobre a Femems e Onged

O presidente da Femems (Federação de Motociclismo de Mato Grosso do Sul) e da Onged (Organização Não Governamental das Entidades Desportivas de Mato Grosso do Sul), Firmo Henrique Alves, está colocando o Estado na rota dos grandes eventos brasileiro de velocidade sobre motos. Aos 38 anos, ele dedicou boa parte de sua vida ao esporte. Mesmo sem o apoio dos pais praticou várias modalidades até conseguir chegar ao motociclismo. Natural de campo grande, aos 18 anos começou a competir no Estadual de Motociclismo, conquistando os títulos de campeão e vice. Depois começou a organizar eventos e foi chamado para compor a diretoria da Femems. Envolvido no fechamento das etapas deste ano, Firmo encontrou um tempo para fazer uma visita ao Esporte Ágil, quando contou um pouco de sua trajetória no Bate-Bola desta semana. O encerramento das competições do motociclismo está previsto para o dia 27 de novembro. Em 2005 as motos voltam ao circuito depois do mês de março e realmente esquentando os motores a partir do meio do ano. Confira a entrevista.

Esporte Ágil - A maior parte dos eventos do motociclismo acontecem no interior do Estado...
Firmo Henrique - A minha visão de federação é uma jurisdição estadual. E fora a Federação de Hipismo, que se não me engano fica em Dourados, todos os outros presidentes de federação vivem em Campo Grande. Acho que um pouco é por acomodação, outro é por contato, já que aqui acaba-se tendo mais contatos. Mas como presidente de federação, acredito que tenhamos que nos esforçar, sair da nossa casa, ir para um hotel e fazer evento fora, em todo ou quase todo o Estado. Hoje a Federação de Motociclismo está fazendo uns 43 eventos em 40 municípios, repetindo alguns. Ainda não estamos abrangendo todos os 77 municípios, mas chegou a todas as regiões do Estado, centro, norte, sul, leste, oeste. Corumbá, Sonora, Chapadão do Sul, Costa Rica, Mundo Novo, Naviraí, Nova Andradina, Dourados, Campo Grande, Aral Moreira, Ponta Porã. Essa é a minha visão.

Esporte Ágil - E quantos atletas federados tem no Estado hoje?
Firmo Henrique - Em torno de 350. E além da Federação de Motociclismo, eu sou presidente de uma entidade que é pouco conhecida fora do meio esportivo, que é a Onged-MS (Organização Não-Governamental das Entidades Desportivas de Mato Grosso do Sul), representando o tênis, o basquete, o futsal, society, xadrez, são quase quarenta federações.

Esporte Ágil - E por que foi criada esta Ong?
Firmo Henrique - Foi criada pela necessidade das federações de ter uma unidade quando forem falar com o secretário, o prefeito. E até para quando forem reivindicar alguma, tanto no governo quanto na iniciativa privada, e que seja de interesse do esporte. Eu assumi há dois meses a Onged, mas já fui vice-presidente da entidade.

Esporte Ágil - E quando foi criada a entidade?
Firmo Henrique - Não posso te dizer com precisão, mas ela deve ter uns cinco a seis anos. Hoje ela administra o Jovem Talento, que são todos os atletas patrocinados pelo FIE. Eles recebem uma quantia por mês e a Onged administra isso fazendo o repasse. Então, o governo entende que por ser uma entidade de todos, que tem uma unidade, e por isso não tem concorrente.

Esporte Ágil - E depois da criação da Onged tem melhorado a organização e a relação entre as federações?
Firmo Henrique - Melhorou, inclusive, esta organização nasceu de um grupo de presidentes. Com ela nós reivindicamos e conseguimos a criação da Lei de Incentivo ao Esporte, que hoje é o FIE. E neste mês vamos começar a discussão com as federações um novo rankeamento para 2005. E aproveitamos para fazer um convite para as federações que ainda não estão de fato associadas à Onged, para que nos procurem. A Onged é composta pelas pessoas que fazem o esporte aqui no Estado. As federações, às vezes, são mal vistas pela imprensa, a gente vê o que está acontecendo nos clubes de futebol em São Paulo e Rio: um rombo financeiro, vamos dizer assim. A gente fala dos cartolas que tiram o dinheiro que deveriam ser pago ao INSS, PIS, Cofins. Aqui no Estado, nenhuma das federações tem problema nesse sentindo, todas elas estão trabalhando, são pessoas lutadoras para que o esporte aconteça. Haja visto que aqui em Mato Grosso do Sul tem pouca indústria, então depende-se muito da iniciativa pública e não da privada. Isso é muito ruim. A gente deveria depender pouco do governo e das prefeituras, e muito das empresas, como é lá fora. O duro é que 90% do dinheiro que se destina ao esporte está no eixo Rio-São Paulo. E os outros 10% vai para Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas, e sobra uma "quirerazinha" para nós. Aqui em MS não tem nenhuma federação que tenha apoio forte de indústria.

Esporte Ágil - E qual é a realidade do motociclismo hoje no Estado?
Firmo Henrique - Quando a gente sonha e fala é uma coisa. Agora quando a gente expõe os números é diferente. Nós da diretoria assumimos em 1998, na época tinha três competições: enduro de regularidade, motocross e o speed way. Com um porém, o speed way acontecia no mesmo dia do motocross, na mesma pista, desviava-se dos morros, porque speed way não salta, com meia dúzia de pilotos, e eram os coitadinhos que a federação tinha que aturar. E fazia-se o speed way às 11 horas da manhã, no horário do almoço, dava um cala-boca para eles. Eu desvinculei o speed way do motocross, as primeiras corridas eram verdadeiras piadas. Tinha categoria com três motos. E hoje estamos com 85, 89, 90 pilotos por etapa competindo nas cinco categorias, com um público de dez mil pessoas, uma pista estruturada e arquibancada com som para as dez mil pessoas. Tinha que se plantar. Esta semana eu estava fechando o calendário de 2004, em que 11 etapas vão acontecer no Estado só do speed way, movimentando o quanto em evento, em dinheiro, em turismo! A Federação de Motociclismo, com toda a modéstia, movimenta o turismo esportivo, que é uma coisa que pouca gente vê. Ele é caro, mas tem um grande público em volta da pista. Então, o speed way com 11 etapas em 11 cidades, o motocross com 8 etapas em 8 cidades, o cross country ainda está indefinido já que começou este ano e terá de 8 a 11 etapas movimentando aí 70 a 80 pilotos. O motocross é a que tem menos, devido às motos serem todas importadas, tem cerca de 55, e em Sonora chegou a 75 pilotos. A gente conseguiu provar que o motociclismo não é um esporte de elite, criando artimanhas para que o piloto que tinha vocação para ser piloto comprasse uma motocicleta barata e hoje nós temos moto-taxista piloto, mecânico, pedreiro, pintor, e temos juízes, promotor, advogado, prefeito, vereador, médico, todo mundo numa família sem distinção. Se você pegar de 1998 até há 30 anos atrás, quando o motociclismo começou no Estado, só teve duas etapas de campeonatos brasileiros em MS. Uma em 81 e outra em 95. E agora, com a realização do Motovelocidade em Campo Grande no dia 22 de agosto, fizemos nos últimos quatro anos, doze etapas de brasileiros. Hoje MS se equivale em realizações de campeonatos brasileiros a São Paulo, Rio e Paraná. Para se ter uma idéia, das 27 federações que existem no Brasil inteiro, só seis tem mais que duas modalidades. MS tem o cross coutry, o enduro, speed way e motocross. Já vamos ter esse ano uma etapa de arrancada e isso é um passo para criar em 2005 a arrancada como campeonato estadual. E no motovelocidade vamos ter o estadual, mas ainda estamos conversando com o motoclube. Comparando com as outras federações é a federação que mais realiza eventos. É a número Um em público. E estamos todos os fins de semana, até o fim do ano com eventos marcados, muitos deles com mais de um ao mesmo tempo, em cidades diferentes.

Esporte Ágil - Você ainda compete no motociclismo? Ou mesmo pratica?
Firmo Henrique - Não, é uma ironia do destino. Não dá tempo, como tenho que estar de segunda a sexta no escritório, sábado ou domingo em alguma cidade. Por incrível que pareça tem prova que é tranqüila, mas em caso de algum incêndio é o presidente estando lá que apaga. Por mais que as pessoas que tenho sejam treinadas, pessoas de muitos anos de trabalho, mas quando o "bicho pega" é preciso que eu esteja lá. E nosso evento, que é feito a céu aberto, num buraco, no mato, é preciso ter estrutura para dar conforto e segurança para um público em média de 10 mil pessoas. É diferente de um jogo de basquete, que tem uma quadra sempre "quadradinha", com as arquibancadas que você coloca a placa de patrocínio sempre na posição x, a caixa de som é sempre a mesma e a metragem da quadra é a mesma. Já no motociclismo tudo isto é sempre diferente.

Esporte Ágil - Como estão os nossos pilotos nas competições nacionais?
Firmo Henrique - Tivemos em Dourados uma etapa do Brasileiro de Motocross, que reuniu 35 mil pessoas, mas não temos pilotos que possam disputar o Campeonato Brasileiro. Não temos dinheiro para isso, porque quando se fala em Campeonato Brasileiro, fala-se não só em sonho, mas em muito dinheiro. Tem que ter uma carreta de R$ 200, R$ 300 mil, tem que ter um mecânico bom que ganhe aí seus R$ 5, R$ 10 mil e tem que ter umas duas, três motos zero, cada moto dessa custa em torno de R$ 50 mil. Ele tem que ter uma estrutura de R$ 1 milhão. E se ele não tem esse R$ 1 milhão, ele não chega lá e como não chega lá, ele não tem esse R$ 1 milhão. E, também, porque antes de 2000, MS era um "estadozinho". Hoje, sim, ele é visto como Estado pauteiro com mais de 40 realizações. Tudo se planta e quando se colhe é lá na frente.

Esporte Ágil - Mas daqui para frente pode ser que MS tenha pilotos de destaque no Brasil?
Firmo Henrique - Sim, pode ser que daqui saia um "Senna da vida". Pelo andar da carruagem, acredito que MS poderá tirar um piloto de ponta, porque a cada ano se inicia mais cedo na modalidade. Então, tem que ter mais pais colocando mais filhos nas competições, investindo financeiramente nessas crianças, fazendo que elas treinem mais para que cheguem lá. Temos a categoria de crianças, a de 80 cilindradas, que pode andar 50 cc, 60 cc e 80 cc. Isso não se tinha, não tinha exatamente o início, o piloto já começava a correr quando estava com 13, 14 anos. E quando começava a ser bom já tinha passado do tempo.

Esporte Ágil - E na categoria infantil qual é a idade do mais novo?
Firmo Henrique - Tem garoto lá de seis anos de idade. Ele nem sabe escrever direito mas na moto ele corre, cai, chora, levanta e vai. E o pai e a mãe estão lá em cima. É assim que se planta. E está crescendo cada vez mais o número de pilotos. O que tem de empecilho é a alta do dólar. Em 2000 tivemos uma média de 88 motos andando no motocross e hoje nós temos uma média de 60. Uma moto desta, sem equipamento nenhum custa U$ 7 mil, o que equivale a R$ 25 mil mais ou menos. Se quiser colocar suspensão, peça tal, essa moto pode chegar a R$ 60 mil. Então, ou esses pilotos pararam de correr ou migraram para outra modalidade. No speed way só pode andar de moto nacional, e mesmo que o piloto tenha dinheiro e patrocínio, ele só pode usar a moto nacional, que a melhor custa R$ 10 mil, metade de uma importada. E se ele quiser colocar mais alguns equipamentos ele gasta aí uns R$ 4 mil. Mas na mesma modalidade eu canso de ver piloto que pega R$ 500 a R$ 600 e compra uma moto velha e está andando.

Esporte Ágil - E quando você começou a se interessar por esporte?
Firmo Henrique - Eu era um apaixonado. E desde menino, sem que meu pai gostasse, pratiquei karatê, natação, basquete, futebol de salão, futebol de campo, ginástica olímpica e gostava muito de andar de moto. Mas competir era um sonho muito distante. Meu pai não apoiava, como poderia ter uma moto e correr. Mas acabei ganhando uma ciclomotor aos dez anos, andava nas ruas já que naquela época as leis eram mais tolerantes, e fui realmente competir quando estava mais velho, com 18 anos. Fui campeão estadual, vice-estadual, porque gostava muito e tentava me aprimorar. Comecei a correr, mas como faltavam pessoas para organizar e o presidente da Femems me chamou para ser diretor da federação. Eu que fundei o enduro no Estado, ainda se chamava rali, depois que trocou de nome. Na primeira corrida que organizei tinha só quatro motocicletas, em 1987, há 17 anos. Depois foi crescendo. Em 1990 já eram 125 pilotos filiados, daí passei a ser vice-presidente. Mudou o presidente, que também me chamou para primeiro vice. Então, entrei na federação pela porta da frente, que é ser piloto, passar por tudo que passei: ser organizador de provas, fui presidente de motoclube, diretor de motoclube e da federação, vice por dois mandatos. Eu passei por todos esses estágios para ser presidente. Não digo que seja necessário, mas passando por tudo isso a gente acaba tendo uma visão do todo: do piloto, do motoclube, do promotor do evento e da federação.

Esporte Ágil - Em Dourados foi criada uma associação de motociclistas.
Firmo Henrique - Foi criada uma Associação de Pilotos do Motocross, mas não é só de Dourados, é do Estado inteiro. Já tive uma reunião com eles, para somar, fazer que o esporte cresça muito mais. Vai me ajudar bastante, porque ao invés de ter que conversar com 60 vou conversar somente com um e ele vai ser o responsável depois por conversar com os 60.

Esporte Ágil - A federação tem algum outro projeto ainda para este ano?
Firmo Henrique - Final de campeonato, o objetivo é que eles acabem bem. E quando começa a chegar nas últimas etapas você já começa a pensar em mudança de regulamento. Quando chegamos a 70% das etapas, começamos a conversar com os pilotos sobre o que foi bom, o que foi ruim. Disso se tira o ruim e mantém o bom, além de incluir o que faltou para ser melhor ainda. Começa aí a ser moldado o regulamento do próximo ano. Eu acredito que o ano de 2005 vai ser melhor que esse ano. Campanha política é uma coisa que parece ser boa, mas atrapalha bastante. Concentram-se as corridas neste mês de setembro, isso é muito ruim. No próximo ano, por não ser eleitoral, talvez a gente perca em quantidade, mas ganha-se em qualidade.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS