Bate-Bola | Rosália Silva | 11/01/2005 16h21

Coronel Potengy fala sobre o esporte no Exército

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Bate-Bola com Coronel Potengy, 44 anos.

O entrevistado desta semana no site Esporte Ágil é o Coronel do 9º Batalhão de Suprimento de Campo Grande, Márcio Potengy de Mello, 44 anos. Formado pela Escola de Educação Física do Exército, em 1986, o Coronel Potengy é um esportista de carteirinha. Ele diz que toda corporação tem no esporte um grande aliado para se manter em forma para o serviço militar. "Não é uma obrigação", afirma explicando que ele procura estimular as atividades físicas, principalmente porque dentro do Exercito são realizados testes de quatro em quatro meses. "O militar fazendo atividades físicas durante 30 anos, não será ao fim da carreira que ele irá parar", defende.

Incentivado pelo pai, ainda garoto começou a praticar natação e depois conheceu os esportes coletivos: vôlei, basquete e futsal. Na família, o irmão mais velho sempre foi um grande incentivador do atleta Potengy, que chegou a jogar nas equipes de base do Fluminense (RJ). E como filhos de peixe, peixinhos são: as duas filhas mais velhas do Coronel também fizeram muitas cestas nas quadras de basquete e os mais novos seguem o mesmo caminho. "No mínimo, eles andam de bicicleta", brincou.

O Coronel Potengy preside também a Confraria do Calção Preto, que reúne os profissionais de Educação Física da Marinha, Exército e Aeronáutica de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Além de integrar a ABV-MS (Associação do Basquete Veterano de MS).

Desde o ano passado, ele vem dando mais visibilidade ao esporte dentro de seu batalhão. E o trabalho rendeu frutos, já que a equipe de vôlei ficou em segundo lugar nos Jogos Abertos de Campo Grande.

No dia 26 de janeiro, o Coronel se despede de Campo Grande, para ir para a Academia Militar Agulhas Negras, no Rio de Janeiro, onde também deve trabalhar a pratica esportiva.  Confira o Bate-Bola:

 

Esporte Ágil - Como é a prática do esporte dentro dos exércitos. O que é mais enfocado?
Coronel Potengy - Antes de falar do Exército, será melhor falar de um universo maior, que é o esporte dentro das Forças Armadas, em que temos uma Comissão de Esporte Militar no Brasil que é uma órgão que disciplina/normatiza a prática do desporto dentro das Forças Armadas, tanto os esportes coletivos, como os individuais. E nós temos dentro dos esportes individuais, os esportes tipicamente militares: o pentatlo militar, a orientação que hoje está mais ao alcance do público civil, tiro também tem seu correspondente, enfim, alguns esportes militares começaram a ter uma correspondência civil e passaram a ser chamados esportes de aventura. Bom, mas essa Comissão de Esporte Militar do Brasil determina o esporte nas Forças Armadas, normatiza de acordo com as convenções nacionais e dá enfoque para o meio militar com as adaptações que são pertinentes. Nós temos algumas distinções, que hoje já está mudando e está havendo uma maior integração, principalmente nos esportes coletivos, já que não havia no passado uma integração entre o soldado e o oficial. Hoje, temos soldados que jogam basquete em nível nacional. Temos judoca medalhista de ouro em Atlanta, me fugiu o nome dele, se não me engano é Thiago, ele era soldado. Trazendo o foco para a minha Instituição, que é o Exército Brasileiro, temos a Comissão de Desportos do Exército, situada no Rio de Janeiro, subordinada a Diretoria de Pesquisa e Estudos Pessoal, que é o órgão que organiza o esporte dentro do Exército. Promove as competições nacionais para selecionar atletas para possíveis competições internacionais, em que já tivemos de João do Pulo, passando por Pelé, que foram soldados selecionados e treinados dentro da Escola de Educação Física do Exército, até jogadores de vôlei que conseguiram difundir e projetar muitos atletas. Por exemplo, o Bernardinho do vôlei, com a facilidade que ele tem lá na escola de educação física, ele prefere fazer os treinos da equipe de vôlei masculina e feminina, porque é um local mais central, uma área nobre que não tem problemas de assaltos.

Esporte Ágil - E o esporte também complementa o serviço do militar, porque é uma atividade que exige muito do preparo físico?
Coronel Potengy - Sim, a prática do esporte, especialmente na força terrestre, é uma área muito enfocada justamente por isso. Tem um menor enfoque nas forças co-irmãs: Marinha e Aeronáutica, porque elas de certa forma têm uma atividade mais estática. O Exército, pela nossa própria missão e formação, é mais dinâmico. Nós temos que estar em condições de atuar em qualquer momento.

Esporte Ágil - Qual é o esporte que é mais praticado no Estado entre os militares do Exército?
Coronel Potengy - Vou dizer por mim, porque tenho a minha formação desde garoto, como qualquer criança comecei a jogar vôlei, basquete e futebol de salão no colégio. Desde os nove anos eu já era alto e os colegas me chamavam para jogar basquete e vôlei, mas eu jogava mesmo era futebol. Como morava próximo ao Fluminense Futebol Clube, no Rio de Janeiro, comecei a jogar também na escolinha do Fluminense. Naquela época a escolinha era mais adiantada e num determinado momento jogando no gol e numa determinada atividade me chamaram para um teste e comecei a jogar pela equipe. Joguei no Fluminense até uns 15 anos, no futebol de salão. Só que naquela época tive problemas como todo mundo tem. Fui disputar vaga no gol com o filho do técnico, nem preciso dizer que perdi a vaga. Fiquei muito chateado, e um colega meu me chamou, ele jogava basquete pelo Fluminense e disse que eu teria a vaga tranqüilamente no time devido a minha altura e, também, pela idade. Comecei a jogar, o treinador era Antonio Sobrinho, que era também treinador do profissional do Fluminense, na época era a equipe top de linha. E olhava para ele, eu era grande, mas me achava pequeno perto do Marquinho e o Paulo, de dois metros e pouco, era muito discrepante. E logo em seguida resolvi fazer concurso para a Escola Militar, um ano depois entrei e comecei a jogar basquete e futebol pela Escola Militar. E desde a minha formação vi que todos os esportes são privilegiados. No nosso Estado, ano passado, procurei dar um enfoque a todos os esportes, mas um foco maior nos esportes coletivos, como o futebol, basquete e vôlei, porque procuramos ser um pouco pragmático. Quais são os esportes que aqui a coletividade tem? Tem tudo, mas o que eu posso me dedicar e que as minhas atribuições me permitem dedicar, então optei pelos esportes coletivos. Basquete e vôlei foram os esportes que dei uma primeira carga, desde o início do ano passado. Incluímos também o handebol porque tínhamos um soldado que havia participado de jogos numa cidade do interior, eu sabia que ele era um atleta de ponta e liberamos ele para treinar fora sem problemas. Tínhamos também um fundista, porque temos uma atividade no fim de outubro, a corrida da Biela, que envolve quase todas as unidades de MS. Esta é uma corrida diferente: os atletas correm dez mil metros no revezamento de dez por um, correndo com uma biela, que é uma peça de automóvel e pesa de três a quatro quilos. Eles têm que correr com essa sobrecarga e é justamente uma corrida militar, porque o militar ao final da corrida tem que estar em condições de cumprir uma determinada missão. E mais recentemente, iniciamos no futsal e agora em janeiro vamos disputar a Copa Morena.

Esporte Ágil - E o hipismo?
Coronel Potengy - É uma prova mais tradicional, voltada aqui em Mato Grosso do Sul para aquelas unidades de cavalaria. Nós temos a nossa hípica, ligada ao Círculo Militar. Recebemos recentemente o futuro comandante da Brigada de Cuiabá (MT), o general que é competidor também, vai participar de todas as provas de hipismo aqui no Estado. Orientação, que é feita em diversas unidades, e aqui tem o Centro de Desportos de Aventura, o Codac, que é capitaneado pelo sargento Arilson do CMO. E o pentatlo, que também vamos ter uma competição em Brasília, que chamamos de jogos marciais, no mês de maio ou junho e o Comando Militar do Oeste vai participar. Esta competição envolve também o tiro e alguns esportes coletivos, como o basquete e o vôlei.

Esporte Ágil - O Exército também apóia a descoberta de talentos esportivos, já que abriga grande parte de jovens brasileiros?
Coronel Potengy - Desde a época de João do Pulo, que era sargento.

Esporte Ágil - A corporação também entende a questão do patrocínio?
Coronel Potengy - No passado não tínhamos a necessidade de recursos, até por uma história econômica que não é o caso falar. Hoje nós vivemos disso. O atleta que tem uma projeção precisa disso, porque tem que treinar. Quando estava em Brasília, tinha um corredor de rua que me pedia liberação para correr e ganhar uma televisão. Eu sabia da condição econômica dele e dispensava. Ele viajava e corria e na segunda-feira me contava que tinha ganho a tv e que iria vender para alimentar a família. São estes valores perdidos. Ele corria descalço. Imagina se desse treinamento para ele? E é aí que entra o valor dos profissionais de Educação Física. Eles estão de olheiros pelo Brasil, dentro da corporação e do cenário nacional, pois muitas vezes a gente sabe que tem um garoto da região, aqui por exemplo, no ano passado o Nélio e o Rafael, eu quis trazer para o quartel para jogar basquete. Porque não sei se eles vão ter uma projeção que teriam numa instituição forte como o Exército. Eles iam jogar comigo e eu iria indica-los para a Comissão de Desportos do Exército. Nós temos uma estrutura invejável lá na Urca (RJ) e podemos treinar de tudo.

Esporte Ágil - E o senhor também continua praticando esportes, especialmente o basquete?
Coronel Potengy - Sim e faço parte da ABV-MS (Associação Veterana de Basquete). Participei do Campeonato Brasileiro em São Luiz do Maranhão. Fomos muito bem recebidos pela Associação, integramos desde 2003 um grupo que é fantástico, capitaneados pelo professor Miguel. Estou sendo movimentado agora, mas não vou me desligar da ABV. Estou indo para a Academia Militar dos Agulhas Negras.

Esporte Ágil - O neste novo local, no Rio de Janeiro, o senhor vai continuar trabalhando com o esporte?
Coronel Potengy - Já me disseram que sim. Até pelo meu perfil, onde passei sempre fiquei ligado ao esporte, servi no Paraná, estive no Instituto Militar de Engenharia, assim que terminei o curso de Educação Física, onde fui professor. E nesta que é a casa da ciência militar do Brasil eu procurei colocar o enfoque na prática esportiva. Os alunos eram só estudo, mas o Ministério de Educação e Cultura prevê uma carga horária de prática de Educação Física, insisti e consegui formar equipes de natação, basquete, vôlei e futebol com os alunos do Instituto Militar de Engenharia, isso em 1987. De lá para cá não foi diferente, claro que vamos subindo nos postos de hierarquia dentro do Exército e sempre procurei incutir a mentalidade esportiva. A minha última unidade como capitão, na cidade de Palmeira (PR), conseguimos montar uma equipe de futebol e integrar junto à cidade, além do basquete e vôlei. De lá conheci dois valores que levei para a Comissão de Desportos do Exército, para integrar a Seleção do Exército, em 96. Depois parei por uns tempos, porque fiquei numa função que exigia muito do meu tempo e só conseguia praticar esportes aos sábados, mas depois que vim para Campo Grande voltei a atuar e na Academia Militar não será diferente.

Esporte Ágil - O Exército tem alguma atividade esportiva que envolve a sociedade campo-grandense?
Coronel Potengy - Quando eu cheguei, o nosso batalhão ficou responsável pela Corrida Caxias 200 Anos, a primeira edição. Organizamos o evento, que também é próximo ao aniversário da cidade. Conseguimos uma parceria muito boa com a Prefeitura. No ano passado não foi diferente, recebemos a missão novamente porque no ano anterior fomos nós que organizamos. E este ano, não tenho dúvidas, já está tudo preparado para que o nosso batalhão organize também a terceira Corrida Duque de Caxias. E como é o terceiro ano, se tornou tradicional e está tudo encaminhado, os recursos, desde o início do ano. E cada vez mais dando um upgrade, no ano passado iríamos fazer a corrida com o chip, mas como o custo era alto e o nível também não era tanto que exigisse colocar o chip nos corredores. Nosso processo tupiniquim, como chamamos, atende perfeitamente, tanto que não tivemos problemas. E no ano passado começamos com o Orientando-se no Parque, envolvendo-a modalidade de orientação.

Esporte Ágil - E como funciona a Confraria do Calção Preto?
Coronel Potengy - O Comando Militar tem as olimpíadas internas e tem a sessão de educação física dele, mas é insuficiente para todas as atividades esportivas. Então, ele lança mão, liga para mim para ver se eu poderia emprestar alguns militares. A nossa Confraria está aí para isso, os nossos profissionais são altamente qualificados para todas as modalidades esportivas, inclusive aquelas mais difíceis de arbitragem, como o basquete. E nós colaboramos na consecução do evento. Natação precisa de juizes. As competições do Colégio Militar são outro exemplo. E a Confraria, nosso maior objetivo era obter registro junto ao Cref (Conselho Regional de Educação Física). Para que pudéssemos participar dos Jogos Abertos de Campo Grande, junto com os nossos profissionais, o que era uma exigência, tinha que ter um professor de Educação Física registrado. Nós temos na Confraria mais de cinqüenta profissionais e nenhum deles estava registrado. Aproximamos com o Cref, com o professor Domingos, e conseguimos deslanchar o registro.

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