Bate-Bola | Rosália Silva | 10/07/2004 12h28

Chico, de férias em CG, é o entrevistado da Esporte Ágil

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Chico, de férias em CG, é o entrevistado da Esporte Ágil

Francisco Tardivo Delben, o Chico, 21 anos, é um basqueteiro nato que saiu de Mato Grosso do Sul para tentar seguir seu sonho no interior de São Paulo. Revelado pelo colégio Dom Bosco de Campo Grande, desde o fim de 2000 ele defende o COC de Ribeirão Preto, time que conquistou três campeonatos paulistas. Agora, novos ventos o levam para o Casa Branca, também de São Paulo, onde o atleta tenta algo mais, como por exemplo um lugar ao sol na Seleção Brasileira de Basquete. O ala que aguarda o início da apresentação dos jogadores ao time, está em Campo Grande passando estes dias de folga com a família. Ele que tem 2,02 de altura, não perde a mania de jogar e está indo "treinar" com os veteranos do basquete no Belmar Fidalgo ou no Sesc. Craque que é craque não pode deixar o material de trabalho, nem mesmo nas férias!

Esporte Ágil - Como você começou a praticar basquete?

Chico - Desde os onze anos eu jogo. Comecei vendo meu pai jogar, lá em São Carlos, onde nasci. Depois, já aqui em Campo Grande, quando eu estudava no Dom Bosco o professor Marcellus passou nas salas chamando quem quisesse jogar basquete na escolinha do colégio. Eu fui, depois treinei com o Luis, Ronaldão e Maurício.

Esporte Ágil - Nessa época você começou a disputar pelo Dom Bosco?

Chico - Eu comecei a jogar basquete aqui no Dom Bosco, mas antes eu era o mais baixinho de todos, menor até que as meninas do basquete.

Esporte Ágil - E como você começou a se destacar como jogador?

Chico - Comecei treinando como armador. Tinha habilidade e fui ficando mais alto, mas continuava armando. Foi uma vantagem para mim, porque tinha altura e habilidade. Acho que foi nisso que me destaquei. Depois teve o Campeonato Brasileiro da segunda divisão, que o Reginaldo trouxe em 97 ou 98, não me lembro, e fomos campeões. Passamos para a primeira divisão da categoria cadete. Na cadete a gente estava na especial e era o meu ano base (83). Como fiz um bom campeonato, fui chamado para a Seleção Brasileira. Infelizmente não consegui ficar.

Esporte Ágil - Mas você continuou a defender o Dom Bosco depois disso?

Chico - Voltei. E como estava pensando em seguir carreira de basquete, porque aqui não tinha time profissional adulto, surgiu uma oportunidade com o pessoal do Botafogo do Rio de Janeiro. Teve um cara que veio participar dos Jogos Abertos aqui e ele me chamou para fazer um teste lá. Passei no teste e foi tranqüilo.

Esporte Ágil - E como foi a sua trajetória fora do Estado?

Chico - Entrei no Botafogo e fiquei oito meses lá, desde janeiro de 2000. Mas a estrutura não era boa. O técnico era bom, mas a gente não recebia, não dormia direito porque o alojamento era ruim e tinham me prometido um monte de coisas e não cumpriram. Aí o Reginaldo falou com o Lula, técnico de Ribeirão Preto e me arrumou um teste. Fui, fiz o teste e o Lula gostou de mim. Fiquei no COC jogando o juvenil. No COC eu joguei o juvenil todo, o primeiro ano de adulto em 2003, e este ano estou no segundo ano de adulto. Como estou pretendendo jogar mais, aparecer mais, para mim seria melhor sair do COC. Então, decidi isto. Saí do COC, agora estou indo para o Casa Branca de São Paulo, onde vou jogar de titular. Vou trocar para melhor. Acho que este ano vai ser bom para que eu apareça no adulto, porque o juvenil já foi. Alguns times de São Paulo estão bem mais estruturados do que os do Rio. Clube de futebol só pensa no futebol e esquece do resto. Em São Paulo os clubes são mais organizados, tem uma estrutura melhor.

Esporte Ágil - Então quando você foi para o Botafogo, você passou por uma peneirada e não saiu aqui de Campo Grande somente com a cara e a coragem?

Chico - Não foi peneirada, porque não tinha outros jogadores, só estava eu. E no COC eles também fazem peneiras, mas eu fui fazer um teste separado. O que é melhor, ter indicação para você passar nos testes, porque como você treina com o time e não com um monte de gente que não está entrosado, acho que é mais fácil mostrar o jogo.

Esporte Ágil - E como foi quando você falou para a sua família que ia jogar fora de MS?

Chico - Eles sempre me apoiaram, sabiam que desde moleque eu queria ser jogador de basquete da Seleção Brasileira. E como aqui não tinha oportunidade de acontecer isto, eles me apoiaram sempre. É bastante animador, eles sempre assistem aos jogos. A minha família adora basquete.

Esporte Ágil - Você disse que começou a praticar basquete vendo o seu pai jogar. Tem alguém na sua família que se inspirou em você para também tentar seguir carreira no esporte?

Chico - Não, só tem jogador de fim de semana mesmo. O meu irmão mais novo, o Antonio, tentou jogar. Ele é habilidoso, tudo mais, mas o problema é a altura. Todo mundo aqui gosta de jogar basquete, praticar esportes. O importante também não é só o lado profissional. É importante porque é saudável, tanto na parte física, quanto na espiritual, psicológica.

Esporte Ágil - E qual é a sua rotina de treinamento?

Chico - Vida de atleta é mais difícil, porque não é estipulado um horário. Dependendo, sábado e domingo não tem folga. A gente treina dois períodos, um é o treino tático e outro é a parte física. Quase todo clube é assim, todos os dias da semana. Aí tem jogos domingo, sábado, terça ou segunda-feira. Não tem férias no meio do ano, tem no fim de ano duas semanas, às vezes nem isso: tem que voltar entre o natal e o ano novo para treinar porque está no meio do campeonato.

Esporte Ágil - Você tem algum ídolo?

Chico - Eu sempre gostei do Magic Jonshon e Michael Jordan. Um jogava bastante com a inteligência e na técnica o outro era fora de sério. Aqui no Brasil, o Oscar pelo esforço que teve é um exemplo e tem, também, o Pipoca. Os dois são pessoas íntegras, não fazem coisas erradas fora de quadra e são bem respeitados internacionalmente.

Esporte Ágil - E o basquete aqui do nosso Estado, você tem acompanhado?

Chico - Sempre foi um local para lançar jogador, mas precisa de um incentivo maior na parte profissional, porque no juvenil sempre foi forte. Com as leis de incentivo, precisaria ter um time profissional para ter mais visibilidade nacional.

Esporte Ágil - Como você se mantém em São Paulo?

Chico - Eles dão tudo para gente, a estrutura é ótima. Dependendo do clube, tem casa, comida, transporte e alimentação.

Esporte Ágil - Estudo também?

Chico - Também, mas é difícil conciliar os dois. Eu faltava muito e às vezes perdia prova e se tinha perdido duas provas, só podia repor uma. Em dois anos eu consegui fazer um. Preferi investir mais nessa fase de transição do basquete e deixar o estudo um pouco mais para frente, até ter estabilidade profissional.

Esporte Ágil - E o que você fazia?

Chico - Eu estava fazendo Comércio Exterior. Queria Economia, mas não tinha no COC.

Esporte Ágil - Já tem algum jogo marcado para você disputar no seu novo time?

Chico - Tem a reapresentação dia 19 agora. O Campeonato Paulista começa em setembro e não sei se vai ter amistoso antes.

Esporte Ágil - Como você vê as recentes contratações de brasileiros pelos times da NBA?

Chico - Tem muita gente empolgada. Conversei com o Alex, que também era do COC e parece que para a NBA é um tipo de moda trazer jogador de fora, do Brasil, da América Latina, a campanha está grande nesta região. Tem muita gente por aqui querendo levar o pessoal. O Anderson, eu nunca falei com ele, só joguei no time adversário do dele, mas o pessoal diz que ele é gente boa pra "caramba". E o Baby eu não o conheço bem porque ele jogou nos últimos quatro anos nos Estados Unidos, mas deve ser um jogador de bastante força.

Esporte Ágil - E em São Paulo, qual a estrutura dos clubes, eles são clubes-empresas?

Chico - Geralmente, é a empresa que monta o clube ou patrocina, mas o time é da empresa.

Esporte Ágil - E você tem idéia de quanto cada time investe para disputar os campeonatos.

Chico - Deve estar em torno de um milhão por ano. O COC acho que tem um limite de uns cem mil por mês, mas deve chegar a R$ 1,5 milhão para manter a estrutura, pagar jogadores, time juvenil, categoria de base.

Esporte Ágil - Jogador da categoria de base também recebe?

Chico - Alguns sim, a maioria recebe, mas quem não recebe tem alimentação, escola e moradia.

Esporte Ágil - E tem muitos jogadores que não são da cidade?

Chico - Tem. A princípio o COC gostava de revelar jogador de base, só de Ribeirão Preto. Esse ano contrataram muitos para as categorias de base que não são da cidade.

Esporte Ágil - E eles ficam alojados onde?

Chico - No COC não são alojamentos, são casas. Dependendo do time. O Santo André que entrou em 2002 e tem um investimento que é bem menor, deve ser em torno de R$ 20 a 30 mil mensais.

Esporte Ágil - E você acredita que no basquete também possa existir os chamados "azarões", como foi o caso do Azulão, o São Caetano de São Paulo, que conseguiu se destacar no futebol nacional, apesar de ter um orçamento baixo para manter a estrutura do time?

Chico - É, só que no caso do Santo André o time não foi para frente. Era constituído por jogadores dos times de base, do juvenil e alguns jogadores medianos. E o COC é um time grande que investe pouco abaixo que os grandes investem, que contratam cinco jogadores ganhando se não o dobro, mais da metade do que eu.

Esporte Ágil - E qual é a média dos salários dos jogadores?

Chico - Ah, de um jogador médio uns R$ 7 a 8 mil e do top, em torno de R$ 15 mil. Já para o juvenil, os de base é de R$ 500 a mil. Os times que pagam melhor são os da Capital de São Paulo que montam times fortes, também para a categoria de base. Como o Hebraica, Pinheiros, Paulistano, que montam times fortes para ganhar o campeonato.

Esporte Ágil - Tem algum time brasileiro que você gostaria de defender?

Chico - O COC sempre foi um time que eu gostei. A cidade é boa, o time é bom, todo mundo te apóia e gostaria de voltar para lá se tivesse oportunidade. Eu saí de lá, mas não fechei as portas. Conversei com o técnico, ele me apoiou dizendo que se era isso que eu queria era o melhor mesmo. Eu perguntei se haveria possibilidade de voltar e ele me disse que se eu estivesse jogando bem no outro time não haveria problemas, ele me levaria de volta. Mas o Casa Branca é agora o melhor lugar que eu posso ir para jogar como titular.

Esporte Ágil - E a NBA?

Chico - Claro que gostaria de ir, se pudesse sair do Brasil, é um sonho também. Acho que agora é difícil, mais para frente, talvez.

Esporte Ágil - Quais os títulos que você ganhou na sua carreira?

Chico - Um Campeonato Brasileiro da segunda divisão, quinto na divisão especial, na cadete. A gente conquistou em terceiro os Jogos Abertos Brasileiros. Aqui pelo Dom Bosco foram os Jogos Abertos municipal e estadual, e todos os campeonatos estaduais nas categorias que disputei. Em São Paulo foram três paulistas seguidos e no Brasileiro saímos nas quartas-de-finais.

Esporte Ágil - E qual era a sua média de pontos no COC.

Chico - Variava muito, porque eu jogava como reserva, mas quando entrava era uns seis ou sete pontos. Porque tinha jogos que eu entrava e ficava vinte minutos e em outros era de três a quatro minutos. Então variava muito. O máximo que fiz foram uns 14 pontos.

Esporte Ágil - Você tem alguma dica para os jogadores daqui que estejam começando e também queiram tentar entrar num time grande?

Chico - O segredo de tudo é acreditar naquilo que quer e trabalhar bastante, treinar muito. Eu treinava durante o tempo normal e como minha mãe, em função do serviço dela, chegava mais tarde para me pegar, eu ficava arremessando. Isso aí é sempre bom. Treinar em casa, bater uma bolinha, chegar antes do treino. A pessoa também tem que ter integridade, porque tudo o que se faz de bom, retorna. Pode não ser agora, mais para frente sempre volta. E tem que ter perseverança.

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