Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da Redação | 08/05/2012 09h49

Bate-Bola: Victória Lino

Compartilhe:

Victória Lino

Victória Lino tem apenas 20 anos e muita história para contar. Piloto de motocross, ela compete entre homens por não haver categoria feminina no Estado. É uma das poucas mulheres do motocross sul-mato-grossense.

Exemplo de raça e dedicação, Victória não se deixa abalar com as intimidações na pista e busca apoio para competir o Brasileiro, também entre homens.

Esporte Ágil - Como e quando surgiu seu interesse pelo motocross ?

Victória Lino -  Meu pai era piloto e meus irmãos também então desde pequena fui influenciada por eles. Corro desde os seis anos (1998). Passei pela 80cc e pelo 450 cc, agora estou no MX3, que é para pilotos acima de 35 anos. Minha família sempre me apoiou e deu muita força para eu competir, pois meu pai acredita no meu potencial.

EA - Quais dificuldades você enfrenta por ser uma mulher correndo entre homens ?

VL - Na pista eles não respeitam, pois todos são iguais durante a corrida. Eu sofri muito no começo. Me fechavam, batiam na roda traseira da minha moto. Não há preconceito, fora da pista somos todos amigos, temos uma boa relação. 

EA - Dessas fechadas, batidas em você, a Federação de Motociclismo do Estado de Mato Grosso do Sul (FEMEMS) não tomou nenhuma atitude ?

VL - Uma vez um piloto foi punido, porque foi uma batida descarada. O cara bateu em mim na curva. Mas é muito subjetivo saber se houve intenção de machucar. Na maioria dos casos não. O motocross é um esporte perigoso por natureza. É difícil para a FEMEMS justificar uma punição, provar que foi de propósito.

EA - Você está tentando patrocínio para disputar o Brasileiro ? 

VL - Sim, a FEMEMS não tem condições de ajudar. Tenho uma motorhome para vender publicidade, mas preciso de mais. Se eu for para alguma etapa será com dinheiro do próprio bolso. Tenho que agradecer o pai que tenho, que deixa de fazer uma viagem de fim de ano para eu correr um campeonato. Se é difícil para mim, imagina para quem tem menos condições ainda. É sofrido amar o esporte e ficar na vontade, não poder competir.

EA - Um campeonato feminino tanto no Estado, quanto no Brasil, daria certo ? Por que não existe ?

VL - Muitas meninas sonham em competir mas o pai não deixa. É realmente muito perigoso. Se a Confederação Brasileira de Motocross ou a Federação investisse, fizesse um campeonato feminino, seria um incentivo para garotas começarem no esporte. Os pais ficariam mais seguros. Agora, hoje, não é interessante fazer um campeonato feminino, seriam poucas pilotos, a corrida ficaria choca, sem graça.

EA - O motociclismo no Estado evoluiu nos últimos anos ? Se você recebesse um convite para correr fora, por uma equipe de outro estado, você iria ?

VL - Evoluiu. Do ano passado para este mudou muito. Horário certo, maquinário, segurança, ambulância, estamos com um bom campeonato. Nova Alvorada do Sul sediando etapas nacionais, estamos crescendo. Ainda falta é claro, uma pista de motocross em Campo Grande, todos reclamam muito disso. Temos que viajar para treinar, é complicado.

Eu aceitaria o convite sim, seria uma grande oportunidade que não poderia deixar passar. Meu objetivo é continuar competindo, continuar no motocross, é o que eu gosto e o que sempre vou fazer.

EA - Quais são seus principais títulos e seu ponto forte na pista ?

VL - Fui bicampeã de minicross em 2001 e 2002 e vice-campeã na 80cc em 2004, além de terceiro lugar em 2005 e 2006. Fui terceiro lugar na MX3 em 2009. Sou muito raçuda, vou até o fim e com os tombos e machucados, aprendi a aproveitar cada milímetro da pista, a me defender, cair, erguer a cabeça e levantar. Antes eu ficava nervosa, chorava muito. Hoje vou até meu limite para deixar meu pai feliz.

EA - Qual foi a melhor corrida que você fez ?

VL - Foi em 2007, eu corria pela 80cc e estava com uma moto muito ruim, muito mesmo. Na largada eu enrosquei com um piloto, nós dois caímos e ficamos em últimos. Levantei, fui, passei todo mundo e fiquei roda a roda com o primeiro colocado. Depois da corrida ele declarou que se houvessem mais duas voltas na prova eu teria passado ele.

EA - Quando as pessoas começaram a acreditar em você, depois de qual corrida ?

VL - Em 2008 eu estava parada e em agosto eu teria que correr obrigatoriamente uma etapa em Miranda. Meu pai já estava desanimado porque meu irmão tinha quebrado o tornozelo e parado de correr. Eu também estava um pouco, se não fosse meu namorado Júnior, que insistiu muito para eu correr, eu não teria ido. Então fui correr em Miranda, no velocross, só por correr, para cumprir tabela. E aí eu surpreendi o meu pai e todo mundo, ficando em terceiro lugar.

Ali meu pai viu que eu tinha futuro no motocross. E na corrida seguinte, um mês depois, setembro, em Costa Rica, minha primeira prova na MX3, fiquei em terceiro lugar também.

EA - Qual a importância do seu namorado na sua carreira ? Ele também corre ?

VL - Ele me deu força para continuar, me ajudou, me deu uma moto para eu correr durante um ano. Somos muito parceiros. Ele parou recentemente, fico triste por ele ter parado.

EA - Fizeram alguma corrida juntos ?

VL - Ele corria na MX3, fizemos várias. Começamos a namorar em 2008 e como fazia pouco tempo que a gente namorava, meu pai tinha um pé atrás. Na primeira corrida, o Júnior me disse antes da largada "abaixou o gate, não tem essa de amorzinho, é cada um por si", sem perceber que meu pai estava ouvindo. 

Na segunda curva fui bem por dentro, ele foi fazer ela por fora e no final da curva ele bateu na minha traseira. E ele estava com a roda empinada, então ele rampou em mim, passou por cima das minhas costas, caiu e derrubou eu e mais umas três motos. Caí, senti dor, levantei e não falei com ele porque estava brava. Quebrei a costela.

Voltei para o box e meu pai me deu uma bronca falando que o Júnior tinha me avisado que na pista ia ser diferente. Além disso meu pai ficou dois meses sem falar com o Júnior.

EA - Que dicas você dá para quem está começando no motocross ?

VL - Pilote sempre muito bem equipado e ame acima de tudo o que você faz, ame sua moto e dedique-se ao que você almeja conquistar. Existem altos e baixos nos esportes de competitividade como no motocross: um dia a gente ganha e no outro a gente perde, mas o mais importante é nunca desistir e não deixar ninguém conseguir te desanimar e meXer com seu psicológico.

Jogo rápido

Maior medo: cadeira de rodas e peder meu pai

Maior orgulho: meu pai

Maior erro: não ter paciêcia quando mais se precisa dela

Maior acerto: me doar para tudo o que almejo de verdade

O que lhe deixa feliz: andar de moto

O que te decepciona: Nao completar uma corrida

Pessoa especial: Júnior, meu namorado 

Uma pista nacional: Cachoeiro do Itapemirim - SC

Uma pista estadual: Camapuã

Um sonho: correr nos EUA no WMA

Victória procura patrocínios para competir o Brasileiro. Interessados mandem e-mail para victoriamotocross@hotmail.com.

VEJA MAIS
Compartilhe:

PARCEIROS