Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da redação | 03/10/2011 14h52

Bate-bola: Rogers Prado

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Rogers Prado

Após ser apresentado ao basquete no interior de São Paulo, Rogers Prado adquiriu um amor pela modalidade e desde então não a largou. Depois de uma tentativa de ser atleta, frustrada devido a uma grave lesão, virou professor e depois técnico de basquete. Com 31 anos, Rogers agora trabalha para melhorar o basquete e a educação do Mato Grosso do Sul, destacando o fim da “rixa” entre a Federação de Basquetebol de MS e da Liga Pró-Basquetebol.

EA - Qual foi seu primeiro contato com o basquete?

RP - Fui atleta, treinava na Mace e com 15 anos fui para o Dom Bosco jogar. Porém comecei a cursar educação física e comecei a trabalhar com iniciação, já mexendo com o basquete.

EA - Seu sonho era ser atleta? Em que posição você jogava?

RP - Era, eu jogava como ala, cheguei a fazer um teste em São Paulo, mas quebraram minha perna no teste. Desmotivei e continuei fazendo a faculdade e entrei em um projeto para trabalhar com basquete.

EA - Há quanto tempo você dá aula?

RP - Eu dava aula antes de me formar na faculdade. Já faz doze anos que dou aulas. Comecei a iniciação científica em 1999.

EA - Em quais escolas você trabalha?

RP - Eu estava na Escola Municipal João Candido há muito tempo, parei agora no meio do ano. De basquete estou só na Escola Estadual Elpídio Reis. Dou aula de educação física na Escola Estadual Virgílio Campos também.

EA - E como técnico?

RP - Eu ajudo as equipes do Dom Bosco. A Federação firmou uma parceria com o Dom Bosco e com as escolas municipais. Os alunos participavam dos campeonatos da Federação, é uma parceria muito bacana.

Em 2006 também assumi o comando das seleções femininas do Estado. A primeira que peguei foi a Sub-17, fomos campeões regionais. De 2009 em diante levo as seleções do Estado para os Brasileiros Sub-15, Sub-17 e Sub-19.

EA - Quais foram as principais conquistas?

RP - Em 2009 ficamos em 2° no Sub-15 e em 3° no Sub-17 nas fases regionais. Ano passado disputamos a 1ª divisão do Brasileiro Sub-17 e ficamos em 2° com a Sub-19 na fase regional. Este ano subimos para a 1ª divisão do Brasileiro com a equipe Sub-15 [o torneio foi disputado em Campo Grande, no qual MS foi vice-campeão].

EA - Você já trabalhou com equipes masculinas? É mais fácil treinar homem ou mulher?

RP - No Elpídio Reis estou só com garotos. Considero que com as mulheres o resultado é mais rápido, o poder de assimilação delas é melhor que dos homens. Mas, se for a longo prazo e bem trabalhado, o masculino dá frutos positivos.

EA - Após treinar essas seleções, você acha que o basquete sul-mato-grossense, em geral, tem potencial para se destacar a nível nacional?

RP - Essa equipe Sub-15 que subiu para a primeira divisão, se tivesse jogado a primeira divisão, teria feito um campeonato muito legal. É um grupo forte, unido, experiente, tem atletas que tem um potencial muito grande.

É um bom grupo para os próximos anos, se as atletas forem bem preparadas pelos clubes. Acredito que nos próximos dois anos teremos seleções competitivas a nível nacional.

EA - Quando alguma seleção vai competir fora, quem banca a viagem?

RP - A Confederação Brasileira de Basketball banca tudo. Ela paga transporte, arbitragem, hospedagem, alimentação. É tudo custeado pela Confederação.

EA - O que você acha de existir no Estado além da Federação de Basquete a Liga de Basquete?

RP - Eu penso que quem realiza algo tem que ser para somar e jamais para dividir. Tanto é que desde que o professor Luiz Magalhães assumiu a Federação ele liberou os árbitros para apitarem qualquer jogo de basquete do Estado. A rixa entre Liga e Federação que era vendida pela imprensa já foi superada. Através das ações, na prática, percebemos que não há mais conflito entre as partes, cada trabalho acontece sem prejudicar o outro. Não há ligação e não há interferência negativa. Cada um faz o seu da melhor forma possível e o basquete sul-mato-grossense só tem a crescer com isso.

EA - A arbitragem de basquete sul-mato-grossense é de qualidade?

RP - Temos árbitros se destacando no país ou até fora, como o professor Gerson Falcão que foi fazer um curso no exterior. Temos três árbitros nacionais no Estado. Mas o grande problema da arbitragem aqui é aumentar o quadro.

A Federação tem planos para no ano que vem dar ênfase à formação de novos árbitros. A gente deixa de realizar algumas competições às vezes por falta de árbitros. A idéia é fomentar o surgimento de novos árbitros. Se eu não me engano a Federação vai trazer para cá uma clínica de arbitragem em dezembro. Mas a qualidade dos árbitros que temos aqui é muito boa, sem dúvida alguma.

EA - Você que faz parte da Federação, considera o apoio que ela recebe da Fundesporte/Funesp suficiente?

RP - A Federação em si recebe, mas não podemos dizer que é o suficiente para fazer tudo o que gostaríamos de fazer. A prefeitura ajuda, repassa uma verba para alguns eventos, a Fundesporte ajudou significativamente este ano comparado aos outros. Poderia ser melhor, mas o que recebemos aplicamos da melhor forma possível.

EA - E apoio privado, de patrocinadores?

RP - Mato Grosso do Sul não tem a cultura de buscar patrocínio para o esporte. Dependemos muito do poder público para realizar esporte. Em outros estados a iniciativa privada fomenta o esporte. Aqui não temos esta cultura ainda. Se um dia vier a ter, quem sabe visualizaremos horizontes, não só no basquete, mas em todas as modalidades.

O investimento financeiro é que dá o norte das ações. Enquanto não tivermos isso, não podemos buscar avanços.

EA - Como você analisa a imprensa esportiva do Mato Grosso do Sul?

RP - Eu vejo de uma forma muito oscilante. Tem momentos que a imprensa apoia e é importante, como tem momentos em que causa situações desconfortáveis, que não são analisadas e são divulgadas, prejudicando pessoas. Um evento deixa de acontecer e é publicado sem se procurar saber o porquê. A imprensa tem que ser parceira do esporte, ela deve ajudar a levantar o esporte. Você não pode dar destaque maior para o que não é positivo, pela realidade que a gente tem, o que não é tão bom acontece sempre, o bom é raro, temos que fortalecer as ações positivas que ocorrem dentro do esporte.

EA - Dá para pensar na possibilidade de algum jogador de basquete do Estado disputar as Olimpíadas Rio 2016? Existe algum projeto?

RP - Para a gente conseguir almejar uma situação dessa acho que devemos primeiro melhorar nossa estrutura a nível de Estado, de investimento, de condições de trabalho e competições, para depois buscar atletas para disputar Olimpíadas. Potencial temos, isso é fato. Tanto que vemos muitos atletas sendo sondados para sair do Estado. Ainda não temos a visão de projetar as coisas para chegar no alto rendimento.

EA - Como professor e técnico, o que você sugere para o atleta que é sondado para deixar o Estado?

RP - Uma atleta nossa de Eldorado, a Karen, da Seleção Sub-15, está sendo sondada pelo Osasco-SP. O técnico deles já falou com o técnico dela de Eldorado, já falou comigo e está mostrando como será feito o trabalho com ela. Desta forma, transparente, a gente incentiva. Acho válido trabalhar o potencial dela lá, pois lá as chances serão maiores. É positivo sair do Estado, desde que haja um projeto. Não adianta levar um atleta para jogar um ano ou dois e achar que ele vai ser profissional. É ilusão. De dez, nove retornam para cá.

EA - Por que isso acontece?

RP - Porque não é todo mundo que tem um projeto a longo prazo. As coisas são muito de momento. Levam um atleta Sub-14 e usam ele até o Sub-17 e depois dispensam. Às vezes a cidade não tem investimento para trabalhar com equipe adulta, aí o atleta vai, se ilude e volta para cá desmotivado.

EA - Qual a importância da volta da Seleção Brasileira Masculina de Basquete às Olimpíadas?

RP - É uma injeção de ânimo muito grande. Este grupo tem um grande potencial, o técnico [Rubén] Magnano otimizou tudo isso e conseguiu um ótimo resultado. Voltamos a um patamar onde já estivemos e espero que isso sirva para ajudar os estados a fomentar a modalidade. Temos que usar as coisas positivas para atrair coisas positivas. Antes divulgavam "Mais uma vez o Brasil fica fora das Olimpíadas". Agora mudou, essa conquista tem de ser valorizada e servir de base para o crescimento do basquete no país, para que continue dando frutos para as próximas gerações. Ter novos ídolos, o basquete em evidência, isso tudo incentiva a iniciação da prática de basquete nas escolas. Mais importante do que o resultado é o que vem por trás, a consequência positiva disso tudo.

EA - Como você, professor, alia educação e esporte?

RP - Costumo dizer que o esporte é uma ferramenta para a educação. Muitos valores que necessitamos no esporte são importantes para a vida da criança e do adolescente. O que a gente trabalha no esporte é o que a gente faz na vida. Não podemos deixar de lado os valores éticos e morais que o esporte tem e que são importantes. Trabalhando assim você forma um cidadão e um atleta, pode considerar dever cumprido. Fico feliz em ver ex-atletas na faculdade, estudando, com bom caminho pela frente. Infelizmente atleta é mais difícil pela nossa estrutura. Então temos que usar o esporte como ferramenta de formação. Se conseguiu formar um atleta ótimo, a obrigação inicial é ajudar na vida desta criança/adolescente. Essa é a minha meta.

EA - Você tem algum plano, sonho para o futuro?

RP - Gostaria de ter um projeto abrangendo mais crianças e adolescentes para fomentar o basquete. Usando o basquete como ferramenta educacional, priorizando a formação do cidadão e de atletas. Se eu conseguisse organizar um projeto de abrangência maior eu contribuiria mais. Alcançando mais crianças, ajudaria na educação e no basquete. É meu sonho.

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