Bate-Bola | Marcelo Eduardo da Silva | 06/10/2008 17h42

Bate-bola: Janete Rodrigues

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Janete Rodrigues

Treinadora do time de futebol de base do Centro Esportivo Nova Esperança - Cene, Janete Farias Rodrigues realiza há 20 anos um trabalho junto à comunidade do bairro Novo Sergipe (região norte de Campo Grande). Ela já revelou jogadores que, hoje, inclusive, atuam em times profissionais do exterior. 

O Esporte Ágil acompanhou uma tarde do encontro entre Janete e as crianças por ela atendidas. Como ela mesma afirma, não se tratava de um treinamento, mas "de uma grande brincadeira com um lado voltado para o social". 

Nascida em Jardim, Janete cresceu na Capital e logo criança se "apaixonou" pelo futebol. Ela nos conta um pouco sobre sua carreira como treinadora, as amizades que conquistou nessas duas décadas de atuação no esporte e suas opiniões sobre cidadania, esporte e educação. 

Esporte Ágil - Quando e como você começou a realizar este trabalho?

Janete Rodrigues - Desde pequena, aos 12 anos, eu já gostava de pegar a gurizada e botar para jogar e ficar "treinando". Não gostava de jogar, mas de treinar, desde pequena. Meus pais não gostam de futebol. Ninguém acredita que escolhi esta profissão. Tenho dois filhos, um treina comigo, o outro, diz que quer ser ginasta. 

Aprendi futebol vendo TV. Claro que me capacitei. Faço educação física no Iesf [Instituto de Ensino Superior da Funlec]. Comecei há 20 anos sempre aqui na região do Nova Bahia. Como voluntária, fiquei 10 anos. Agora, com o apoio que temos da Prefeitura, as coisas melhoraram. Hoje [dia do encontro com o Esporte Ágil - 18 de setembro] estamos num campinho de terra, com muita areia, mas também treinamos no campo gramado que a Prefeitura construiu aqui próximo.

Esporte Ágil - Como é que uma criança pode participar do projeto?

Janete Rodrigues - Para entrar na Escolhinha de Futebol dos Novos Estados, tem que estar na escola. Não podem estar fora da escola. Nós atendemos 82 crianças, de 5 anos a 15 anos de idade. Mas têm alguns com mais. Eles gostam, fazem amizade com a gente e não querem mais sair. Eu não digo não.  

Esporte Ágil - E as alegrias que teve durante estes 20 anos?

Janete Rodrigues - A gente faz muitos amigos. Tem aluno que começou pequenininho. Deste tamanhinho [aponta com a mão até os joelhos] até hoje já maiores. Tem criança aqui que é trazida pelo tio que já foi aluno meu. Tem alunos com 16 anos, 17 anos, que continuam vindo porque se sentem bem aqui. 

Tem muita gente boa aqui. Já revelamos atletas que hoje estão em times principais do Japão, da Bélgica, Romênia. No Internacional de Porto Alegre. Tem um menino que foi fazer teste no Goiás. A Cidinha, que foi atleta da Seleção feminina, foi descoberta aqui nestes campos de terra jogando com os guris. Hoje, pelo trabalho que tenho no Cene, muitos dos meninos jogam nas divisões de base de lá. Também temos uma parceria com o Colégio Alceu Viana, que é daqui da região. Lá, eles jogam futsal. 

Um dos alunos que estão jogando lá fora [em times do exterior] me mandou uma ajuda em dinheiro e disse: "Olha, Janete! Este dinheiro é para você fazer o que você quiser." Com ele, arrumei minha casa ali no Nova Bahia. São essas amizades que a gente tem de melhor. 

Esporte Ágil - Como você desenvolve o seu trabalho?

Janete Rodrigues - Trabalho o social. Não se pode colocar na cabeça deles que eles vão treinar para ser profissionais. Claro que, tem os que se destacam. Estes, nós treinamos para isso. Mas, a grande parte vem aqui para brincar. 

A criança tem que estudar, tem que ter uma boa família, tem que ser um cidadão de bem no futuro. Esses são os valores que defendo aqui. Já veio pessoas aqui e me disseram para treinar fundamentos com eles. Eu não vou fazer isso. Sei fazer muito bem, mas não é o que eu acredito. Claro, como disse, aqueles que querem ser profissionais, a gente treina assim. Mas, a maioria vem aqui para se divertir, para brincar. É um momento de lazer para eles, para que eles não fiquem nas ruas. Para que sejam pessoas de bem. 

Na última viagem, em que fomos jogar em Sidrolândia, trouxemos medalha. Todos ficaram contentes, claro. Mas, fizemos um piquenique lá. O que eu quis trabalhar? Foi a partilha. Quis ensinar a eles a dividirem o que tem. 

Aqui, tenho alunos com problemas de saúde - e a prática de esportes melhora sua saúde. Tenho alunos com problemas em casa - e a prática de esportes ajuda a melhorar sua relação familiar. Tenho alunos com problemas na escola - e a prática de esportes ajuda a melhorar o rendimento e comportamento na escola. 

Temos uma parceria com a escola aqui do bairro. A diretora e eu conversamos sempre. Assim que tem um aluno que vai mal na escola, ela encaminha para mim e a gente faz um trabalho que auxilia ele na escola. 

Você pode notar que aqui não tem um palavrão. Não tem um xingamento, uma desonestidade. São crianças que, se não se tornarem profissionais, serão pessoas de muito bom caráter. O trabalho principal aqui é o social, é formar cidadãos.

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