Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da Redação | 30/04/2013 14h40

Bate-bola: Hugo Costa

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"É ver aquele menino, um dia de pé descalço sujo de terra, sem nenhuma perspectiva na vida, com tudo para dar errado, depois de oitos de projeto chegar e falar para mim "Obrigado professor por você ter mudado minha vida". Isso não tem dinheiro que pa (Foto: Acervo Pessoal)

Hugo Costa

Professor de basquete da equipe Porãbask e fundador do projeto Meninos do Terrão, Hugo Costa ficou reconhecido nacionalmente depois de criar uma forte equipe com atletas carentes. Hoje o Porãbask já é mais que uma realidade e se destaca no basquete sul-mato-grossense.

Esporte Ágil - Quando e como surgiu seu interesse pelo basquete ?

Hugo Costa - Aos 12 anos, na escola, na aula de Educação Física. Depois fui atleta por muito tempo e depois naturalmente virei treinador. Comecei minha carreira como treinador em Pedro Juan Caballero. Fui campeão nacional do Paraguai diversas vezes nas categorias de base.

EA - Quando e porque surgiu o projeto dos meninos do terrão ? O que te fez seguir em frente e acreditar no projeto?

HC - O Basquete é uma modalidade difícil de conquistar as crianças. Sempre foi considerada uma modalidade elitizada devido ao equipamento, principalmente o tênis. Fiz muitos projetos tentando implantar o basquete nas escolas de Ponta Porã, principalmente nas escolas particulares, no centro da cidade, mas sempre recebia não.

Fiz um concurso na Prefeitura para professor de Educação Física onde fui trabalhar na escola municipal Jardim Ivone, uma escola de periferia muito pequena, sem nenhuma estrutura para aulas de Educação Física. Em frente à escola havia um terreno baldio onde eram realizadas as aulas. Eram crianças muitos carentes, mas percebi que gostavam muito das atividades recreativas nas aulas. Introduzi o basquete pouco a pouco, fazendo improvisações com postes e uma porta velha que a escola não usava mais. Fui acreditando no projeto porque percebi que as crianças começaram a se dedicar aos treinamentos e começaram a surgir as primeiras conquistas. Com isso, as crianças perceberam que através do basquete poderiam ganhar o mundo.

EA - Hoje o Porãbask é um dos grandes nomes do basquete sul-mato-grossense, qual é o fruto desta conquista? O que a equipe almeja para esta temporada?

HC - Vou citar um pouco do escritor Paulo Coelho. Quando a gente faz uma coisa boa que pode mudar a vida das pessoas, o mundo conspira a seu favor. Nos fizemos a nossa parte, de muito trabalho, sacrifício, disciplina e muita dedicação. O mundo conspirou ao nosso favor de ter mandado a TV Globo e o Oscar Schmidt ao projeto.

O clube já conquistou muito mas tem muito ainda pela frente, queremos sempre estar disputando as finais das competições. Este ano nossa meta é disputar as Olimpíadas Escolares Sub-14 e Sub-17 e para isso temos que disputar as seletivas em nosso estado que é uma competição muito difícil. Mas estamos treinando duro para isso.

EA - Qual é o seu principal sonho, como treinador?

HC - Que o basquete de Ponta Porã e do Estado tenha uma estrutura para ter um basquete competitivo, para disputar lá fora, porque temos material humano aqui em Mato Grosso do Sul.

EA - O que acha do basquete no Mato Grosso do Sul? Está no nível dos outros estados? O que precisa ser feito para melhorar a qualidade dele?

HC - O basquete de Mato Grosso do Sul é muito bom. com todas as dificuldades que nós temos para trabalhar, como a falta de estrutura, incentivo do poder público, sempre estamos disputando de igual para igual com os outros estados. Temos muitos talentos em nosso estado que precisam de oportunidades e estrutura para a os treinamentos. É necessário uma politica de estado não só para o basquete mas de todas as modalidades esportivas. O dia em que o poder público fizer isso seremos potência em qualquer modalidade. Posso provar isso com o Projeto Porãbak.

EA - A imprensa sul-mato-grossense dá a atenção devida ao basquete? E a nacional?

HC - Infelizmente não. Vivemos no pais do futebol e a mídia vende pra nós que somos os melhores no futebol, coisa que não somos há muito tempo. A mídia deixa de lados as outras modalidades que talvez somos melhores, mas por falta de interesses estamos penando.  

EA - O Governo do Estado e as empresas privadas apoiam o basquete? É suficiente?

HC - O investimento do Estado é muito pouco e as empresas privadas não dão nenhum apoio. Para você ter uma ideia, o nosso patrocinador é uma empresa privada de outro estado.

EA - Se um atleta do Porãbask receber proposta para jogar por uma equipe do interior de São Paulo, ou de qualquer outro estado mais rico, você diria o que para o atleta? Para ele ir ou para ele ficar?

HC - Se é para evoluir como atleta e ter oportunidades como jogador de basquete, com certeza deixaria ele ir sim.

EA - O que é mais gratificante após ver o projeto dando certo?

HC - É ver aquele menino, um dia de pé descalço sujo de terra, sem nenhuma perspectiva na vida, com tudo para dar errado, depois de oitos de projeto chegar e falar para mim "Obrigado professor por você ter mudado minha vida". Isso não tem dinheiro que pague e também é um combustível para seguir em frente. 

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