Bate-Bola | Estevan Oelke | 30/05/2014 17h57

Bate Bola: Cesar Paschoal

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"O judoca não se aperfeiçoa para lutar, mas luta para se aperfeiçoar”. É a frase que ele leva como judoca. (Foto: Divulgação)

Cesar Paschoal

Cesar Paschoal é faixa preta de judô 4º grau e árbitro de judô aspirante a internacional. Hoje, ele é o atual vice-presidente da Federação de Judô de MS e o vice-presidente da Federação de Esporte Escolar de MS. Também faz parte do Tribunal de Justiça Desportiva das seguintes Federações Esportivas: vôlei, universitária, ginástica e atletismo. E para o Esporte Ágil ele conta como o judô mudou sua vida e como pode mudar a vida de muitos.


Confira o bate-bola completo

Esporte Ágil: Por que o senhor escolheu o Judô?

Cesar Paschoal: Quando criança, em 1974, assistia Judô em uma academia em Rondonópolis-MT, mas meus pais não tinham condições financeiras para eu treinar. Já em março de 1983, quando trabalhava no extingo Banco Financial, a convite de um amigo, entrei no Clube Zendokan de Judô em Campo Grande-MS, e meu professor (Sensei) foi o Reinaldo Santos, hoje 6º Dan, um grande disciplinador e o é até hoje. Treinando Judô logo veio o condicionamento físico, aquela aptidão que o jovem tem e necessita, e os mais importantes foram às amizades conquistadas, e várias delas perduram até hoje. Jamais me desliguei das pessoas e dos tatames, e confesso que o mais importantes para permanecer no judô foram às amizades, pois era um grupo saudável, que treinava, treinava, íamos a restaurantes juntos, sempre com alimentos saudáveis, e uma corrente positiva imperava entre nós, afastando qualquer possibilidade de vícios, como drogas, furtos, alcoolismo, etc.. Nesse contexto, só recebia elogios de todos que me cercavam (família, pessoal do banco, amigos, etc..) e a tendência é permanecer, pois a autoestima sempre esteve acima da média. Sempre.  E também por isso estou até hoje e assim vou até o "fim dos tempos".

Esporte Ágil: Quanto tempo o senhor atua nessa área?

Cesar Paschoal: Já são 31 anos de prática de judô, com algumas poucas interrupções, em 1988 e 1989, diante do trabalho e da faculdade de direito. Entrei na modalidade com 16 anos, ou seja, em tese já velho para ser atleta, e lutei pouco, mas logo percebi que a prática de judô não é limitada a competições, mas também para arbitragem (onde segui carreira) e também ser dirigente na academia e na federação. Em 1994 fui convidado pelo presidente da Federação de Judô de MS, na época o Professor João Rocha, que atualmente é vereador em Campo Grande-MS, (que me ensinou tudo o que sei para ser um dirigente esportivo), para fazer parte da diretoria da Federação. Aceitei o convite e estou até os dias atuais: já exerci, na FJMS, os seguintes cargos: presidente (2 mandatos), vice-presidente (2 mandatos), presidente do tribunal de justiça desportiva (3 mandatos), secretário, diretor de arbitragem e diretor adjunto de arbitragem. Uma honra ajudar a Federação, que ajuda tantas crianças.

Esporte Ágil: O que o judô mudou na sua vida?

Cesar Paschoal: O Judô é vida, pois ele nos transforma diante de seus princípios e espíritos, ou seja, não é apenas uma prática de esporte para o corpo, mas também e principalmente para o desenvolvimento da mente, do estado de espírito, pois lidamos constantemente com o cair e o levantar, com o ganhar e o perder, com a humildade e a vontade de vencer, ou seja, esses antagonismos nos levam a rir e a chorar em poucos segundos de nossas vidas e temos que saber lidar com isso, e aquele que não tem personalidade ou não lhe foi ensinado a lidar com as frustrações da vida, principalmente as negativas (derrotas, perdas, quedas, etc..) esse está fadado ao insucesso, podendo ser alvo fácil dos vícios que acabam com nossos jovens, como as drogas e o alcoolismo. O judoca é preparado a não se vangloriar com a vitória e também a enfrentar a derrota, para, quando cair, saber levantar-se, e a treinar mais e vencer seu oponente, não aquele que lhe venceu na luta, mas enfrentar seus medos, suas fraquezas. Tem um princípio interessante no judô que retrata isso, e que é o primeiro que ensinamos para as crianças: "quem teme perder já está vencido!”.  Outro, não menos importante, diz: "o judoca não se aperfeiçoa para lutar, mas luta para se aperfeiçoar”.

Trago todos os princípios do judô para minha vida pessoal e profissional, pois quando estou numa audiência, defendendo meu cliente, não temo perder, e, respeitando o colega adversário, faço o meu melhor, dentro das leis vigentes, mas sempre buscando a vitória e me aperfeiçoando, e assim é no tatame e assim na sala de audiência, ou o médico na mesa de cirurgia. Como disse: Judô é vida!

Esporte Ágil: Como o Senhor se sente como o Vice-presidente da FJMS? 

Cesar Paschoal: Ser o vice-presidente da FJMS é simplesmente um motivo de orgulho pessoal, uma honra. A minha estória com a Federação de Judô foi amor à primeira vista. Todos, sem exceção, que trabalham para a Federação o fazem com afinco, com carinho, pois ela é a entidade maior do nosso esporte em MS, e se a Federação estiver forte e grande, todos assim o estarão também. Nosso segredo é a união, não importando o cargo que exercemos, pois tanto faz ser o presidente, o vice-presidente, o árbitro, o secretário (também sou o atual secretário da federação), pois isso é apenas uma divisão de trabalho e poderes. Lógico que o sistema é presidencialista, ou seja, inclusive hoje o nosso presidente é o nosso amigo pessoal o engenheiro civil Marcos Antônio Moura Cristaldo, judoca faixa preta 2º grau de judô, que foi competidor na década de 80, e também é aluno do Prof. João Rocha, que o formou. Logo, a palavra final é do presidente, mas tudo se resolve democraticamente, em reuniões, sempre respeitando a opinião de todos, mas como seguimos o mesmo caminho (o do trabalho, da vitória e da união) então é fácil o exercício de cada cargo. A gestão é descentralizada, onde cada diretor comanda sua pasta (arbitragem, secretaria, técnica, eventos, etc..) e prestamos contas para o Presidente, que, mormente aceita o que fazemos, e caso haja alguma discórdia, conversa-se e resolve-se imediatamente, sem acumular um único problema. A partir daí é focar no futuro, e de vez em quando olhar para o passado, para copiar o que fizemos de bom, e repetir. Como sempre diz o sábio Prof. João Rocha, em reunião da Diretoria, dirigimos a Federação de Judô e nossas vidas como se dirigíssemos um carro, ou seja, olhando para o para-brisa (lá na frente - futuro) e, quando necessário, a gente dá uma olhadinha no retrovisor (passado). Com uma boa dosagem de amor e fé ao que estamos fazendo, não tem como errar.

Esporte Ágil: E qual a transformação buscada na sociedade através dela, do esporte?Cesar Paschoal: Não é oficial, mas há um dado informal que já tivemos, ao longo de 68 anos, mais do que 50.000 (cinquenta mil) praticantes de judô, em nosso Estado, sendo certo que tudo começou com Hideki Yoshida, que foi o primeiro sensei de judô a chegar a Campo Grande, no ano de 1946, quando aqui fazia parte do Estado do Mato Grosso. 

Em 23 de setembro de 1980, após a divisão do Estado, o Professor João Rocha, Professor Roberto Mitio Harada, Professor João Shimabukuro, Maurício Tibana, Daniel Reis, dentre outros, fundaram a Federação de Judô de MS - FJMS -, e a partir de então o crescimento foi grande, eis que atualmente há aproximadamente 4.500 crianças praticando judô em MS, ou seja, temos uma semente da melhor qualidade plantada há muitos e muitos anos, e agora estamos colhendo bons frutos, mas sempre cuidamos de todos os aspectos (disciplinar, cultural, lazer, espírito competitivo, lealdade, amizade e prosperidade mútua, dentre outros).

Assim, a partir do momento que uma instituição, fundada e comandada por homens sérios e capazes, propõe-se a executar o desenvolvimento contínuo, pleno e espetacular, a sociedade será direta e indiretamente atingida, favorecendo o crescimento de todos, com os mesmos princípios que utilizamos para educar cada criança que entra no tatame para a prática do judô. 

Certamente isso evita a prática de delitos e principalmente dos maus costumes, e dos vícios que estão a todo instante tentando seduzir nossos jovens (meninos e meninas) para afetar drasticamente a saúde física e mental. O Judô, a partir do momento que introduz conceitos e princípios na cabeça de cada jovem, contribui para uma sociedade mais justa  e humana, e também mais competitiva, mas sempre com lealdade e honestidade, e também preparada para os altos e baixos, típicos do capitalismo. 

Esporte Ágil: Como é poder organizar um evento do porte do Campeonato Brasileiro de Judô e estar à frente do estado campeão no quadro de medalhas?

Cesar Paschoal: Importante ressaltar que nos últimos dez (10) anos a FJMS realizou seis (6) campeonatos brasileiros de judô em Campo Grande-MS, sendo 2 brasileiros regionais (Centro-Oeste) e quatro brasileiros FINAIS (todos os Estados - categorias sub 13, sub 15, sub 18 e sub 21), e isso só foi possível porque o Professor João Rocha, que era e é o vice-presidente da Confederação Brasileira de Judô, fez um bom planejamento, trazendo para cá em 2007 o sub 18 (em que lutou e foi campeã brasileira a Sarah Menezes - atual campeã olímpica), depois o sub 13 e depois o sub 15, e nossas crianças (Layana, Larissa, Camila, Mariana, Gratychewa, Vinícius Farias, Yuri Lourenço, Ana Prates, Fauze Alle e outras), cresceram no Judô vendo esses eventos em Campo Grande. E o propósito era esse mesmo, mostrar para eles, de perto, o que era alto nível, para que aprendessem mais.

Nesses cinco eventos, coincidentemente eu estava na presidência da FJMS e o Prof. João nomeou-me coordenador geral de todos eles, e inclusive enviou-me para a Tunísia (norte da África) e no outro ano para Lyon - França - em etapa do circuito europeu de judô, justamente para aprender a organizar evento, tanto nacional quanto internacional. Somando-se a isso temos técnicos, árbitros e atletas que viajam constantemente para os países da América do sul, e quanto retornam trocam experiências com os que aqui ficaram, ou seja, em Mato Grosso do Sul todos têm noção de organização de eventos, e assim criamos uma forte equipe de trabalho.

Pedimos o brasileiro sub 21, justamente para contemplar essa geração de ouro, principalmente no feminino, que nos últimos cinco anos ganharam tudo que disputaram, e cresceram em aeroportos e viajando sempre para a América do sul e Europa, disputando etapas do circuito europeu, pela seleção brasileira. 

O presidente da FJMS atual é o Marcos Cristaldo, que neste início de ano teve problemas de saúde e me pediu para organizar esse brasileiro sub 21, diante de minha experiência, o que fiz com o maior prazer, mas sempre sob o comando dele, que participou de várias reuniões e definiu as nossas metas, como nosso líder que é. Assim, assumi a organização do evento juntamente com o departamento técnico da FJMS e Diretoria, e tudo que o nosso presidente pediu conseguimos realizar, pois a Federação de Judô é assim, tem um líder e uma equipe de trabalho pronta a assumir suas responsabilidades, ou seja, estamos preparados hoje para realizar eventos nacionais e internacionais em Mato Grosso do Sul. 

Esporte Ágil: Como foi o Brasileiro de Judô em Campo Grande-MS, de 16 a 18 de maio? E os efeitos disso para nossos atletas?

Cesar Paschoal: De 16 a 25 de maio de 2014, Campo Grande - MS foi a capital do judô de base do Brasil, sendo que de 16 a 18, realizamos o Campeonato Brasileiro sub 21 de judô, masculino e feminino, e por aqui competiram medalhistas em mundiais, pan-americanos, sul-americanos, brasileiros, circuito europeu, e atletas que disputam a seletiva olímpica para o RIO 2016. Enfim, os melhores do país vieram a Campo Grande, disputar a fase final do brasileiro de judô, e MS foi campeão geral, com 5 medalhas de ouro e 3 de bronze, seguido por RS, SP, MG e RJ. Na classificação por classes MS foi campeão no feminino, com 4 ouros e 2 bronzes, seguindo por SP, RJ, MG e RS, e no masculino MS foi quarto lugar, com 1 medalha de ouro e 1 de bronze.

Com a medalha de ouro, cada atleta somou 160 pontos no ranking nacional, sendo certo que o primeiro do Ranking irá disputar o Campeonato Mundial sub 21, em Miami-EUA e o Pan-americano sub 21, em El Salvador, neste ano, e já temos classificada a atleta Larissa Farias, e estão próximos da classificação Camila Gebara, layana Colman, Iuri Lourenço e Mariana Veiga, todos campeões brasileiros em Campo Grande.

Estavam presentes o presidente da CBJ Prof. Paulo Wanderley Teixeira (ES) e o Vice-Presidente Prof. João Rocha (MS), além dos técnicos da seleção brasileira de base, incluindo Douglas Vieira, que foi medalhista de prata nas Olimpíadas de Los Angeles-EUA- em 1984, além dos presidentes das federações do RJ, MT e DF.

Esporte Ágil: Além do Brasileiro, nesta semana tivemos o treinamento internacional de judô em nosso Estado? Como foi isso? E o legado disso? 

Cesar Paschoal: Terminado o brasileiro de judô, montou-se a área de treinamento num hotel distante 20 km de campo grande, e lá se iniciou um segundo e sucessivo evento: um evento internacional, com a participação de 6 países: BRASIL, ESTADOS UNIDOS, JAPÃO, FRANÇA, ITÁLIA E PORTO RICO. Para tanto, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ), trouxe para cá os técnicos da seleção brasileira de base, médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, staff organizacional e administrativo, e juntamente com os técnicos dos demais países, incluindo os professores de MS, foi realizado o "maior treinamento de judô" de nosso país, com mais de 320 atletas, numa área aproximadamente 700 m². Foi um sucesso, e campo grande pode entrar para o circuito de treinamento oficial das seleções de base, para os próximos anos.

Essa geração que treinou em Campo Grande certamente será aquela que estará nas Olimpíadas de Tóquio (2020) e em 2024, e a nossa esperança é que atletas de Mato Grosso do Sul estejam representando o nosso país, elevando o nível para as Olimpíadas, que é um sonho planejado.

Para finalizar, além de todo ganho técnico e competitivo que nossos atletas, técnicos, fisioterapeutas e árbitros ganharam com os eventos nos últimos dias, o legado material também é de suma importância para nosso desenvolvimento técnico, e só temos a agradecer para o Ministério do Esporte e para a Confederação Brasileira de Judô, pois toda a estrutura de competição utilizada no brasileiro e no treinamento internacional ficará em Campo Grande - MS, para nosso uso, definitivamente. São 300 peças de tatame na mesma qualidade aos usados nas olimpíadas e placares eletrônicos, computadores, etc.. 

Temos hoje sete (7) atletas na seleção brasileira de base, que vão para a Europa (próxima quarta feira - 28/05/14 - as atletas Larissa Farias, Mariana Veiga e Camila Gebara vão para a Áustria - em Leibnitz - disputar etapa do circuito Europeu), a atleta Layana Colman vai para a China, disputar as Olimpíadas Estudantis, evento de altíssimo nível, e que no nível escolar é o maior evento do mundo. Temos um fisioterapeuta de MS, Gabriel Bogalho, que está na seleção principal de judô, e que este ano já foi para a Rússia, e lá ficou por 15 dias. Técnicos que serão convocados para a seleção de base, diante da classificação dessas atletas para os eventos internacionais. Enfim, temos o que comemorar, mas também muito trabalho para manter este nível e melhorar o desempenho de cada um.

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